Lisboa, Porto, Aveiro, Faro e Funchal estão na rota dos protestos mundiais que o líder da Assembleia Nacional venezuelana, Juan Guaidó, convocou para este sábado - quando se assinalam 20 anos da primeira tomada de posse de Hugo Chávez (que morreu de cancro em 2013). O objetivo das manifestações: pressionar a União Europeia para reconhecer Guaidó como presidente interino. Algo que Portugal, Espanha, França, Alemanha, Holanda e Reino Unido vão fazer já nesta segunda-feira, um dia após terminar o prazo do ultimato que deram a Nicolás Maduro para convocar eleições presidenciais.."Precisamos que o primeiro-ministro António Costa reconheça Guaidó como presidente. Esse é o primeiro passo. A seguir, queremos a abertura de um canal humanitário oficial com a Venezuela", disse ao DN Christian Höhn, presidente da Venexos, associação de venezuelanos em Portugal, deixando o desafio aos portugueses para que se juntem às manifestações que estão convocadas para as 16.00 nas cinco cidades. "Isto deixou de ser político, passou a ser uma situação global humanitária muito importante. E as questões humanitárias não têm nacionalidade", referiu, lembrando também os 500 mil portugueses que vivem na Venezuela..Höhn diz ainda que Guaidó, de 35 anos, representa a esperança. "Em 2017, as pessoas choravam pelos mortos nos protestos. Agora, choram de alegria porque finalmente temos uma esperança", indicou..O chefe da diplomacia portuguesa, Augusto Santos Silva, que esteve reunido com os homólogos europeus em Bucareste, disse ontem que os seis países que há uma semana fizeram o ultimato a Maduro se preparam para fazer um "reconhecimento político" de Guaidó nesta segunda-feira. Será um reconhecimento individual, mas coordenado.."Evidentemente, os países que acompanharam a calendarização do ultimato procurarão coordenar as suas decisões soberanas de forma a que, na segunda-feira, falemos todos a uma só voz porque isso dá muita força", afirmou, citado pela agência Lusa. Augusto Santos Silva reiterou que "só há uma saída para a crise política na Venezuela, que é a realização de eleições presidenciais, tão brevemente quanto possível, e segundo regras credíveis"..Grupo de contacto.A nível europeu, e com o apoio de vários países latino-americanos, foi criado esta semana um grupo de contacto internacional para alcançar, em 90 dias, uma saída pacífica e democrática para a crise. "O tempo de Maduro já passou e a questão é saber se a transição que é inevitável na Venezuela - porque o regime perdeu qualquer apoio popular e social e qualquer legitimidade política - se pode fazer de forma pacífica, sem confrontação interna, nem intervenção externa", disse Santos Silva..A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, indicou entretanto que há abertura para mais sanções contra indivíduos ligados ao governo venezuelano pela sua responsabilidade em episódios de violência por "impedir a expressão democrática da população". Não há, contudo, consenso para um reconhecimento em bloco de Guaidó - com cada país individualmente a tomar essa decisão, havendo alguns que não querem usar a palavra "reconhecimento" mas apenas expressar "apoio" ao presidente interino, segundo a Reuters. O receio é que reconhecer Guaidó abra a porta a que outros líderes da oposição em redor do mundo façam o mesmo..Desafio de Guaidó."Somos demonstração de força e organização. Com cada manifestação cidadã aproximamo-nos da nossa merecida liberdade e da urgente ajuda humanitária. Levamos em paz os nossos protestos e preparamo-nos para sábado em toda a Venezuela e no mundo", escreveu Guaidó no Twitter..O presidente da Assembleia Nacional, que se declarou "presidente encarregado" a 23 de janeiro, espera continuar a mostrar o apoio popular ao seu projeto. Junta-se a isso o reconhecimento internacional, imediato da parte dos EUA e de vários países do continente americano, da parte do Parlamento Europeu nos últimos dias, mas não unânime - Rússia e China estão entre os que mantêm o seu apoio a Maduro, bem como aliados regionais tradicionais como Cuba, Bolívia ou Nicarágua..Guaidó avisou também que não participará em qualquer diálogo que vise "manter violadores de direitos humanos no poder por via do engano". Um aviso aos presidentes do México, Andrés Manuel López Obrador, e do Uruguai, Tabaré Vásquez, dois países da América Latina que defendem as negociações e não viraram as costas a Maduro..O presidente venezuelano, que tomou posse a 10 de janeiro para um segundo mandato (não é reconhecido por vários países que consideraram fraudulentas as eleições de maio), mantém também o apoio dos militares. Mas Gaudó prepara-se para desafiar esse mesmo apoio: "Dentro de algumas semanas, eles terão de escolher se deixam a ajuda necessária a entrar no país, ou se ficam do lado de Maduro", disse Guaidó numa entrevista à AP, indicando que medicamentos serão transportados em veículos até vários pontos da fronteira, procurando entrar na Venezuela. O presidente interino ofereceu uma amnistia aos militares, em mais um esforço para os incentivar a desertar da administração Maduro.