No sábado, o governo dos Estados Unidos da América (EUA) avançou com um "acordo" unilateral em que diz – numa carta assinada pelo Presidente do país, Donald Trump – que irá impor tarifas comerciais de 30% contra as exportações de mercadorias da União Europeia (UE), avanço que apanhou muita gente de surpresa em Bruxelas, apurou o DN junto de algumas fontes comunitárias.A negociação entre a Comissão Europeia (CE) e a Casa Branca continuará por mais três semanas (até 1 de agosto, em princípio), mas começam a surgir vozes que defendem que a Europa deve mas é retaliar e que, no pior cenário, a resposta deve ser ao nível da balança de serviços, na qual a UE tem um défice muito expressivo face aos Estados Unidos. Os maiores mercados para os americanos são nas exportações de patentes e serviços científicos e tecnológicos, confirma o Eurostat.Penalizar os serviços seria, assim, uma forma de contornar a ameaça de Trump nas mercadorias onde, diz o governante, caso a Europa decida responder na mesma moeda aos 30%, os EUA avançarão com uma sobrecarga adicional equivalente (em cima dos 30%, que para Trump é o imposto que, neste momento, ajuda a equilibrar ou reverter o défice norte-americano nas mercadorias com os europeus).Trump tem muitos incentivos em taxar as importações que entram nos EUA, procedam elas da UE ou de qualquer outro país: está a ser uma fonte de receita enorme, um sucesso para Washington, desde que começou a agravar as taxas alfandegárias em março. Segundo dados oficiais do Departamento do Tesouro dos EUA, as receitas totais de impostos alfandegários voltaram a aumentar em junho, "à medida que as tarifas do Presidente Donald Trump ganharam força, ultrapassando os 100 mil milhões de dólares [cerca de 85 mil milhões de euros]" em termos acumulados, desde que começou o ano fiscal.Vários analistas consideram "surpreendente" e observam que essa coleta contribuiu para as contas federais atingirem um excedente orçamental de 27 mil milhões de dólares (23 mil milhões de euros), só no mês de junho, algo raro num país com défice orçamental muito alto e com uma carga da dívida pública que supera já os 120% do Produto Interno Bruto (PIB).Só como termo de comparação, o Pacto de Estabilidade europeu diz que o nível ideal deve ser 60%, máximo.A 2 de abril, no chamado "dia da libertação", a UE foi visada com uma tarifa geral de 20%, depois as negociações não correram bem e Trump subiu a parada para 50% em maio. Agora, calibrou a taxa nos 30%.Em cima disto, entraram em vigor tarifas sectoriais de 50% sobre o aço e o alumínio, o cobre pode ter o mesmo destino, sendo que novas tarifas específicas sobre muitos outros sectores de alta importância para a Europa (vinho, queijo, farmacêuticas, carros) podem estar a caminho.Como referido, a carta de Trump com a menção a 30% foi um balde de água gelada.Neste ambiente de maior consternação e de ausência de diálogo, quem deu o tiro de partida na possível resposta europeia – caso o caminho até 1 de agosto se revele infrutífero – foi a chefe da política externa europeia, Kaja Kallas.Este domingo, em entrevista ao jornal francês La Tribune Dimanche, Kallas disse que "a UE sempre procurou uma solução negociada", "mas, caso sej necessário, tem ferramentas para defender os seus interesses", disse, em entrevista ao La Tribune Dimanche (conteúdo pago), ecoando a posição da CE, na véspera.No sábado, também o México foi brindado com uma possível tarifa geral de 30%, o Canadá recebeu 35%. Nesse mesmo dia, Ursula von der Leyen, a presidente da CE, disse que tomou nota da carta do líder norte-americano, afirmando que ainda que "continuar a trabalhar para obter um um acordo comercial" com os EUA, o maior parceiro comercial da Europa e cuja parceria bilateral é, de longe, a mais valiosa do mundo.Kaja Kallas, a alta representante para os negócios estrangeiros da UE, sublinhou que continuam em cima da mesa "todas as medidas necessárias para salvaguardar os interesses, incluindo a adoção de contramedidas proporcionais, se necessário".E deu o exemplo concreto de onde pode vir a resposta europeia, num cenário menos bom. "No sector de serviços, a Europa está numa posição forte" em termos negociais para responder a Trump porque aqui tem um défice com os EUA, argumentou Kallas. "Podemos fazer algo", assim queiram os 27 países.Trump tem razão quando lamenta o enorme défice comercial (produtos) que perdura há décadas na relação com a UE. A Europa exporta anualmente (2024) mais de 532 mil milhões de euros para a economia norte-americana, mas os europeus compram made in USA muito menos, cerca de 335 mil milhões de euros.Dá um défice elevadíssimo na ordem dos 197 mil milhões de euros em desfavor dos EUA.Mas nos serviços, é ao contrário. Os EUA têm um excedente de 148 mil milhões de euros. No ano passado, a UE vendeu aos Estados Unidos 334,5 mil milhões de euros em serviços, mas o parceiro transatlântico faturou 482,5 mil milhões de euros cá.Os principais negócios que podem vir a ser analisados e alvo de iniciativas protecionistas e de resposta por parte da CE contra Washington são, por exemplo, receitas (exportações) obtidas pelos EUA na Europa "pelo uso de propriedade intelectual", "serviços profissionais, científicos e técnicos" e "serviços de telecomunicações, informática e informação", apurou o DN junto das bases de dados do Eurostat.São os serviços mais importantes made in USA comprados pelos europeus, mostra a balança oficial de serviços das duas potências disponibilizada pelo gabinete europeu de estatísticas.