A menos de um ano das eleições presidenciais, nenhum partido se chegou à frente para preanunciar o apoio à recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente da República tem gerido a expectativa e começam a existir algumas dúvidas se irá mesmo avançar. Até dar o "sinal verde" de que quererá mais cinco anos em Belém, todos se encolhem, mesmo o PSD, partido que estará inevitavelmente com ele..O congresso do PSD passou ao largo do assunto e o do CDS também. Rui Rio prefere manter-se em silêncio sobre o assunto, mas faz bem?."Não restam dúvidas rigorosamente nenhumas de que o PSD vai apoiar Marcelo, por isso tem tempo de anunciar a sua posição", afirma ao DN Pedro Marques Lopes. O ex-deputado Miguel Morgado partilha da opinião que não há pressa em anunciar o apoio: "No caso do PSD, todo o país, os militantes e simpatizantes do PSD sabem que se for recandidato, o PSD estará com ele.".O antigo assessor político de Passos Coelho sublinhas, aliás, que quando Marcelo se candidatou à Presidência, em 2015, fez questão de "estar bastante distante" dos partidos e que quererá voltar a repetir a mesma coisa numa recandidatura.."Se houvesse um apoio prévio do PSD até podia ser redutor para o Presidente. Ele preferirá que o partido espere pelo seu anúncio", diz uma fonte social-democrata. Até porque, acrescenta Pedro Marques Lopes, "não há qualquer espaço dentro do PSD para surgir outro candidato". Só uma pessoa "muito lunática", diz, "poderia pensar ser alternativa a Marcelo na corrida a Belém"..Mas em 2015, quando Marcelo era apelidado de "cata-vento" e não dava sinais se avançaria ou não para uma candidatura, Rui Rio chegou a equacionar ser ele o candidato do PSD, recorda a mesma fonte do PSD..Marcelo "assustado"?.A entrada em jogo da candidatura de André Ventura, do Chega, e a possibilidade de a socialista Ana Gomes também avançar - com sondagens a darem-lhes folgo - veio introduzir um grão de areia nas convicções de que Marcelo irá mesmo bisar a candidatura.."O risco de Marcelo não ser candidato é mínimo", assegura uma fonte do PSD, mas ao mesmo tempo admite que o Presidente estará "assustado" com o eventual discurso e crescimento de André Ventura e Ana Gomes, se esta se confirmar como candidata. "Os dois têm uma aproximação muito populista e Marcelo está incomodado com isso", afirma..Mas é precisamente esse "populismo" que, na opinião de Pedro Marques Lopes, obrigará Marcelo a recandidatar-se. "Ele andou a combater o populismo durante estes cinco anos e agora faz todo o sentido combatê-lo nas urnas.".O comentador político admite que a perspetiva de um resultado eleitoral mais modesto do que o desejado - se a fasquia de Marcelo for a que Mário Soares teve na reeleição em 1991, de 70% dos votos - possa abalar o atual inquilino de Belém. "Mas Marcelo sabe melhor do que ninguém que as votações dependem da conjuntura.".Para Pedro Marques Lopes, se em janeiro de 2021 Marcelo conseguir uma votação na ordem dos 50,1% "equivalerá aos 70% de há 20 anos"..Miguel Morgado recupera os argumentos de José Miguel Júdice, que conhece bem Marcelo, de que o Presidente poderia hesitar devido à dificuldade da reeleição para dizer que é "um absurdo".."Sempre achei, desde 2017 e 2018, que aquelas fantasias que toda a gente propagava que o objetivo de Marcelo seria o de bater o score eleitoral de Mário Soares, que tinha taxas de popularidade na casa dos 80%, estavam desligados da realidade." Tudo dependeria, afirma, das candidaturas que viessem a terreno.."A recandidatura de Marcelo nunca será um passeio no parque como foi a de Mário Soares em 1991", sublinha. Altura em que os partidos se uniram no apoio ao antigo Presidente da República socialista.."Parece-me absurdo que tenha sido previsto que Marcelo conseguiria um resultado superior", afirma Miguel Morgado. E explica porquê. "Para se aproximar dos 70%, Marcelo tinha de fazer o pleno da direita, que está reduzida, e não o vai conseguir com a candidatura de André Ventura.".A entrada do líder do Chega na corrida presidencial vai incentivar os partidos à direita, CDS e Iniciativa Liberal, a apresentarem um candidato, afirma ainda o ex-deputado. "Para o CDS e o IL verem o seu rival apresentar um candidato e andar dois meses em campanha, é difícil ficar de fora." É por isso que "Marcelo não fará o pleno da direita", assegura. O que para lhe dar os tais 70% teria de "ser arrebatador à esquerda"..Só que à esquerda as coisas também se complicam com a possibilidade de Ana Gomes avançar. A probabilidade do PCP e do BE terem candidato, para ter campanha, cresce.."E se Ana Gomes se candidatar, mesmo que António Costa adote uma posição "pilatiana" (lavar as mãos como Pilatos e não dar o apoio expresso do PS a nenhum candidato), na altura do voto ela terá uma fatia do eleitorado socialista." Menos uma fatia para a reeleição de Marcelo..Miguel Morgado também estima que a "vitória de Marcelo" - expectável dado que não desencadeou nenhum movimento agreste "do tipo não voto" - deverá ficar pela casa dos 50%. "Ser um tapete vermelho estendido sempre me pareceu um absurdo", insiste..Recorda que, à exceção de Ramalho Eanes em 1976 e Soares em 1991, todos os outros presidentes acabaram por ser eleitos, quer no primeiro mandato quer no segundo, nesta casa dos 50%..O ex-deputado não considera improvável a não recandidatura de Marcelo. "O país até ficaria numa incerteza peculiar. Se isso acontecesse teríamos a disputar o eleitorado figuras que não são da primeira linha da política." E com todas as incertezas que isso poderia gerar.