Profissões sem teletrabalho mais vulneráveis ao desemprego

O trabalho à distância foi mais utilizado por trabalhadores das tecnologias, da banca e por professores. Hoje o teletrabalho obrigatório regressa a 121 ​​​​​​​concelhos de risco elevado.
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Os trabalhadores que não têm hipótese de trabalhar a partir de casa são os mais vulneráveis a ficarem no desemprego. A conclusão surge num estudo do Banco de Portugal (BdP) sobre a utilização do teletrabalho no primeiro semestre deste ano, num período que abrange o pico do confinamento nos meses e março e abril.

"Como seria expectável numa situação de confinamento e distanciamento social, as maiores reduções do emprego registaram-se em profissões com menor utilização de teletrabalho", referem as investigadoras Sónia Cabral e Ana Catarina Pimenta, sublinhando que "a possibilidade de trabalhar remotamente contribuiu para minimizar perdas de emprego".

As autoras do estudo publicado com o Boletim Económico do BdP chegam a esta conclusão tendo em conta "a taxa de variação homóloga do emprego por profissão em função da proporção de indivíduos a trabalhar remotamente em cada profissão", com base no inquérito ao emprego do Instituto Nacional de Estatística (INE).

Mas a análise sugere ainda que as desigualdades podem aumentar com a pandemia, uma vez que "as profissões com menores qualificações e de menores rendimentos" são menos propensas a trabalhar à distância. Mesmo que as medidas de apoio ao rendimento possam "mitigar" este efeito, reconhecem as investigadoras.

Por exemplo, quase 92% dos trabalhadores ligados ao setor das tecnologias de informação estiveram em teletrabalho e o emprego aumentou 19,5% face ao segundo trimestre do ano passado. No lado oposto estão os trabalhadores de montagem: apenas 0,9% ficaram em teletrabalho, com uma destruição de empregos de 27,4%.

Não é, por isso, estranho que o estudo do Banco de Portugal tenha encontrado uma forte relação entre as qualificações e o trabalho à distância.

"Nos indivíduos com escolaridade inferior ao ensino secundário, a parcela em teletrabalho foi de 6,5% no segundo trimestre do ano", referem as autoras, acrescentando que "esta proporção aumenta para 22,4% nos indivíduos com ensino secundário e para 62,0% nos indivíduos com ensino superior."

Mas também foram os mais qualificados aqueles que ficaram mais tempo a trabalhar a partir de casa. "Cerca de metade dos trabalhadores com ensino superior executaram a sua profissão remotamente durante 14 ou mais dias", refere o estudo que acompanha o Boletim Económico do Banco de Portugal.

Entre os meses de abril e junho estiveram em teletrabalho 1,316 milhões de pessoas, representando 27,8% da população empregada, um aumento de 10,6 pontos percentuais (pp) face aos três meses anteriores e de 12 pp comparando com o mesmo período do ano passado. E, destes, 21,4% (mais de um milhão) ficaram em casa mais do que duas semanas. Mas quem são estes trabalhadores e qual a profissão?

O estudo do banco central nacional com base nos dados do INE faz a caracterização destes trabalhadores e dos setores onde se encontram.

"Os setores do alojamento e restauração, da construção, o setor primário e os setores da indústria transformadora e da saúde registaram as menores percentagens de teletrabalho relativamente ao emprego total do setor", indicam as investigadoras.

"Já os setores das atividades de informação e comunicação, financeiras, da educação, consultoria, técnicas e científicas apresentaram percentagens de utilização do teletrabalho superiores a 60%", acrescenta o estudo.

A partir desta quarta-feira, cerca de 70% da população portuguesa passa a ter regras mais apertadas em 121 concelhos do país, considerados de risco elevado na transmissão da covid-19, numa espécie de semiconfinamento. Nestes territórios, foram registados 240 novos casos da doença por cada cem mil habitantes nos últimos 14 dias. O teletrabalho volta a ser obrigatório nestes municípios durante pelo menos 15 dias.

Paulo Ribeiro Pinto é jornalista do Dinheiro Vivo

Diário de Notícias
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