PS.A estabilidade sem geringonça A vitória do PS nas legislativas de outubro teve um sabor amargo. António Costa desejava uma maioria absoluta, mas esta esfumou-se. Tal como se esfumou a geringonça que conseguiu em 2015. O líder do PS e primeiro-ministro tem pela frente uma legislatura difícil, em que terá de negociar a cada instante com os partidos da oposição. Sim, porque PCP e Bloco de Esquerda, ao não lhe terem dado novamente a mão através de um acordo formal, demarcaram-se da governação nos próximos quatro anos, isto se o executivo resistir até às próximas eleições. E o primeiro embate vai ser já no Orçamento do Estado para este ano, em que os dois partidos vão fazer o seu peso no Parlamento, sem as baias de medidas acordadas. O próprio Presidente da República estabeleceu metas para uns e para outros. Marcelo quer que o governo seja "concretizador", à oposição pede firmeza para que o país ande para a frente..Bloco de Esquerda.Manter partido à tona Catarina Martins está de pedra a cal na liderança do Bloco de Esquerda. Pessoalmente, o seu desafio não é muito pesado, mas o do partido talvez seja. A líder bloquistas sonhou fazer crescer ainda mais o partido depois de ter passado quatro anos a reivindicar todos os ganhos de causa nas medidas boas do governo. As urnas não foram assim tão generosas, o BE perdeu em número de votos, mas conseguiu manter os 19 deputados que já tinha. O desafio desta legislatura, em que também não estará preso ao acordo formal com o PS, é convencer o eleitorado de que continua a ser a charneira para que o PS mantenha a rota da recuperação de rendimentos e de investimento no Estado. O Bloco tem agora a oportunidade de voltar ao palco do combate político, que sempre foi o trampolim para o crescimento eleitoral. Catarina não pode perder os centros urbanos para os novos partidos..PCP.Passagem de testemunho O líder comunista deixou sempre transparecer intranquilidade sobre os efeitos que o apoio ao PS iria trazer para o PCP, tanto mais que o seu partido sempre esteve na trincheira da oposição a todos os governos. Jerónimo de Sousa acabou por experimentar uma derrota eleitoral, a mais pesada de sempre, a 6 de outubro. O fiel eleitorado comunista retirou-lhe o tapete. O secretário-geral comunista prometeu manter a luta pelos direitos do povo, mas sem estar de braço dado com os socialistas. Mas Jerónimo deverá mesmo acabar por abandonar a liderança do PCP no final deste ano, no congresso marcado para 27, 28 e 29 de novembro. O desafio do partido vai ser encontrar um líder mobilizador e capaz de voltar a reunir os camaradas na hora de voltar às urnas. Uma legislatura inteira daria mais tempo para o PCP se reerguer..Livre.Conter os estragos do arranque A eleição de um deputado pelo Livre foi uma vitória que Rui Moreira procurava há muito tempo. Mas o partido mal teve tempo de festejar. A deputada eleita, Joacine Katar-Moreira, envolveu-se numa série de episódios no Parlamento, incluindo o de uma escolta policial para impedir os jornalistas de a abordar, que acabaram por ser um arranque desastroso da nova força na política institucional. O Livre arranjou maneira de serenar o diferendo com a deputada, que assumiu tacitamente o mandato como seu. O desafio agora é contrariar o velho lema "não há uma segunda oportunidade para causar uma boa impressão". E isso só será possível se Joacine se focar nas propostas do seu partido e abrir o leque de temas que vai levar ao Parlamento nos próximos anos..PAN.Furar a agenda ambientalista O PAN de André Silva conseguiu a proeza de passar de um deputado para quatro de uma legislatura para outra. Durante a campanha eleitoral, o líder do Pessoas-Animais-Natureza foi acusado de ter uma agenda apenas centrado nos temas ambientais, mas parece ter sido essa a estratégia determinante para o sucesso eleitoral. Nesta legislatura, o PAN poderá mesmo ser um aliado do governo e tentar impor as suas propostas no equilíbrio necessário que uma maioria relativa obriga. Mas para sonhar com um grupo parlamentar maior, o PAN tem de entrar noutras áreas de governação mais transversais ao grande eleitorado..PSD.Um novo ou velho líder e um rumo O PSD arranca o ano em ebulição. Daqui a uma semana, os militantes vão a votos para escolher quem querem ver ao leme do partido nos próximos dois anos. Rui Rio, que comanda neste momento o navio em acumulação com o grupo parlamentar, oferece-lhes a continuidade de uma liderança mais soft na oposição; Luís Montenegro, um projeto de rutura com o executivo socialista e um posicionamento mais à direita; e Miguel Pinto Luz, na charneira entre os dois, a falar para as camadas mais jovens do partido e com menos probabilidades de ganhar. É bem provável que as diretas de 11 de janeiro não cheguem para dizer se será Rio ou Montenegro o líder da oposição. Uma segunda volta torna tudo imprevisível. Mas seja qual for o vencedor, o PSD tem pouco tempo para inverter os maus resultados das eleições europeias e das legislativas. É por isso que todos apostam as fichas nas autárquicas de 2021, num partido que sempre foi forte quando teve mais autarquias na mão. Estas eleições são o desafio mais importante para os sociais-democratas..CDS.Na encruzilhada dos novos partidos De todas os partidos com assento parlamentar, o CDS é aquele que se encontra na maior encruzilhada. Não só porque o tombo eleitoral foi tremendo - a bancada passou de 18 deputados em 2015 para os cinco atuais - como é o partido que foi mais penalizado pelo aparecimento de novas forças à direta, no caso o Iniciativa Liberal e o Chega. No final deste mês, cinco candidatos, quatro principais, correm para suceder a Assunção Cristas, que apesar de todos os desaires nas urnas foi das mais combativas contra na oposição ao governo. João Almeida, Filipe Lobo D'Ávila, Francisco Rodrigues dos Santos e Abel Matos Santos, os três últimos mais próximos das alas conservadoras do CDS, vão enfrentar-se num congresso, a 25 e 26 de janeiro, em Aveiro, onde muito se falará de ideologia e de novo rumo. Tal como no PSD, o vencedor em congresso tem a espinhosa tarefa de voltar a reerguer o partido e tentar travar o crescimento eleitoral dos novos chegados ao Parlamento. Assunção Cristas tentou crescer com um partido mais aberto a temas fraturantes, mas o eleitorado centrista não se deixou cativar. É talvez por isso que exista agora tanta vontade de voltar às grandes bandeiras mais conservadoras da democracia cristã..Iniciativa Liberal.Convencer o país de que é liberal Foi de uma penada, João Cotrim Figueiredo foi eleito deputado e pouco depois líder do Iniciativa Liberal, depois de uma campanha arrojada e imaginativa. A fasquia é alta para os próximos quatro anos e o seu principal desafio é convencer novas franjas de eleitorado de que um país tão dependente do Estado pode mesmo viver sem ele. Não é tarefa nada fácil..Chega.Insistir na agenda populista Não há muito segredo, André Ventura vai continuar a levantar a voz contra as "vergonhas" do regime, com uma agenda muito afinada de temas populistas. Valeu-lhe a eleição para o Parlamento e todos começam a temer que na próxima legislatura consiga mesmo um grupo parlamentar. Já se perfilou para as presidenciais precisamente para continuar a ter tempo de antena.