EV-50-03. Carlos Barbosa, presidente do ACP - Automóvel Clube de Portugal, ainda hoje se lembra da matrícula do seu primeiro carro: um Honda 360 que comprou "em 1968 ou 1969". De então para cá, já perdeu a conta ao número de matrículas que teve de fixar, com combinações diferentes de números e letras. O próximo carro que comprar terá uma matrícula com o novo sistema - duas letras, dois algarismos, duas letras, que começou a ser atribuído nesta semana e que substitui a anterior sequência de dois algarismos, duas letras, dois algarismos.."Este é o único sistema possível. A máquina não faz outro. Só tem possibilidade de fazer matrículas com seis dígitos entre letras e números, por isso não se pode inventar muito", comenta Carlos Barbosa, sublinhando, no entanto, que há países, como os Estados Unidos ou o Reino Unido, onde o sistema é muito diferente: "As pessoas quando compram o seu primeiro carro escolhem a matrícula que querem, que pode ser um nome ou um número ou uma combinação, desde que essa matrícula ainda não tenha sido registada. Depois, quando mudam de carro mantêm a matrícula, basta informar as autoridades." Ou seja, a matrícula pertenceria a cada pessoa e não a cada veículo.."Qualquer um dos dois sistemas funciona", mas este talvez fosse mais fácil porque "teríamos uma matrícula para toda a vida". Seria como o nosso número de identidade ou das finanças, um só número para decorar. E também, diz Carlos Barbosa, talvez fosse mais barato e desse menos trabalho ao Estado..Todos os veículos motorizados que circulem na via pública têm de ter uma licença de circulação a que corresponde um número de identificação ou matrícula, afixado em local visível no veículo. As primeiras matrículas portuguesas foram emitidas em 1901, mas só em 1911 foi criado um sistema nacional. Mas as matrículas têm mudado muito ao longo do tempo..matrículas Infogram.As primeiras matrículas.As primeiras placas de matrículas terão sido emitidas pela polícia de Paris, França, em 1893. O primeiro país a introduzir placas de identificação a nível nacional terá sido os Países Baixos em 1898: eram simples chapas com um número, a começar pelo um. Quando o sistema de numeração foi alterado, em 1906, a última placa emitida tinha o número 2065..Em Portugal, pelo menos desde o início do século XX, começaram a ser emitidas as primeiras matrículas pelos governos civis dos vários distritos. O decreto de 3 de outubro de 1901 estabelecia a obrigatoriedade de todos os automóveis trazerem, na sua parte posterior, uma chapa metálica com a inscrição em caracteres bem visíveis do número da licença e da sede de distrito em que foi concedida. Por exemplo, se a licença fosse emitida em Lisboa, a matrícula seria qualquer coisa como "LISBOA 123" ou "LXA.234"..Com o aumento de veículos a circular, em 1911 tornou-se necessário criar um sistema de matrículas padronizado a nível nacional. Para tal, o país foi dividido em três zonas de registo (norte, centro e sul) e a cada uma foi atribuída uma sequência constituída por uma letra e um número de série. As sequências eram N-000 (para o norte), C-000 (centro) e S-000 (sul). As chapas também eram padronizadas, com fundo preto e caracteres brancos. Em 1918 foram criadas as zonas de registo dos Açores e da Madeira, sendo-lhes atribuídas as sequências A-000 e M-000, respetivamente..1936: o sistema moderno.Apesar de este sistema funcionar, em 1936 já havia tantos automóveis a circular que na zona sul (onde se incluía Lisboa) o número de série já tinha cinco dígitos, o que dificultava uma rápida identificação das viaturas pelos agentes da autoridade..Assim, a 1 de janeiro de 1937 entrou em vigor um novo sistema com matrículas compostas por três grupos de dois dígitos de caracteres separados por traços - que é o que acontece ainda hoje. No início a matrícula tinha letras-números-números. Por exemplo: AA-00-00..Foi mantida a divisão das matrículas por zonas: a zona de Lisboa (sul) ficou com as matrículas de AA a LZ, a zona do Porto (norte) tinha as placas MA a TZ e a zona de Coimbra (centro) ficou com as chapas UA a ZZ. As chapas continuaram a ter o fundo preto com caracteres a branco em relevo, com exceção dos veículos diplomáticos ou em importação temporária. Os automóveis registados pelo sistema de 1911 foram obrigados a mudar para o novo através da atribuição de séries de matrículas específicas de acordo com a matrícula anterior..Por razões de "decência" foi interdito o uso dos grupos de letras CU e FD. Também não foi autorizado o uso das letras Q e J, por se confundirem respetivamente com O e com I. Nos Açores e na Madeira o novo sistema só foi introduzido em 1962..1992: o padrão europeu.No início da década de 1980 decidiu-se acabar com as séries por zonas e os veículos passaram a ser matriculados sequencialmente a nível nacional. Apesar disso, a série referente a Lisboa (AA) já começava a esgotar-se. Para adiar esse fim foi autorizada a utilização das combinações CU e FD e das letras Q e J. E, a partir de 1985, os veículos diplomáticos passaram a ter uma sequenciação diferente..Finalmente, em 1992, passou a ser utilizada uma nova sequência, agora com dois algarismos, mais dois algarismos e duas letras (00-00-AA). A nova placa era metálica com fundo branco refletor e os caracteres passaram a ser inscritos a negro. As novas matrículas também passaram a ter a "eurobanda" - uma barra azul com o emblema da então Comunidade Europeia e com a letra P que identificava Portugal..Em 1998 foi introduzida uma barra amarela, do lado direito da chapa de matrícula, com a indicação do mês e ano do veículo..Em 2005, essa sequenciação chegou ao fim e foi substituída por aquela que usamos até agora, com dois algarismos, duas letras e dois algarismos (00-AA-00). Este é o modelo usado pelos veículos regulares, existindo matrículas diferentes para motociclos, para reboques e para veículos do corpo diplomático, das forças de segurança e outros casos excecionais previstos na lei. De 2005 até fevereiro deste ano foram emitidas mais de cinco milhões de matrículas com esta sequência..E daqui para a frente?.Pela primeira vez, as matrículas portuguesas vão ter mais letras do que números. A nova sequência é: duas letras, dois algarismos, duas letras (AA 00 AA)..De acordo com o IMT - Instituto da Mobilidade e dos Transportes, "com o novo formato passa a ser utilizado um novo modelo para todas as novas matrículas, sem a inclusão do ano e do mês da primeira matrícula do veículo". São também eliminados em todos os modelos de chapas de matrícula os traços separadores de grupos de caracteres, mantendo-se, no entanto, um espaçamento entre cada grupo de caracteres..Conforme explica o instituto, "o ano e o mês da matrícula são elementos que não fazem parte do número da matrícula dos veículos e não são um elemento relevante para a sua identificação, sendo Portugal o único país dos 28 Estados membros da União Europeia que apresentava estes elementos na respetiva chapa de matrícula". "Esta situação era geradora de más interpretações, dado o referido espaço ser utilizado em muitos países para indicar a data de validade do número da matrícula e não o ano e mês da primeira matrícula do veículo", esclarece..Fazendo uma estimativa do número de novos carros que são postos a circular todos os anos, o IMT prevê que esta nova sequência dure por 45 anos. "Se o governo continuar a aumentar os impostos até pode durar cem anos", brinca Carlos Barbosa, aproveitando para dar uma alfinetada política. Seja como for, o mais certo é daqui a menos de 50 anos estarmos a pensar num novo sistema de matrículas.