Depois dos casos recentes de agressões a médicos, o Ministério limitou-se a dizer que está consciente da necessidade de melhorar o perfil da segurança dos profissionais de saúde. O que é que isto quer exatamente dizer na prática? O que vai fazer?.Em primeiro lugar, há hospitais do SNS e agrupamentos de centros de saúde que têm já projetos de combate à violência contra os profissionais de saúde, como já foi, aliás, referido. Aquilo que o Ministério da Saúde determinou já foi que o secretário de Estado que acompanha este tema, juntamente com outras entidades que entendesse pertinentes, possa fazer uma análise da tendência de evolução destes números. Depois, a avaliação dos pilotos que existem, e a avaliação, ainda, das condições físicas de funcionamento, em termos de segurança, dos profissionais, e, depois, a apresentação de uma estratégia para combater estas situações. Campanhas de informação, e, também, formação aos profissionais de saúde sobre como lidar com estas situações. Apoiando o sofrimento emocional e psicológico destes profissionais e eventuais medidas de reação..Quando é que isso vai estar em vigor? Estamos a trabalhar para ter uma estratégia até ao final deste mês de janeiro..Os números que já são conhecidos....Os dados que eu tenho do Notifica, da Direção-Geral da Saúde, e que reportam aos últimos três anos, dizem que são cerca de 600 casos em 2017, cerca de 900 casos em 2018 e tínhamos já mais 900 casos nos três primeiros trimestres de 2019 - não temos ainda os dados do último trimestre. A forma de violência mais relevante são as agressões verbais. E o principal grupo visado é o dos enfermeiros. Outro aspeto que penso que vale a pena sublinhar é que muitas vezes o que desencadeia a agressão é o relacionamento interpessoal. Temos aqui um problema de saúde pública que é a violência. Na nossa perspetiva, ele tem de ser enquadrado de uma forma mais vasta, não desmerecendo que o profissional de saúde, pela especial função que desempenha, pela relevância social, seja uma pessoa que a nós nos importa especialmente proteger..Já agora, fale-nos sobre as causas desse aumento da violência. Será o facto de os profissionais de saúde estarem mais cansados e, portanto, reagirem de outra forma? Vamos lá ver, quem reage, em regra, é o utente não é o profissional de saúde. De facto, num dos casos que recentemente veio a público houve agressões mútuas....É a degradação dos serviços que tem levado os utentes a ficarem mais irritados com eles? Eu não tenho informação que me permita responder objetivamente a essa pergunta..Mas era importante para se perceber o que se passa, não era? Era, mas o que vem a público é que são desentendimentos sobre o sentido da decisão..Sem conhecer a causa, como tratar o problema? É isso mesmo que estas diligências que determinámos estão ocupadas em fazer - a análise caso a caso. O que sabemos relativamente a estes três casos que recentemente vieram a público é que houve um escalar de conflitualidade totalmente indesejável, que teve uma reação que condenamos e que nos leva a manifestar uma total e completa solidariedade para com os nossos profissionais de saúde..O caso do fim de semana dizia respeito a um utente que terá estado quatro horas ou mais para ser atendido... Este tipo de causas, a saturação por parte dos utentes em relação à falta de respostas, não pode originar situações como esta? Se nós achamos que uma sociedade que responde com violência à saturação é a sociedade que queremos....Não estava a justificar o ato, estava a perguntar se não podia ser a causa. Não acredito. Francamente, não acredito..Não acredita que estar mais de quatro horas à espera numa urgência possa ser... A causa suficientemente fundamentadora de uma irritação e que leve uma pessoa a ter um ato de violência, não..Não é isso que está em questão. A questão é qual é a causa..Na minha perspetiva, devemos evitar tirar conclusões precipitadas. Portanto, um utente que está à espera quatro horas - admitindo que é essa a realidade - de uma resposta num serviço de urgência, põe-nos a questão se essa ida era necessária ou não. É por isso que estamos a tentar responder com outras medidas que permitam responder a essas pessoas em tempo, com maior qualidade, encaminhando essas pessoas para os cuidados de saúde primários. Agora, a irritação raramente é boa conselheira..Esta não devia ter sido uma questão endereçada pelo Ministério antes de vir para a comunicação social? Já desde o ano passado que existem projetos-piloto a decorrer sobre este tema..O botão de pânico? Não. O botão de pânico é a forma que tem sido utilizada nalguns contextos, uma opção possível, mas existirão outras. É evidente que a violência contra os profissionais, não só os de saúde, em exercício de funções, concretamente públicas, preocupa os empregadores públicos e que tem de ter resposta em primeira mão das entidades empregadoras..A Ordem dos Médicos sugere aos clínicos que se recusem a trabalhar se considerarem que não estão criadas as condições de segurança. Compreende esta posição? Naturalmente, e acompanho..Um dos médicos agredidos sugeria que a ministra fosse mais ao terreno....Tenho essa informação. Tenho essa preocupação. Tenho também a preocupação, que mantenho, de estar perto dos profissionais e visitar o terreno, e de determinar a correção dessas situações. Era por isso que dizia que, dentro do plano, uma das questões que foram colocadas em cima da mesa prende-se com a segurança das instalações em que os profissionais estão a trabalhar. Nós sabemos que nestes dois casos que ocorreram em Setúbal há a presença regular da PSP. É essa uma realidade que temos em todos os hospitais? Não. Temos de a acautelar? Provavelmente sim. Ou seja, também há aqui uma assimetria daquilo que é a tipologia da organização que nos importa reduzir.