O presidente que está de saída da Metro do Porto, Tiago Braga, disse que a crispação institucional com a Câmara do Porto "nunca foi" originada pela transportadora, mas admitiu que condicionou o desenrolar das obras da Linha Rosa."Não vou negar que esta crispação que existiu também provocou um impacto no próprio desenvolvimento da empreitada", disse o presidente da Metro do Porto, garantindo também que "nunca foi do lado da Metro do Porto".O presidente da Metro do Porto dá como exemplo o avanço da obra da Linha Rosa (São Bento - Casa da Música), considerando que numa fase em que havia dificuldades no túnel por debaixo da Rua de Júlio Dinis, "numa circunstância de maior normalidade" teria pedido para fazer uma intervenção à superfície que pudesse acelerar a empreitada, como sucedeu na rotunda da Boavista, "melhorando depois muitas condições de avanço".Tiago Braga falava em entrevista à Lusa a propósito da sua saída da empresa, que deverá acontecer nas próximas semanas, tendo o Governo a intenção de nomear o reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Emídio Gomes, como seu sucessor."Nós nunca respondemos, nunca tomámos a iniciativa de vir entregar à opinião pública trocas de documentos entre as entidades. Quando tivemos que o fazer foi porque também em alguns momentos foram ultrapassados alguns limites", disse à Lusa.Para Tiago Braga, "um presidente de Câmara, quando luta por este tipo de infraestruturas, porque acredita, evidentemente, no benefício que traz para a população e para o desenvolvimento da cidade", tem de "ter a predisposição de aceitar a crítica que vai existir, obviamente, e tudo aquilo que é negativo numa obra".O presidente da transportadora disse ainda não admitir as acusações de ter feito "uma gestão política de empreitada", pois permitir isso seria "um desrespeito aos milhares de pessoas" envolvidos no projeto que "se expõem a riscos pessoais", considerando até "uma coisa um bocadinho estranha" achar que tal seria tecnicamente possível face à dimensão da obra.Sobre o não cumprimento do prazo de julho deste ano para o fim da empreitada da Linha Rosa, Tiago Braga diz que as declarações que fez em maio do ano passado foram com base na informação detida à data."O facto de eu ter dito que a obra terminava em julho e a obra não ter terminado em julho não significa que eu tenha faltado à verdade. Quando afirmei que a obra terminava em julho, afirmei-o com base nas informações que nós dispúnhamos e com base naquilo que estava contratualizado, com um plano de trabalho modificado junto do empreiteiro", sustenta.O responsável refere que não houve nenhuma afirmação da sua parte, "em nenhuma circunstância, que não fosse com base em factos"."O tempo encarregar-se-á de demonstrar quem é que estava a faltar à verdade. Eu seguramente não era", vincou, garantindo ser "muito fácil" verificar cronologicamente as informações e "perceber que tipo de documentos do empreiteiro ou dos fornecedores existiam à data" das declarações "para perceber se aquilo que disse era verdade ou mentira".Tiago Braga disse ainda que durante os quatro anos da obra da Linha Rosa as equipas técnicas da Metro, da Câmara do Porto e demais entidades "trabalharam sempre em busca das melhores soluções", e que as reuniões periódicas entre as partes "continuam a acontecer"."Como é que se pode dizer que não há comunicação quando, de 15 em 15 dias, há reuniões? E eu nas reuniões nunca fui confrontado [com a acusação] 'tu estás-me a mentir'. Outra coisa diferente é, muitas vezes, pedirem informação e nós não dispormos de informação, porque também não tínhamos", afirma.Face à observação feita pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, de que as obras em Vila Nova de Gaia decorrem de forma mais rápida, Tiago Braga reconhece que "é mais fácil cortar ruas em Gaia", até porque "não tem o mesmo impacto, por exemplo, de cortar a Avenida dos Aliados", no Porto."Nós próprios nunca tivemos a expectativa de, por exemplo, mobilizar um grande estaleiro na Praça da Liberdade e ficar totalmente cortada. Isso nunca foi sequer colocado equacionado, e muitas vezes fomos nós próprios a fazer esse entrave ao empreiteiro", revelou.O presidente da Metro disse ainda que durante a empreitada procurou transmitir, sem sucesso, que "as pessoas preferem ter uma via cortada durante muito tempo do que a mesma via estar a ser cortada todas as semanas, um bocadinho aqui, outro bocadinho ali", priviligando a previsibilidade."O impacto é maior, mas depois as pessoas acabam por se habituar, mobilizar, ganham outros hábitos, mas quando regressarem já regressam totalmente desimpedidos", considera.Iniciada em 2021 e com um custo que ascende aos 304,7 milhões de euros, a linha Rosa terá ligação às atuais estações de metro Casa da Música e São Bento, e terá paragens intermédias no Hospital de Santo António e Praça da Galiza.A sua abertura está agora prevista para o primeiro trimestre de 2026..História do metrobus foi "mal contada por maldade".O presidente da Metro do Porto considerou ainda que a história do desenvolvimento do metrobus do Porto "daria um livro" porque "foi muitas vezes mal contada", até por "maldade", nomeadamente na questão das portas dos autocarros."Não tenho propriamente intenções de escrever um livro, mas daria para escrever um livro. Foi muitas vezes mal contada. Começou a ser mal contada com a questão da história de nós nos termos enganado nas portas, porque só havia portas à esquerda" dos autocarros, disse Tiago Braga, segundo o qual, "é totalmente mentira que tenha havido um problema com as portas" e também é mentira "a ausência de planeamento" na chegada dos veículos.Para o responsável, as críticas sobre esse assunto foram "ridículas" e postas a circular "por maldade", recusando agora "estar calado quando dizem que os veículos estão atrasados porque se enganaram nas portas".Em causa está o atraso na chegada dos veículos relativamente à conclusão da obra de construção civil do metrobus do Porto, que levou a que se fizessem testes - sem sucesso - com os autocarros atuais da Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP) que, como só têm portas à direita, tinham de entrar em contramão nos cais das estações do metrobus.Quanto aos veículos definitivos do metrobus, que têm portas tanto à esquerda como à direita e estão preparados para entrar regularmente nas estações, começaram a chegar este ano e fizeram o primeiro teste em junho, depois da obra de construção civil estar praticamente pronta desde agosto de 2024.O desfasamento entre a chegada dos veículos e a obra no terreno deveu-se à necessidade de repetir um concurso público, pois o lançado em dezembro de 2022 teve de ser repetido oito meses depois."A Câmara do Porto sabia, a STCP sabia", disse Tiago Braga, assegurando ainda que "desde o início foi claro" que seria a STCP a operar o serviço e que "tudo o que veio equipado no material circulante estava alinhado com aquilo que eram os requisitos funcionais e técnicos da STCP".Quanto à assinatura do protocolo entre a Metro do Porto, o Estado e o Município do Porto para formalizar a operação, ainda não foi assinado e já não está com a transportadora porque "passou a ser gerido diretamente entre a estrutura ministerial e a Câmara Municipal".Já quanto à questão da inversão de marcha na Rotunda da Boavista, para Tiago Braga "não há problema nenhum" em fazê-la em frente à Casa da Música, em contramão, recordando que essa solução, anunciada em janeiro de 2023, "resulta de pedidos expressos da Câmara Municipal".Questionado sobre qual será o problema atualmente e se foi a pressão das redes sociais a desincentivar essa solução, entretanto descartada, Tiago Braga disse não saber, rejeitando fazer "juízos de valor"..STCP propõe metrobus na rotunda da Boavista pois inversão de marcha na avenida é "inviável". O presidente da Metro do Porto recordou que "aquela solução foi testada com todos, incluindo STCP" e "se percebeu que, primeiro, do ponto de vista da geometria era totalmente possível" - algo diz manter-se com o novo veículo do metrobus - e encaixava também "no período de semaforização existente à data".Tiago Braga diz que até ser pedida a solução de viragem no topo da avenida foram testados, em microssimulações, cenários de vias segregadas na rotunda da Boavista na faixa da esquerda e do meio, mas o tempo de circundar a rotunda "estava no limite daquilo que era a frequência" pretendida, entre os 4 e 5 minutos.O responsável alertou ainda que caso o veículo tenha mesmo de dar a volta à rotunda, bem como misturar-se com o restante tráfego noutros eixos, a eficácia do sistema BRT (Bus Rapid Transit, vulgo metrobus) "é colocada em causa".Ainda assim, noutros pontos do percurso, como no caso das alterações pedidas à segunda fase para preservar a ciclovia central e as árvores entre a Fonte da Moura e o Castelo do Queijo, Tiago Braga não prevê tantos impactos, "porque a parte poente da avenida não tem o mesmo nível de trânsito da parte nascente", mas "não deixa de ser uma ameaça" à fiabilidade do sistema.Quanto à partilha de canal com os automóveis na Avenida Marechal Gomes da Costa, acredita que "é uma questão de tempo até ter o percurso todo segregado".O responsável disse ainda que se a Câmara do Porto tivesse optado por retirar uma faixa para o automóvel e manter uma ciclovia na parte poente da Avenida da Boavista "teria dado para pôr dois cais laterais" ao centro da avenida, ao invés dos cais únicos entretanto construídos, dizendo que "rapidamente se pode montar uma ciclovia" mesmo com a configuração atual.Confirmou ainda que as obras na estação de carregamento de hidrogénio devem terminar no quarto trimestre e que os 12 veículos estão já todos em Portugal ou praticamente a chegar, e quanto ao início da segunda fase, aguarda "autorizações de ocupação de via pública para entrar em obra entre a Marechal Gomes da Costa e a zona do liceu Garcia de Orta".A obra do metrobus custa cerca de 76 milhões de euros e é financiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)..Lisboa e Oeiras ligadas por MetroBus em 2028 num investimento superior a 90 milhões de euros