O quase mea culpa de Costa
Ao longo dos últimos quatro anos tem sido cada vez mais evidente a degradação do Serviço Nacional de Saúde. As cativações e a falta de investimento foram tónicas dominantes do governo liderado por António Costa. Listas de espera para consultas, exames e cirurgias, falta de medicamentos nas unidades de saúde, o aumento brutal das dívidas do setor, e, curiosamente, tudo isto coincidiu com o período mais lucrativo de sempre para as empresas privadas do setor da Saúde.
A realidade começou a impor-se à ficção e finalmente António Costa na mensagem de Natal de 2019 vem reconhecer os graves problemas que até então parecia ignorar e que constituem uma das principais preocupações dos portugueses. Aproveitou o primeiro-ministro, ainda assim, para algumas tiradas propagandísticas como a promessa de em 2020 haver o maior reforço de sempre no orçamento inicial da Saúde.
O que António Costa deliberadamente se esqueceu de dizer é que o investimento de mais de 800 milhões de euros previstos para 2020 para corrigir a suborçamentação do setor não chegará sequer para pagar as dívidas vencidas e acumuladas nos últimos anos.
O que António Costa se esqueceu de dizer é que o Orçamento do Estado para 2019, ano eleitoral, e as sucessivas promessas de reforços revelaram ser manifestamente insuficientes, apresentando já em outubro um défice face àquilo que tinha sido orçamentado superior a 500 milhões de euros.
O que António Costa se esqueceu de dizer é que o reforço de 800 milhões de euros agora prometido compara com aquilo que estava orçamentado e não com o que foi efetivamente executado em 2019.
O que António Costa se esqueceu também de dizer é que a garantia dada pela ministra da Saúde de que todos os portugueses em listas de espera para consultas e cirurgias há mais de um ano teriam essa situação resolvida até ao final de 2019 não foi de todo cumprida.
Continuamos a ter hospitais a acumular dívida, superior a dois milhões de euros por dia, continuamos a ter listas de espera a crescer para consultas, cirurgias e para exames complementares.
António Costa podia ter escolhido um dos muitos serviços de urgência que atravessam momentos difíceis com o pico da crise, mas optou por escolher como local de cenário para a sua mensagem de Natal uma unidade de saúde familiar sem doentes.
Aquele que poderia muito bem ser um pedido de desculpas, um mea culpa, da situação dramática em que colocaram o Serviço Nacional de Saúde nos últimos anos foi afinal e apenas um número de teatro do primeiro-ministro António Costa. Foi o quase mea culpa.
Presidente da JSD