As mãos apanham o cabelo loiríssimo atrás da nuca. Puxam para um lado, ganchos, enrolam para o outro, mais ganchos. Ainda não lhe vimos a cara mas já sabemos que aquela é Snu: "Ela usava quase sempre uma banana. Acho que tinha que ver com o vento, mas também com o facto de ser muito metódica. Disseram-nos que quando andava em campanha com Sá Carneiro podia fazer uma banana em segundos e ficava impecável", conta Inês Castel-Branco. Para interpretar Snu, passou uma tarde a treinar o penteado. Mas para a atriz de 37 anos esta foi talvez a parte mais fácil deste papel.."Não sabia quem ela era. Não sabia nada, nunca tinha ouvido falar dela", admite. Felizmente, com o convite para participar no filme a realizadora Patrícia Sequeira ofereceu-lhe dois livros: as biografias de Snu escritas pela mãe e por Cândida Pinto. Inês e o ator Pedro Almendra, que faz Sá Carneiro, tiveram ainda oportunidade de consultar as imagens do arquivo da RTP e, através da produtora do filme, Sky Dreams, de falar com algumas pessoas que conheceram o casal.."Nas fotos ela tem sempre um ar triste. Mais do que isso, assustado. Depois percebi que não era nada triste, era só muito diferente das mulheres portuguesas", diz Inês Castel-Branco. Mais do que através do cabelo pintado ou do sotaque (que se quis subtil), a atriz encontrou Snu numa atitude de permanente contenção. "Não quer dizer que não seja uma mulher muito forte e que sabe exatamente o que quer, mas é muito controlada. Não sorria muito. Não falava alto."."Não queria que fosse forçado. Não se trata de imitar, mas de interpretar. Isto não é um documentário", avisa Patrícia Sequeira, que também é coautora do argumento com Cláudia Clemente, garantindo que está preparada para receber todas as críticas ao filme: "Portugal não gosta de falar de si mesmo, parece que tem um problema com sua história. Mas eu estava muito segura - porque gosto de pesquisar e de saber tudo para poder depois brincar. Não beliscando os factos, mas criando. Isto é um filme e é ficção." A pesquisa foi profunda e a historiadora Helena Matos, consultora do filme, ia chamando a atenção para todos os pormenores que pudessem estar errados. Por isso, há coisas que podem não ser exatamente como algumas pessoas se lembram mas isso foi uma opção da realizadora. Não foi assim mas podia ter sido.."Ninguém me pode vir dizer que eu inventei alguma coisa, o Mário Soares disse aquilo, a Manuela Eanes disse aquilo - foi naquele sítio? Não. Mas interessa-me muito mais a verdade das personagens do que a verdade dos factos. Não é importante se foi no Palácio de Queluz ou no Palácio da Ajuda. O importante é o que aconteceu. A Snu não tinha um escritório assim? Pois não. E eu sei como era o escritório dela, tenho a planta e sei até o que ela tinha em cima da secretária. Mas quis dar-lhe um escritório bonito. A Snu era uma amante da natureza e eu dei-lhe um janelão, ela gostava de tudo na ordem e lá estão os arquivos todos arrumados.".Há três ou quatro montagens que colocam os atores em imagens de arquivo do 25 de Abril ou da campanha eleitoral, mas esses momentos são apenas como um piscar de olhos aos espectadores. Tudo o resto é ficção. Assumidamente..Quem é, afinal, a Snu neste filme? A realizadora vê-a como "uma mulher que caminha sobre um lago gelado. Ela vai andando e o gelo vai quebrando. Mas ela continua, determinada." Mas se tivesse de escolher uma imagem para defini-la seria a daquela fotografia em que está ao lado de Sá Carneiro, à espera de que o presidente norte-americano Jimmy Carter saia do avião. É uma situação protocolar delicada. Há uma certa tensão. Mas, por trás das costas, Snu e Francisco dão as mãos. "Essa foto diz tudo sobre eles os dois.". Snu Realização: Patrícia Sequeira Com: Inês Castel-Branco, Pedro Almendra, Nádia Santos, Beatriz Leonardo, Inês Rosado e outros Estreia-se a 7 de março