A frequência galopante de eventos meteorológicos severos está a deixar uma fatura pesada, não apenas a nível de vidas humanas e de danos ambientais, mas também em perdas económicas astronómicas. Embora a tendência já se note há cerca de 30 anos, só na última década, as perdas económicas cobertas relacionadas com incêndios, tempestades ou cheias duplicaram, passando de cerca de 100 mil milhões de dólares em 2020 para uma estimativa de 200 mil milhões em 2025. Essas são as conclusões preocupantes de um estudo da Geneve Association (associação internacional de seguradoras), a que o DN teve acesso, intitulado Safeguarding Home Insurance, sobre como reduzir a vulnerabilidade ao clima extremo. E que deixa a ameaça de um aumento dos prémios de seguro.Portugal surge, aliás, na lista dos sete incêndios mais caros da última década, a nível global, com os trágicos fogos de outubro de 2017, que causaram perdas da ordem dos 900 milhões, sendo que os danos cobertos corresponderam a apenas 300 milhões e os danos não segurados foram 67% dos registados. A liderar a lista dos maiores prejuízos estiveram os fogos de 2017 e 2018 na Califórnia (EUA), causadores de perdas de 27 mil milhões de dólares, mas também as cheias em Valência, em Espanha, em outubro de 2024, com estragos calculados em 16,1 mil milhões.Mais recentemente, em Portugal, a tempestade Martinho, que assolou o país nesta primavera, foi responsável por perdas da ordem dos 65 milhões de euros, segundo um cálculo da Associação Portuguesa de Seguradores (APS).Embora o país seja particularmente vulnerável ao risco de incêndios florestais pelas elevadas temperaturas atingidas e tendência crescente de diminuição da chuva, tem uma alta exposição ao risco, pela reduzida cobertura das habitações com seguros contra incêndios, tempestades e cheias. “Em Portugal só 53% das casas têm seguro para incêndios, tempestades e inundações, o que significa que 47% estão entregues a si próprios ou às indemnizações que o Estado possa definir”, disse Rui Esteves, o coordenador do Impact Center for Climate Change da Fidelidade. “É uma exposição elevada”, considera o especialista.A nível mundial, a América do Norte e a Austrália são as regiões com menor falha de proteção, contrastando com a África e a Ásia.Prémios mais rigorososFace ao expectável aumento da frequência de fenómenos meteorológicos severos, as seguradoras querem aumentar os prémios, ainda que às vezes enfrentem resistência dos reguladores. Em alguns países isso já começou a acontecer. Em Outubro de 2024, quatro grandes seguradoras globais anunciaram os seus planos para aumentarem os prémios em 13%. E na Europa também se admite um aumento nos próximos dois anos, sendo que no Reino Unido foi praticado um aumento de 20% em 2024, depois do setor ter sido chamado a pagar uma fatura gigante pelas tempestades de 2023.Nas regiões americanas mais fustigadas pelos fogos em que os reguladores se opuseram ao aumento dos prémios, as seguradoras deixaram de os cobrir, reduzindo substancialmente o acesso à proteção, indica o estudo.O setor está a readaptar o seu negócio, centrando-se agora em detalhar ao pormenor o risco de cada habitação a uma inundação, tempestade ou incêndio. “Numa mesma rua inclinada, o risco para inundação de uma habitação na parte baixa da rua não é o mesmo que na parte de cima”, exemplifica Rui Esteves.Aquele especialista explica que a ideia que está a ser defendida pelo setor a nível global, e é acompanhada pela Fidelidade, é reunir o maior número de informação possível para a aferição do risco de uma habitação em concreto e criar, à imagem da certificação energética, uma espécie de certificação de resiliência ao risco climtático. “No seu centro para o impacto climático, a Fidelidade está a trabalhar para ter um retrato da vulnerabilidade de um imóvel, em todas as suas envolventes, para poder fazer a adpatação do preço”. Mas, acrescenta, que a ideia também é que haja “um incentivo ao investimento na resiliência de uma propriedade, na medida em que não só o imóvel fica mais valorizado, para efeitos de comercialização, por exemplo, mas também poder pagar um prémio de seguro mais baixo.”Como diminuir o risco climático e preveni-lo deve ser um desígnio da sociedade no seu todo e é uma preocupação particular de um setor que vive a gerir e calcular o risco. O relatório da Geneve Association conclui que fatores socioeconómicos estão a amplificar a exposição aos riscos climáticos. Entre ele estão a construção em zonas vulneráveis, práticas de construção antiquadas, rápida densificação urbana, destruição dos ecossistemas naturais, infraestruturas envelhecidas e operações de utilities.