Covid-19. Alívio das medidas de contenção não quer dizer regresso à normalidade
Portugal ultrapassou a barreira das mil mortes, esta sexta-feira. Um número redondo e pouco animador, que, no entanto, não traduz a evolução da pandemia no país. O número de novos casos de covid-19 continua a diminuir (esta sexta-feira, registaram-se mais 306 infetados de um total de 25 351), tal como o de internados em enfermarias (892) e nos cuidados intensivos (154). Já os recuperados estão a aumentar (1647). Neste cenário, o Governo prepara um "regresso à normalidade" faseado, a partir de segunda-feira e até junho, que preocupa os médicos de saúde pública. "Para reduzirmos as restrições, temos de implementar outras medidas", defende Ricardo Mexia, presidente da associação destes especialistas.
Para o médico, o alívio de algumas medidas, como o regresso ao trabalho ou à escola, tem de ser colmatado "de forma concertada" com outras soluções, como o uso generalizado de máscaras. Não só em espaços pequenos e fechados, como é pedido agora, mas para todos sempre que a saída à rua significar encontrar outras pessoas. "Preocupa-me não haver uma indicação mais rigorosa no que toca à utilização de máscaras generalizada. Isto poderia ser um mecanismo útil para reduzirmos a disseminação da doença", diz Ricardo Mexia.
A ministra da Saúde, Marta Temido, indicou, que a "expectativa é conseguirmos garantir o abastecimento constante de equipamentos de proteção individual", referindo-se à disponibilidade de máscaras para todos os cidadãos, em conferência de imprensa esta sexta-feira. Até porque não usar máscara nos transportes pública vai dar direito a multa, a partir desta semana. Mas, mesmo que não existam para todas as pessoas, o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública diz que há outras formas de contornar a situação, nomeadamente, com máscaras confecionadas em casa, "que podem conferir uma proteção aproximada à das máscaras industriais e que podem reduzir a transmissão da doença".
Depois de dois meses em casa, a saída ditará tudo: se vai ser necessário dar passos atrás, quando e como, ou se a convivência com o vírus é possível, sem vacina ou tratamento próprio. Por isso, as autoridades de saúde pedem cautela e continuação dos esforços no que diz respeito às medidas de distanciamento social, de higiene (como lavar as mãos) e de etiqueta respiratória, que não devem ser suavizadas. Pelo contrário. O primeiro-ministro, António Costa, lembra o "dever cívico" de ficar em casa e a ministra da Saúde que "não se espera que na segunda-feira os portugueses saiam à rua como se não estivéssemos debaixo de uma situação epidémica".
Com esta tentativa de regresso à "normalidade", a capacidade de identificar os doentes infetados com o novo coronavírus torna-se ainda mais fundamental. Portugal é o 15.º país do mundo que mais testes de despiste de covid-19 faz, proporcionalmente. O país testa agora 40 cidadãos por cada milhão de habitantes. Na União Europeia, só fica atrás de Malta, Luxemburgo, Lituânia, Chipre e da Estónia, todos países com populações entre os 400 mil e 2,8 milhões de habitantes.
Portugal é também o 18.º país do mudo com o maior número de casos e o 21.º com mais mortes, numa tabela lidera pelos Estados Unidos da América (que têm mais de 1,1 milhão dos 3,4 milhões de infetados no mundo e quase 65 mil mortes dos cerca de 250 mil óbitos declarados em todos os países). Itália é a segunda nação com mais vitimas mortais (28 236), o Reino Unido (27 510) a terceira e Espanha a quarta (24 824).
O risco de um doente português com covid-19 transmitir a infeção a outra pessoa encontra-se agora abaixo de um, quando já foi de 2,5. Nos últimos cinco dias, esteve nos 0,92, segundo dados do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. Este valor apresenta também "uma variação muito ligeira entre regiões", afirmou Marta Temido. No Norte (a região mais afetada com o novo coronavírus) e em Lisboa e Vale do Tejo é exatamente de 0,92 e no Centro "está um pouco abaixo", de acordo com a governante. Valores tidos em conta na hora de voltar a abrir a porta, com as devidas cautelas.