Até o céu de Damasco se ter enchido com as cinzas da guerra, Maysa era cabeleireira. Um dia, os sonhos enegreceram com o novo teto da capital da Síria e a solução foi fugir. Para Aleppo, inicialmente, carregando a família inteira consigo - marido e três filhos. Dali, rumou até à Turquia. Depois, até à Grécia, onde ficaram durante dez meses num centro de acolhimento. O destino final seria Portugal, onde chegou já há cerca de dois anos, através do mecanismo europeu de recolocação de refugiados, com uma nova filha na barriga..Enquanto a vida desafiava a sorte, Benedita Contreras, 25 anos, aluna de mestrado na Nova School of Business and Economics (Nova SBE), desenhava uma solução para mulheres como Maysa a partir da sala de aula. Encontraram-se pouco depois de a refugiada ter pousado os pés em Portugal, para aliar o conhecimento à vontade de mudar o mundo. É um dos vários projetos nascidos nos programas de impacto social da faculdade e que ganhou vida fora dela..A semente foi lançada na unidade curricular de Empreendedorismo Social, na qual foi proposto a cada aluno que utilizasse os conceitos da cadeira "num problema real". Não muitas semanas antes, Benedita "tinha conhecido uma família síria em Portugal" através da qual ficou a saber do papel ostracizado que as mulheres sírias têm no mercado de trabalho. "O normal é o homem assumir as despesas, mas em Portugal ter só o homem a trabalhar não é suficiente para sustentar a família." O caminho da consciencialização à projeção de uma solução correu à velocidade da luz. Benedita idealizou, com outros colegas, a Amal: uma microempresa de confeção de sabonetes (100% naturais, manufaturados com azeite e óleo de louro - a receita do antigo sabão de Aleppo, uma das indústrias mais antigas da Síria) que emprega mulheres sírias refugiadas em Portugal. Uma ideia que nasce da esperança - afinal é esse o significa em árabe de "amal", a palavra que deu nome ao projeto - de ver a vida mudar para elas.."Lançámos uma campanha de crowdfunding para iniciar os testes. Correu bem e começámos a comprar ingredientes, a testar e a falhar." Colher por colher, ao lado de Maysa e de uma outra refugiada, que entretanto abandonou o projeto "porque o marido não aceitou bem o facto de ela trabalhar", conta Benedita..Todo o processo tem sido um caminho feito de surpresas. "Não sabíamos muito sobre sabonetes e apercebemo-nos de que era um produto bastante regulado", recorda. Todos os novos produtos têm de receber uma certificação do Infarmed, "que está agora em conclusão". Para já, as vendas ainda são feitas numa escala muito pequena, apenas circulando entre amigos e familiares. Dentro de meses, Benedita espera voltar a mudar a vida de mais mulheres..Não é a única. A coordenadora do departamento de Impacto Social da Nova SBE diz, aliás, que a vontade de mudar o mundo é a imagem de marca das novas gerações. "Já há estudos que dizem que os estudantes de hoje estão mais interessados em fazer parte da comunidade do que em casar-se e ter filhos", conta Mariana Baptista. "Por isso é que temos de dar resposta à sua procura, aliando as capacidades profissionais ao impacto social que podem concretizar com elas.".1% de (in)capacidade.Bernardo tinha apenas 3 anos quando começou a mudar a vida das pessoas à sua volta. Não vê, não fala, não anda e foi mesmo diagnosticado com 99% de incapacidade. Mas nada disto foi limitador na decisão que Rui Diniz, economista e atual administrador da José de Mello Saúde, tomou ao querer tornar-se seu pai adotivo. Mesmo já com uma casa cheia, onde vivia com a mulher e os outros quatro filhos, aceitou o desafio de acolher Bernardo há cinco anos, consciente das dificuldades que ele e a família encontrariam pelo caminho. Este encontro feliz deu-lhes a coragem para criar, em 2017, o Inclusive Community Forum (ICF), um programa que faz a ligação entre pessoas com qualquer tipo de deficiência e as empresas..A história ecoou até às salas de aula da Nova SBE, a faculdade que aceitou acolher o desafio. Durante ciclos de três semestres, a equipa do ICF dedica-se a temas distintos relacionados com a deficiência. O primeiro e único até agora foi a empregabilidade destas pessoas, "um dos maiores obstáculos que encontram na comunidade", explica Maria Castro e Almeida, consultora do projeto. Em Portugal, existem cerca de 1,9 milhões de pessoas com incapacidade e os mais recentes Census dão conta de que 28,8% destes estão no desemprego. "Por culpa das próprias pessoas portadoras de deficiência, das empresas e do mercado", diz..Se por um lado "há uma falta de predisposição das pessoas, porque foram fazendo estágio sobre estágio sem perspetiva de futuro", por outro as empresas têm uma "grande falta de sensibilização" e o mercado "tem uma grande falta de mecanismos para ligá-los entre si". "Não há nada que permita, com uma certa escala, fazer o encontro entre a oferta e a procura. Porque, normalmente, quem coloca as pessoas com deficiência no mercado de trabalho são as instituições particulares de solidariedade social (IPSS), formando-as e capacitando-as. O que acontece é que as pessoas chegam a uma determinada idade em que precisam de ir trabalhar e as instituições já não têm vocação e meios para os ajudar", esclarece Maria Castro e Almeida..O que o ICF faz é facilitar este encontro, desafiando as empresas de recrutamento a considerarem currículos de pessoas com deficiência, "coisa que não acontecia até agora", garante a consultora. Mas a mudança começa também nas próprias estruturas empresariais. Até à data, 24 empresas já assinaram um compromisso para a inclusão, "uma demonstração pública do interesse na contratação de pessoas com deficiência"..Tudo isto feito com o apoio de jovens estudantes da Nova SBE. "Para incentivar estas pessoas a procurar e a encontrar emprego, o ICF criou o programa Peer to Peer (Par a Par), através do qual um aluno é emparelhado com uma pessoa com incapacidade e, juntos, passam pelo processo de recrutamento", desde a criação de um currículo, candidaturas a vagas de emprego e preparação de entrevistas..O plano Impact Experience, da Nova SBE, alberga todas estas iniciativas e tornou-se uma das imagens da casa. Ao longo de todo o ano, os estudantes da instituição podem optar por fazer voluntariado nas mais diversas instituições do distrito de Lisboa ou até mesmo dar uso às ferramentas profissionais para ajudar organizações. A Nova Social Consulting, por exemplo, dá a oportunidade aos alunos de prestarem serviços de consultoria a instituições de carácter social que estejam com dificuldades de sustentabilidade. Atualmente, há 50 alunos membros - entre os quais, 44 de mestrado, seis de licenciatura, de oito nacionalidades distintas - dedicados a dez projetos..Preparar um futuro mais verde.Pensar em comunidade é preparar um futuro mais sustentável para as gerações que se seguem. Pelo menos, este tem sido também um dos lemas transmitidos pela Nova SBE, que além dos programas sociais criou outros de carácter ambiental..Através do Environmental Economics Knowledge Center, os universitários e futuros economistas produzem investigação multidisciplinar em cooperação com cientistas ambientais. Porque até quando as contas são feitas é preciso pensar nos custos para o clima. Por isso, o que resulta deste projeto serve para apoiar a tomada de decisão nos setores público e privado..Em casa, dá-se o exemplo. Desde que se mudou para o campus de Carcavelos, a Nova SBE adotou compromissos ambientais, entre os quais a eliminação de plásticos descartáveis e a separação de resíduos orgânicos..Novos vizinhos, de Lisboa para Cascais.Há um ano, o antigo convento de Campolide, em Lisboa, que durante anos acolheu a antes designada Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (atual Nova School of Business and Economics) esvaziava, ao mesmo tempo que Carcavelos recebia a sua primeira faculdade. Mas as mudanças não ficam por aqui..Segundo fonte da reitoria da Nova de Lisboa, quer a Faculdade de Direito quer a Faculdade de Ciências Médicas deverão mudar-se também para Cascais, embora não no mesmo edifício onde funciona a Nova SBE. A falta de espaço para o crescente número de alunos está na base da decisão, embora ainda não haja datas previstas para a deslocação..Por outro lado, o polo de Campolide irá receber a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, cujo terreno atual será vendido.