Em plena era de transição energética, a pender cada vez mais para a mobilidade elétrica, também há revoluções a acontecer nos combustíveis. A Repsol, por exemplo, lançou um produto disruptivo, o diesel ‘Nexa’, que é “100% renovável e que permite uma redução de emissões de gases com efeito de estufa até 92%”, garantiu o administrador delegado da companhia em Portugal, Armando Oliveira, em entrevista no âmbito do Portugal Mobi Summit.Mas o que o distingue de um gasóleo tradicional e poluente? “Este Nexa 100% renovável é feito a partir de matérias reutilizadas, como por exemplo resíduos florestais, agrícolas, alimentares e óleos usados”. Leva um tratamento e o produto base, como se conhece no mercado, é o HVO (na nomenclatura inglesa, Hydro Treated Vegetable Oil), portanto, é um óleo vegetal hidrogenado”. E é mais amigo do ambiente do que outros biocombustíveis.Segundo Armando Oliveira, o alcance da redução de emissões “depende da matéria-prima utilizada”, mas chega até 92%. “Mas todas as certificações que temos obtido até agora são de 75% para cima. Quando o produto é de origem mais florestal, chegamos a valores de redução das emissões comparadas de dióxido de carbono equivalente de 92%, portanto este é um passo importante no caminho da descarbonização”, acredita o administrador delegado da multinacional de origem espanhola.A inovação do setor coincide com o alargamento do prazo que a Comissão Europeia pretende conceder à indústria automóvel para poder continuar a fabricar veículos a combustão até depois de 2035. E isso vai implicar a da coexistência entre o modo elétrico e do térmico por um período mais longo do que se chegou a prever, mas sempre rumo à neutralidade carbónica.Armando Oliveira contextualiza que a Repsol recuou aos primórdios para criar o seu novo combustível. “Em 1892, o senhor Rudolf Diesel apresentou uma máquina numa convenção na Alemanha e registou essa patente como sendo um motor ‘diesel’, em 1897. Não havia petróleo ainda em quantidades de refinação, pelo menos na Europa, portanto, esse primeiro motor a diesel funcionou com óleo a partir de matérias vegetais, como amendoim, porque era barato, e aquilo funcionou”.Neste compromisso com a descarbonização em que “fomos pioneiros, e que começou em 2015, recuámos à origem”. A meta da Repsol é ser neutra em carbono até 2050. Para ajustar os processos de produção e montar uma nova cadeia de valor, a empresa está a fazer uma grande aposta na transformação das refinarias. “Estamos a transformar a refinaria de Cartagena e outra em Bilbao, com experiência em combustíveis sintéticos”. Mas, ao contrário do passado, em que as refinarias tinham uns tubos por onde entrava o petróleo, e saia hidrocarboneto e fumo pela chaminé, hoje há uma comboios que levam resíduos que são a matéria-prima do combustível, e produz o hidrocarbóleo, explica.Até que ponto a utilização dessas matérias-primas é sustentável e não entra em concorrência com a cadeia alimentar? “O ser renovável tem precisamente a ver com a economia circular. Tudo o que nós estamos a querer utilizar para essa matéria-prima, são, por exemplo, resíduos agrícolas que normalmente eram queimados, como nas estufas da Andaluzia. Portanto são subprodutos, não são produtos alimentares. Assim, não só deixam de produzir dióxido de carbono com esse tratamento de lixo, como há uma oportunidade de economia circular, a toda uma economia local. E, mais a montante, permite limpar a floresta, recolher os resíduos da floresta e entregá-los como matéria-prima. Portanto, até a nível da economia circular, se pensarmos nas pequenas economias locais, encaixa tudo dentro da aposta que estamos a fazer”.Sobre a chegada do combustível ao consumidor português, Armando Oliveira refere que agora “é um processo político”. Em Espanha já está disponível em 60 postos, assegura. O gestor refere que o produto está “claramente certificado pelas grandes marcas”. E esse voto de confiança é importante para lançar o produto, tanto como foi decisivo, no final do sec. XIX, a grande marca de camiões MAN ter dado luz verde ao diesel do senhor Rudolf Diesel. Por enquanto está apenas disponível para frotas cativas, que têm autorização e cartão para abastecer na bomba, porque há empresas internacionais que fazem questão de levar a sustentabilidade à letra nos seus transportes.A Repsol está na fase de pré-lançamento do produto e vai avançar com campanhas de marketing para dar a conhecer o produto junto do grande público. Mas o Nexa já foi testado pelo piloto João Ferreira, campeão nacional, ibérico e europeu de todo o terreno, nas provas, assevera o administrador. “Em Dakar foi o carro, que sem ser a gasolina ficou em oitavo lugar, o melhor português de sempre, mas atrás deles ficaram todos os diesel. Portanto, em termos de conforto do que é o produto, eu diria que o laboratório mais complicado é o campo desportivo, e aí o produto deu provas.Sobre as dúvidas de se poder ou não misturar com o gasóleo que já está no depósito do carro, Armando Oliveira garante que “o produto é perfeitamente misturável com o gásóleo”. Ou seja, “podemos utilizá-lo a 100%, nos testes que fizemos, e depois misturado, e por último, substituir por completo no carro a diesel. O lado menos positivo é que ainda tem um preço mais elevado do que o gasóleo convencional.A Repsol é a maior empresa do setor na Penísula Ibérica, com várias refinarias e está a investir nos combustíveis sintéticos também tendo em vista o mercado da aviação..Governo admite ajustamentos no preço dos combustíveis após carta de Bruxelas para acabar com descontos no ISP