Agosto ainda agora começou, mas o turismo nacional não hesita em traçar o veredicto: o setor irá bater novos máximos em todos os indicadores com 2025 a assumir-se como o melhor ano de sempre na atividade, superando todos os recordes dos últimos anos. A garantia é dada ao DN pelas várias Entidades Regionais de Turismo (ERT) do país que traçam um cenário de casa cheia de Norte a Sul de Portugal. Ainda assim, a matemática da operação da época alta teve de ser ajustada, uma resposta inevitável face à atual conjuntura económica nacional e internacional. Tanto os portugueses como os estrangeiros estão mais relutantes em abrir a carteira e o orçamento é, este ano, mais apertado. O impacto deste menor poder de compra é sentido no Alojamento Local (AL) que se viu obrigado a uma redução de preços que chega a atingir os 30% nalguns casos. “Tivemos de fazer ajustes ao preço para conseguir atingir as taxas de ocupação esperadas. Nota-se que as pessoas têm menos dinheiro - não é novo e já estávamos à espera disto, mas não pensávamos que iria ter este impacto”, refere o diretor-geral da GuestReady em Portugal, Rui Silva. O responsável da empresa que gere cerca de 1400 unidades de AL no país explica que as taxas de ocupação estão a rondar os 90% no mês de agosto, mas encher as casas só foi possível por via de um ajuste de preços que variou entre os 10% e os 30%, conforme a geografia. “Onde sentimos mais a necessidade de um maior ajuste é, sem dúvida, nos apartamentos pequenos no Porto e depois nos apartamentos pequenos em Lisboa. Funchal destaca-se por estar a corresponder com as expectativas; não é que esteja incrível também, mas não foi preciso um ajuste tão dramático como nos restantes casos”, enquadra. Na operação da GuestReady em Portugal, são os estrangeiros os principais clientes com com os franceses e os espanhóis a liderar. Contudo, em junho, o cenário inverteu-se e o mercado doméstico apresentou-se como o principal cliente, um sinal de que os turistas de fora estão a colocar um travão nos gastos de lazer. “O que se nota é que há menos dinheiro nesses países e estas nacionalidades acabam por fazer turismo interno em vez de virem para o nosso país”, acrescenta Rui Silva. Outra das estratégias para gerir a finanças durante o período de descanso passa por viajar nos meses de menor procura, onde a fatura é mais leve.“A procura para setembro e outubro está melhor do que estaríamos à espera nesta altura do ano. Nota-se que as pessoas em vez de estarem a fazer férias em agosto, estão a preferir fazer férias nos meses que os preços são mais baixos”, acrescenta. O cenário é corroborado pela Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo (ERT Alentejo e Ribatejo). “Notamos um desdobramento das estadas do mercado nacional para os meses de junho e de setembro e este ano a procura em julho também se intensificou. Acredito que por um lado tenha a ver com uma questão de preço, de evitar agosto que é um mês mais caro, mas também porque os portugueses estão, cada vez mais, a optar por fazer férias repartidas”, nota ao DN o presidente, José Santos.O responsável adianta, ainda assim, que os preços subiram à volta de 6% na região este verão. Passar férias a sul do país também não está mais caro este ano, garante o presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA). “Face às circunstâncias, a questão do aumento dos custos e das matérias primas, não era expectável que este ano continuasse a haver uma subida de preços tão relevante como aquela que se verificou nos últimos anos. Não se registou nenhum aumento de preços este verão”, atesta André Gomes. O homónimo a Norte confirma a narrativa e também no Porto a fatura apresentada aos turistas não apresenta surpresas. “De um modo geral não houve aumentos de preços nestes meses de época alta”, aponta o presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP). Luís Pedro Martins valida ainda a posição da GuestReady sobre o recuo das tarifas no AL. “Aconteceu nalguns casos, sim, mas é preciso justificar, de uma forma transparente, que hoje a concorrência também é maior; crescemos em número de unidades e, portanto, é normal que o mercado faça esses ajustes”, justifica. .Nova rota da TAP “é um sinal tímido, mas positivo” para o Porto.Luís Pedro Martins está otimista não só com os números da região no verão, mas do acumulado do ano que são já superiores a 2024. A ocupação nos meses quentes atinge, em média, os 85% e a boa performance explica-se pela aposta nas ligações aéreas. “ O aeroporto está com um bom desempenho e quanto melhor estiver o aeroporto, melhor poderá estar a região. Este ano iremos bater um novo recorde de movimentos de passageiros , numa operação que está a ser feita com 110 rotas, operadas por mais de 30 companhias aéreas”, elucida.O presidente do TPNP destaca operação da Air Canadá com a ligação direta entre Montereal e Porto, as novas rotas da brasileira Azul que conectam a Invicta às cidades de Recife e de São Paulo e deixa ainda elogios aos 14 voos semanais da Turkish Airlines e à crescente aposta da United Airlines. Sobre a nova rota da TAP entre o Porto e Boston, inaugurada em maio, com quatro voos por semana, considera ser um “sinal ainda tímido, mas positivo” na aposta da transportadora de bandeira a Norte. “Está dentro da expectativa que nos foi criada pelo CEO Luís Rodrigues, que nos dizia que após o fim do plano de reestruturação - que o impedia de comprar aeronaves - o Porto iria contar com uma operação diferente da TAP a partir do final de 2025. Esta aposta acabou por acontecer agora com este voo, é um bom sinal, mas queremos acreditar que é apenas o início de algo. Considero que merecemos muito mais por parte da TAP em relação à região, mas é um bom sinal”, sublinha. Na lista de desafios do verão, Luís Pedro Martins destaca os incêndios que estão a assolar a região e que terão impacto nas contas dos empresários locais. “Estes incêndios prejudicam a operação em toda a oferta de turismo de natureza porque a natureza é, de facto, um dos principais ativos turísticos da região. Não poderá haver operação turística em territórios como Ponto da Barca, Arouca, o Parque Nacional Peneda-Gerês e no Parque do Alvão. As empresas de animação turística vão, de facto, ter um reverse e não sabemos ainda qual será o valor dos prejuízos”, lamenta..Algarve lotado.Percorrendo o mapa nacional até ao sul, o Algarve regista, sem surpresas, os meses mais fortes da atividade turística. “Estamos praticamente cheios, não é possível crescer mais. As unidades de alojamento estão com ocupações altíssimas”, assume André Gomes. O presidente da RTA destaca a forte presença de portugueses na região, continuando a liderar o pódio dos principais mercados, seguindo-se os irlandeses e ingleses. Já o crescimento do número de turistas alemães assumiu-se como “uma boa surpresa”. Outra das novidades este ano é a chegada de mais norte-americanos ao território, impulsionada pela recente ligação direta da United Airlines que liga Faro aos Estados Unidos. “No ano passado os Estados Unidos eram o nosso décimo mercado e, atualmente, passaram para a sexta posição. A ocupação da United está muito boa e há até a possibilidade de a ligação ser estendida para o ano inteiro”, revela. .Portugueses e espanhóis lideram no Centro.A A25 enche-se de carros de matrículas espanholas. Este é um dos quadros habituais no Centro de Portugal quando o verão atinge o pico e o calor convida ao descanso. Os portugueses são os principais turistas, atraídos pela tranquilidade da região, pelas praias fluviais e pelas celebrações populares da época. As contas não estão fechadas, mas antecipam-se novos recordes. “ A nossa perceção e das conversas com os nossos operadores, notamos que a procura tem sido intensa na região e, portanto, acredito que vamos crescer este ano e vamos ter um verão muito positivo”, diz Rui Ventura, presidente Turismo do Centro de Portugal (TCP). .Madeira supera máximos.Olhando para as ilhas, os hotéis na Madeira apresentam, nestes meses, como habitual,ocupações plenas. O Secretário Regional do Turismo da Madeira não tem dúvidas de que a região irá superar os 721 mil hóspedes recebidos no verão do ano passado bem como a fasquia dos 757 milhões de euros em proveitos alcançados em 2024. “A região tem assistido a um crescimento sustentado das operações, tanto no aeroporto da Madeira como no aeroporto do Porto Santo. A ligação com Portugal continental continua a ser essencial para a mobilidade dos residentes e para o turismo, com Lisboa e Porto a manterem-se como os principais eixos de ligação à Região”, destaca Eduardo Jesus. O responsável sublinha que o reforço significativo das frequências nas rotas, “impulsionado, sobretudo, pelos operadores low-cost easyJet e Ryanair, que disponibilizaram mais frequências a preços competitivos” justificam o bom desempenho da ilha. Em paralelo, nota ainda, soma-se a alocação de aeronaves de maior capacidade por parte da TAP..Alentejo com ocupação de 80%.Também no Alentejo são os portugueses que lideram as dormidas, com uma expressão de 65% no turismo regional. Seguem-se os espanhóis, os ingleses e os franceses que ajudam a puxar as taxas de ocupação para os 80%. Já na zona da Comporta, Sines e Tróia são os mercados com maior poder de compra que se destacam como os norte-americanos ou os brasileiros. As particularidades da região são, para o presidente da ERT Alentejo e Ribatejo, o fator de diferenciação face ao resto do país. “Não é um destino massificado, as pessoas não têm experiências negativas em longas filas de espera, em restaurantes, ou em equipamentos de animação”, elucida o presidente José Santos. ."Os portugueses não se divorciaram da região". Algarve de casa cheia espera verão recorde .Golfe. “Todos querem os americanos, mas não temos a qualidade que eles procuram. É preciso requalificar”