Portugal não tem mais mistérios na sua história do que os restantes países do mundo, mas os que 14 episódios que a historiadora Fátima Mariano escolheu para o seu livro Grandes Mistérios da História de Portugal confirmam que há muito para revelar. Segundo a autora, "todos os países têm na sua história episódios mais ou menos misteriosos, intrigantes, não resolvidos e curiosos; não é um exclusivo português", no entanto os leitores são confrontados a partir de hoje - dia em que o livro chega às livrarias - com factos quase desconhecidos..É o caso da mulher com visão raio X que inspirou a mítica personagem Blimunda de José Saramago ou do desaparecimento misterioso do navio Angoche em 1971, dois entre outros mistérios a que a historiadora se propôs deslindar. No caso do Angoche, Fátima Mariano tentou encontrar depoimentos de contemporâneos mas o silêncio manteve-se: "O mistério do Angoche dava, por si só, um ou mais livros. Se se tivesse passado nos EUA, provavelmente já teria sido realizado um filme ou uma série sobre o caso.".Considera que há mais episódios misteriosos da nossa história que merecem atenção, mas a "dificuldade muitas vezes reside na ausência de fontes ou de informação suficiente que permita escrever um capítulo com alguma substância". No entanto, está certa de que estas histórias que escolheu vão surpreender os leitores por um ou outro motivo: "Mesmo aquelas que possam estar mais presente na memória dos leitores, como a de D. Sebastião, pois tem pormenores menos conhecidos.".Refere que são estórias e não histórias. Porquê? Porque embora tenha feito investigação histórica, os capítulos estão escritos num estilo e numa linguagem mais jornalística do que científica, de modo a prender a atenção do leitor do princípio ao fim. Como se fosse uma narrativa de ficção, não o sendo..Ficou algum episódio de fora que gostasse de ter publicado? Numa primeira fase, elaborei uma lista de episódios sobre os quais já tinha ouvido falar ou lido ou que me foram indicados por colegas e amigos. À medida que fui desenvolvendo a investigação, eliminei alguns e acrescentei outros, por serem mais interessantes ou por haver mais informação disponível sobre os mesmos. Há pelo menos dois que gostaria de ter incluído, mas que não foi possível. Quem sabe num próximo volume?.Considera que com esta investigação ficam definitivamente solucionados estes mistérios? Não, de todo. Não era intenção do livro solucionar os mistérios, mas sim trazê-los ao conhecimento do grande público. Há situações em que as fontes existentes são contraditórias entre si ou não permitem chegar a uma conclusão, como, por exemplo, sobre o que aconteceu ao cadáver de D. Sancho II, sepultado na Catedral de Toledo..Qual foi o mistério que mais a seduziu e o que poderá seduzir os leitores? Acredito que o do cargueiro-fantasma cuja tripulação desapareceu misteriosamente em 1973 quando viajava entre Nacala e Porto Amélia, em Moçambique, pelo facto de ainda estar cronologicamente muito próximo de nós e de ter ocorrido no período da Guerra Colonial..Nota-se uma paridade de géneros nos protagonistas dos capítulos. Foi intencional? Não tinha sequer reparado nesse aspeto. Embora não tenha sido intencional esse equilíbrio entre os géneros, desde o início, foi, para mim, um ponto assente de que alguns dos capítulos teriam de ter mulheres como protagonistas. É muito importante resgatar as figuras femininas da nossa história da obscuridade em que ainda se encontram. Há também um episódio em que o protagonista é um animal. O protagonismo dos animais na história é uma área ainda pouco explorada em Portugal..Quando um habitante de Aveiro, ou um visitante, olhar para a placa que indica a Rua Antónia Rodrigues (página 95) após ler este livro irá olhar para a toponímia nacional de outro modo? Acredito que sim. A história da Antónia Rodrigues, que eu desconhecia de todo, foi das que mais me apaixonou. Espero que depois de a lerem, os habitantes e os visitantes de Aveiro olhem para a cidade de uma outra forma. E passem a questionar-se mais sobre o porquê da atribuição de determinado nome a uma rua. Quem sabe se não descobrem outras estórias como a da Antónia Rodrigues?.Grandes Mistérios da História de Portugal.Fátima Mariano.Editora Contraponto.224 páginas