Ouçam os bombos das nossas aldeias
Lavacolhos tem grande orgulho nos bombos, parte essencial da identidade de uma aldeia envelhecida, com escassas duas centenas de habitantes, tirando nas épocas festivas, como agora a Páscoa ou, sobretudo, no verão, em que se enche de muitos daqueles que emigraram para França ou se instalaram na Grande Lisboa. Os que regressam por uns dias, trazem com eles filhos e netos, e não há criança que não sinta fascínio pelos bombos.
Há outras aldeias com bombos e forte identidade na Beira Baixa, e aquilo que se escreve aqui sobre Lavacolhos aplica-se a muitas terras deste Portugal, talvez a todo o Interior do país. Por ter ligações familiares à pequena aldeia e freguesia do Concelho do Fundão, fui convidado a participar num debate sobre Interioridades, que se realizou (onde mais é que podia ser?!) na Casa do Bombo, instalada na antiga Escola Primária. Foi extraordinário ver a sala cheia de aldeãos, que vieram escutar aquilo que eles já sabem muito bem: o Interior vai-se esvaziando, envelhece ainda mais depressa do que o resto do país, os serviços públicos vão-se extinguindo e é agora preciso ir a terras vizinhas ou até à sede do concelho para resolver assuntos que antes se tratavam a uns metros de casa. E há poucas oportunidades para os jovens que teimam em ficar.
Para tentar contrariar este estado de coisas, o fardo da interioridade, há uma série de iniciativas, promovidas pelo poder local ou central e com apoios financeiros da União Europeia, mas só funcionam se aqueles a quem se destinam se envolverem e acreditarem. Ter sentido de comunidade, uma identidade forte, como é o caso de Lavacolhos, ajuda e muito, como ficou evidente no debate organizado pelo Jornal do Fundão, um colosso da imprensa regional, uma verdadeira instituição do jornalismo português. Mas não posso deixar de salientar algumas reivindicações, que me parecem justas, e às quais só quem está em Lisboa, no tal Terreiro do Paço, como ainda se diz, pode dar resposta. Reivindicações que vão da necessidade de benefícios fiscais para os empresários que investem no desenvolvimento destas terras, até à justíssima contestação das portagens pagas numa região do país em que os transportes públicos são escassos e tudo é entrave à competitividade das pequenas e médias empresas.
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Estas reivindicações que se ouviram sábado de manhã em Lavacolhos deviam ser tão sonoras como os bombos, a ver se são escutadas. Para bem desta aldeia, para bem de tantas e tantas aldeias e vilas deste pequeno país, que a geografia e a história tornaram o mais coeso da Europa e, portanto, devia ser governado em conformidade. Há bombos que, como os gritos, são de alerta.
Diretor adjunto do Diário de Notícias