Dez anos após o Acordo de Paris, o mundo voltou a reunir-se esta segunda-feira com o clima na agenda da COP30, em Belém do Pará, Brasil. Mas é uma corrida atrás do prejuízo, visto que ao ritmo atual de agravamento das emissões já não deveremos conseguir evitar o aumento de 1,5 graus na temperatura média do globo até ao final do século - já vamos nos 2,5 graus -, tal como alertou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. Só com uma correção da trajetória. Mas, esta segunda-feira, na sessão de abertura da 30ª conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, Simon Stiell, seu secretário executivo, deu um sinal de esperança: citou a ciência para dizer que ainda é possível impedir um aumento da temperatura acima dos 1,5ºC, após um desvio acima desse valor.Simon Stiell salientou que é preciso agir “muito mais rápido” porque os desastres climáticos “consomem duas casas decimais” do PIB global, além de provocarem milhares de mortes”. Hoje, afirmou, “as energias solares e eólica já são mais baratas do que as fósseis em 90% do mundo”, pelo que, exortou, é o momento de triplicar a produção de energias renováveis.Portugal pontua bem na produção de renováveis e participa na COP 30 com o mote “energia limpa, justiça social e cooperação entre povos”, sublinhou a ministra do Ambiente e da Energia que chefia a comitiva portuguesa. Respondendo ao repto para acelerar, Maria da Graça Carvalho chega a Belém com um Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC 2030) revisto e mais ambicioso, que fixa metas de 55% de redução de emissões face a 2005 e de 51% de energias renováveis no consumo final de energia, e com o Roteiro para a Neutralidade Carbónica como referência para o planeamento e investimento público e privado. O país foi um dos primeiros países a definir esse objetivo para 2045 e tem vindo a acelerar a transição energética. “Mais de dois terços da eletricidade consumida no país provêm já de energias limpas — uma das maiores percentagens na União Europeia — e as metas nacionais continuam a aumentar em ambição, com o objetivo de atingir 85% de eletricidade renovável até 2030”, lembra a ministra.Mas é preciso atuar também na frente da mitigação dos efeitos das alterações climáticas que se fazem sentir já um pouco por todo o mundo, desde as cheias e temporais devastadores aos incêndios incontroláveis. Nesta frente, o Governo tem investido milhões de euros na adaptação às alterações climáticas, através de uma gestão integrada dos recursos hídricos, da prevenção de cheias, da proteção costeira e do restauro de ecossistemas naturais.Mas, porque de pouco servem os esforços dos países ocidentais se não forem acompanhados de acções no resto do Globo, a ajuda ao desenvolvimento dos países menos desenvolvidos é um pilar central da ação climática. Espera-se que esta COP coloque em prática o que foi decidido na COP29, nomeadamente em relação aos 300 mil milhões de dólares anuais para apoiar a transição justa dos países menos desenvolvidos.Nesta matéria, Portugal aposta num modelo de financiamento que considera “inovador” e que assenta na conversão de dívida em investimento climático em Cabo Verde e, em breve, em São Tomé e Príncipe. Este modelo poderá ser alargado a outros países da CPLP, consolidando uma rede de parcerias no espaço lusófono em torno da transição climática e energética”, revelou a ministra.O corte nas ajudas ao desenvolvimento por parte dos Estados Unidos, determinado pela administração de Donald Trump, vem dificultar ainda mais a transição energética dos países mais pobres que, em regra, são os menos poluidores, mas os mais expostos às consequências do aquecimento global.