O custo das casas nas periferias de Lisboa e Porto está a aguçar o apetite dos investidores, que estão a acompanhar o movimento das famílias na procura de habitação a preços mais adequados aos seus rendimentos. É nestes concelhos que estão as oportunidades para obterem níveis de rentabilidade mais elevados. Na esmagadora maioria das cidades satélite destas duas áreas metropolitanas, “os preços apresentam-se substancialmente inferiores” aos praticados em Lisboa e Porto, lembra Marco Tairum, presidente executivo da Keller Williams..“Um investimento menor permite reduzir o risco, ao mesmo tempo que a procura continua a ser alta, permitindo um retorno expectável muito interessante, tanto em termos de valor (alta rentabilidade), como em termos temporais (escoamento rápido do produto)”, justifica ..Como lembra Beatriz Rubio, CEO da RE/MAX, o preço do metro quadrado de uma casa em Lisboa ultrapassa já os 3820 euros, mas em Cascais - o segundo concelho mais caro do país -, está em 3320 euros, menos 500 euros. Em Sintra, ronda já os 2000 euros. No Grande Porto, a realidade é semelhante: no concelho do Porto, o preço do metro quadrado está nos 2600 euros, muito acima dos 2060 euros de Matosinhos ou dos 1800 euros registados em Vila Nova de Gaia. “São estas diferenças que conduzem as famílias às regiões periféricas e com elas, os investidores”, conclui..Segundo Rui Torgal, líder da ERA, há de facto “uma maior aposta dos investidores nestas regiões devido à intensificação da procura de clientes compradores nestas mesmas zonas”. Apesar de valor médio das vendas ter aumentado, “as oportunidades de investimento, devido ao crescimento da procura, também são maiores e os preços, sobretudo quando comparados aos das grandes cidades, também são mais competitivos não apenas para investidores como também para os consumidores”, explica..Para Beatriz Rubio, o crescimento do movimento aquisitivo dos investidores nas cidades à volta de Lisboa e Porto “é natural e expectável, pois acompanha a própria deslocação da procura do centro para as periferias pela população”. É também “o reflexo do crescente esgotamento das boas oportunidades de investimento nos centros urbanos”, conclui..Os mercados periféricos e as cidades secundárias “oferecem maior oferta de imóveis a preços que permitem retornos atrativos”, concorda Ricardo Sousa, CEO da Century 21. Como defende, é nesses territórios que ainda “há margem para crescimento nos preços, ainda acessíveis para quem procura comprar”. O gestor lembra ainda que o valor das rendas nas periferias “não difere tanto em relação aos concelhos centrais quanto os preços de compra, tornando estas áreas mais apelativas para investimento”..Para Alfredo Valente, líder da Iad, a grande oportunidade para os detentores de fundos poderá estar no comprar para arrendar, “mas este mercado está carente de um enquadramento mais favorável para o investidor, tanto do ponto de vista fiscal como legal”. No negócio de comprar para vender, os grandes centros urbanos não proporcionam, hoje em dia, “oportunidades suficientemente interessantes”, considera. O responsável lembra que os investidores procuram alternativas à medida que as yields (taxa de rentabilidade) vão ficando cada vez mais baixas e, nesse quadro, “cidades com comunidades estudantis importantes têm despertado o interesse dada a escassa oferta e consequente rapidez de absorção do mercado”, mas também “localidades mais pequenas e remotas onde as yields permanecem interessantes e o risco de investimento é menor”..Não há demónios.“Os investidores desempenham um papel importante no mercado e não creio que a solução do problema passe por ‘demonizá-los’”, frisa Rui Torgal. Em obra nova, é habitual entrarem em fases muito precoces do projeto, financiando os construtores e promotores. “É natural que, por entrarem em fases muito prematuras, com todo o risco que isso acarreta, os investidores queiram ser devidamente ressarcidos”, diz. Na percepção de Alfredo Valente, estes agentes compram para arrendar imóveis usados, já quando são novos o objetivo é adquirir para vender..“Há investidores que preferem comprar para revender, apesar do aumento elevado dos custos de remodelação, e outros que compram para ‘manter’, rentabilizando assim o capital que têm disponível”, defende Marco Tairum. Na sua opinião, os benefícios fiscais recentes, como as medidas de apoio aos jovens para aquisição e a baixa da taxa de imposto para arrendamentos com duração superior a cinco anos, “têm potenciado ambas as opções”..O que os agentes imobiliários contactados recusam é que a subida dos preços das casas seja imputada aos investidores. Para Beatriz Rubio, “renovando, reutilizando e remodelando, seja para revender seja para arrendar, na prática colocam mais unidades no mercado, favorecendo a oferta”. No mercado de arrendamento, “o investidor é a fonte da oferta. É fundamental e deve ser acarinhado, motivado e compensado”, sublinha por sua vez Alfredo Valente..Marco Tairum recorda que “os preços estão em crescimento há vários anos, independentemente da maior ou menor procura por parte de investidores”. Para este gestor, o reduzido stock para venda é, por si só, “o fator que condiciona os preços e que os continua a pressionar no sentido da subida”. Também Rui Torgal aponta a falta de construção (logo, a escassez de oferta) como a principal causa para os elevados preços das casas.