Um relatório recente da Agência Internacional de Energia chamava a atenção para um enorme aumento em 2018 das emissões de gases de estufa. Uma variação crescente de 1,7% em relação a 2017, o que corresponde às emissões de todo o setor da aviação durante o ano anterior! No ano passado, a procura mundial por energia cresceu 2,3%, essencialmente no setor dos combustíveis fósseis, apesar de tudo o que já se avançou nas renováveis. Há três semanas, o Programa das Nações Unidas para o Ambiente atualizou as informações sobre o Ártico, uma das zonas geoclimáticas mais atingidas pelos impactos da crescente concentração de gases de efeito de estufa na atmosfera. Foi comprovado que a temperatura revela aí um aumento duas vezes superior à média mundial. Mais ainda, esse aquecimento está a precipitar o derretimento do permafrost, ou tundra, o que constitui uma das mais temíveis retroações positivas (efeitos que ampliam as suas causas). Na verdade, a tundra, ao derreter-se, não só instabiliza todas as estruturas humanas nela construídas (estradas, pontes, fábricas, povoações, etc.) como liberta enormes quantidades de carbono e metano, que vão intensificar ainda mais a velocidade e intensidade das alterações climáticas em curso. Isso, inclui, a já comprovada aceleração do ritmo de subida do nível médio do mar (NMM), que se elevou 23 centímetros desde 1880..Misteriosamente, este tema - que deveria servir como poderoso e mobilizador alerta para uma ação coordenada à escala planetária - tem uma atenção marginal por parte tanto dos decisores económicos e políticos como da opinião pública e publicada. O que nos prende a atenção mediática é o estado do crescimento económico. Quando este diminuiu, as bolsas, os governos e as famílias entram em pânico. Esta é a imagem dececionante de uma civilização que quer expandir-se para o cosmo e inventar o Outro na figura da inteligência artificial (IA), mas que não é capaz de resolver a contradição existencial entre a economia no curto prazo e a ecologia estrutural, que é a condição fundamental de sobrevivência histórica da humanidade. Há mais de quarenta anos que sabemos ser obrigatória uma rápida transição para uma economia sustentável e simbiótica com o ambiente, ao contrário do atual modelo extrativista e predatório. Quando o economista Nicholas Stern classificou, em 2006, as alterações climáticas "como a maior falha de mercado da história", faltou esclarecer um aspeto crucial. A economia de mercado é hedonista, totalmente dominada pelo princípio do prazer na sua forma mais grosseira, precisando de ser domesticada pelo princípio da realidade e pela visão estratégica. Foi para isso que inventámos as democracias representativas, acreditando que seriam capazes de condensar em políticas públicas o imenso manancial de conhecimento que se encontra disperso nas pessoas e sociedades. Na verdade, a crise ambiental e climática é a crise da democracia. Pelo atual e patético caminho, a sua esperança de vida poderá ser menor do que o pandemónio que se recusou a combater.
Um relatório recente da Agência Internacional de Energia chamava a atenção para um enorme aumento em 2018 das emissões de gases de estufa. Uma variação crescente de 1,7% em relação a 2017, o que corresponde às emissões de todo o setor da aviação durante o ano anterior! No ano passado, a procura mundial por energia cresceu 2,3%, essencialmente no setor dos combustíveis fósseis, apesar de tudo o que já se avançou nas renováveis. Há três semanas, o Programa das Nações Unidas para o Ambiente atualizou as informações sobre o Ártico, uma das zonas geoclimáticas mais atingidas pelos impactos da crescente concentração de gases de efeito de estufa na atmosfera. Foi comprovado que a temperatura revela aí um aumento duas vezes superior à média mundial. Mais ainda, esse aquecimento está a precipitar o derretimento do permafrost, ou tundra, o que constitui uma das mais temíveis retroações positivas (efeitos que ampliam as suas causas). Na verdade, a tundra, ao derreter-se, não só instabiliza todas as estruturas humanas nela construídas (estradas, pontes, fábricas, povoações, etc.) como liberta enormes quantidades de carbono e metano, que vão intensificar ainda mais a velocidade e intensidade das alterações climáticas em curso. Isso, inclui, a já comprovada aceleração do ritmo de subida do nível médio do mar (NMM), que se elevou 23 centímetros desde 1880..Misteriosamente, este tema - que deveria servir como poderoso e mobilizador alerta para uma ação coordenada à escala planetária - tem uma atenção marginal por parte tanto dos decisores económicos e políticos como da opinião pública e publicada. O que nos prende a atenção mediática é o estado do crescimento económico. Quando este diminuiu, as bolsas, os governos e as famílias entram em pânico. Esta é a imagem dececionante de uma civilização que quer expandir-se para o cosmo e inventar o Outro na figura da inteligência artificial (IA), mas que não é capaz de resolver a contradição existencial entre a economia no curto prazo e a ecologia estrutural, que é a condição fundamental de sobrevivência histórica da humanidade. Há mais de quarenta anos que sabemos ser obrigatória uma rápida transição para uma economia sustentável e simbiótica com o ambiente, ao contrário do atual modelo extrativista e predatório. Quando o economista Nicholas Stern classificou, em 2006, as alterações climáticas "como a maior falha de mercado da história", faltou esclarecer um aspeto crucial. A economia de mercado é hedonista, totalmente dominada pelo princípio do prazer na sua forma mais grosseira, precisando de ser domesticada pelo princípio da realidade e pela visão estratégica. Foi para isso que inventámos as democracias representativas, acreditando que seriam capazes de condensar em políticas públicas o imenso manancial de conhecimento que se encontra disperso nas pessoas e sociedades. Na verdade, a crise ambiental e climática é a crise da democracia. Pelo atual e patético caminho, a sua esperança de vida poderá ser menor do que o pandemónio que se recusou a combater.