As jornadas parlamentares do Bloco de Esquerda puseram nos carris a sua preocupação com as alterações climáticas, mas na hora das propostas legislativas saídas do encontro, que na segunda e na terça-feira levaram os deputados do partido ao distrito de Aveiro, o que ficou foram dois pacotes legislativos que não se relacionam com o tema..O líder da bancada do BE, Pedro Filipe Soares, já tinha avisado de que assim seria. No primeiro dia, junto à estação de comboios de Espinho-Vouga, o deputado recordou as iniciativas que os bloquistas já levaram à Assembleia da República, em matéria de mobilidade ferroviária. Na visita às escombreiras de Pedorido que ardem há ano e meio, também a coordenadora do partido, Catarina Martins, recordou que o BE já tinha feito perguntas sobre este fogo subterrâneo que lança fumo e cinzas para o ar nas proximidades das minas do Pejão (Castelo de Paiva)..A viagem no Vouguinha, logo na abertura destas jornadas, e a visita a Castelo de Paiva foram então momentos para mostrar (e denunciar) ao país aquilo que, na perspetiva do BE, está mal - e aquilo em que o governo socialista devia fazer mais..Os dois dias nas ruas do distrito de Aveiro foram também de antecipação dos próximos meses de pré-campanha eleitoral, num ano em que há eleições europeias em maio, regionais na Madeira em setembro e legislativas em outubro..No primeiro dia, o mais intenso do programa destas jornadas, Catarina Martins e os outros 18 deputados do partido embarcaram no comboio, percorreram a feira de Espinho em registo de elogios e distribuição de campanha, e à noite receberam, num jantar com cerca de 350 pessoas, em Santa Maria da Feira, a eurodeputada Marisa Matias..No discurso da candidata cabeça-de-lista para Bruxelas, o PS foi mais uma vez o alvo. Na feira de Espinho, a coordenadora bloquista ironizou com o facto de o programa de investimentos "ter servido para ligar PS e PSD mas não serviu para ligar o país pela ferrovia"..Marisa Matias lembrou as promessas não cumpridas do ministro Pedro Marques (e eventual candidato n.º 1 pelo PS) na reativação do ramal da Lousã. "Não é uma promessa de António Costa para 2025 que vai resolver o problema do Vouguinha. 2025 é daqui a dois governos e é preciso ser muito otimista", atirou..E, nesta terça-feira, Pedro Filipe Soares desafiou os partidos parlamentares à esquerda, PS incluído, a manterem a redução progressiva do valor das propinas do ensino superior público, nos próximos anos..É verdade que, em todas as oportunidades, houve remoques à direita: Catarina Martins lembrou o tempo em que "PSD, PS e CDS" andaram a negociar com Nicolás Maduro, para os acusar de só agora retirarem o tapete ao presidente venezuelano, sob a capa dos direitos humanos, quando o Bloco desde "há muito" critica a "deriva autoritária" do regime de Caracas. "Nem Maduro nem Guaidó", apontou Catarina. "Nem Trump nem Bolsonaro, o Bloco de Esquerda está ao lado de Guterres e das Nações Unidas", acrescentou Marisa Matias..Nesta terça-feira, noutra matéria, foi Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do BE, quem atacou de forma particular a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, que foi dirigente do PSD de Passos Coelho. "Do nosso ponto de vista, a senhora bastonária [da Ordem dos Enfermeiros] tem exacerbado algumas das suas funções e por vezes põe-se no papel de negociadora dos sindicatos, algo que claramente não lhe compete", criticou Pedro Filipe Soares..Para já, o BE avança com iniciativas legislativas no campo do acesso ao ensino superior público e para a criação de um imposto que financie a comunicação social, através de assinaturas pagas para estudantes, e da reposição do porte pago.