As alterações climáticas, a poluição e a perda de biodiversidade constituem uma “tripla crise planetária”, que precisa urgentemente de medidas mais ambiciosas e políticas menos fragmentadas, alertou a OCDE (Organização para o Desenvolvimento e Cooperação Económica) esta quarta-feira, 26 de novembro. Nas suas perspectivas ambientais até meados do século, a organização estima um agravamento das condições ambientais até 2050, se não foram tomadas mudanças estruturais profundas.Avisando que “os custos da inação política são elevados”, a OCDE argumenta, no entanto, que ainda é possível. Enfrentar estes desafios é não só “alcançável” como “financeiramente viável”, desde que o mundo se comprometa com um investimento massivo. No seu relatório, estima que “um pacote de políticas ambiciosas custaria cerca de 1% do PIB mundial em 2030, com benefícios a longo prazo que superam largamente os custos.”Sem uma maior nível de investimento no triângulo da crise (alterações climáticas, poluição e perda da biodiversidade), a degradação vai acentuar-se, dizem os cientistas.A poluição por plásticos, por exemplo, poderá aumentar cerca de 64% - de 22 milhões de toneladas (Mt) em 2020 para 37 Mt em 2050 -, enquanto a biodiversidade continuará em perda pela redução dos habitats naturais disponíveis.Quanto à poluição da água, nos rios e nos oceanos, o relatório confirma que uma vasta área do continente já excede os limites de segurança para a concentração de nutrientes.A água é justamente um dos pontos mais críticos para Portugal, com a perspetiva de menos pluviosidade e mais anos de seca, a conduzirem as regiões mais a sul para um cenário de escassez. A gestão da água é, por isso, uma preocupação, já anteriormente apontada, com a disponibilidade a diminuir e pressões crescentes da agricultura sobre os recursos hídricos.A OCDE emitiu 26 recomendações em 2023 para ajudar Portugal a melhorar a coerência política e a impulsionar uma recuperação económica verde, enfatizando a necessidade de descarbonização em todos os setores e uma melhor gestão da água e resíduos. Está, entretanto, em curso uma nova abordagem ao problema com a implementação do porjeto Água que Une e investimentos em barragens.Portugal costuma surgir nestes relatórios com bom desempenho na redução de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e no desenvolvimento de energias renováveis, tendo conseguido dissociar o consumo de energia do crescimento económico, mas com maus indicadores na gestão de resíduos e na reciclagem. O país enfrenta ameaças significativas, como secas, incêndios florestais e erosão costeira.Sobre o que os governos podem fazer para inverter a crise ambiental, a OCDE recomenda, por exemplo, um repensar de todo o sistema alimentar. “São necessárias políticas para reduzir o impacto ambiental da produção e do consumo de alimentos. Isso é fundamental para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, mitigar a degradação dos ecossistemas decorrente da expansão e intensificação do uso da terra para a agricultura e aliviar a poluição por nutrientes. Os governos podem considerar a revisão de regulamentações e salvaguardas com o objetivo de reduzir as emissões, modificar os hábitos alimentares e diminuir as perdas e o desperdício de alimentos”, sustenta o relatório agora divulgado.Outra recmendação é uma transformação no uso dos recursos com vista a uma economia mais circular. “É necessária ação em todo o ciclo de vida dos materiais, incluindo a integração da economia circular em outras áreas políticas, a exploração de sinergias com setores de uso intensivo de recursos, o fortalecimento e o realinhamento de incentivos e o aproveitamento de intervenções voltadas para a procura”.Mitigar os impactos não intencionais da transição para energias limpas também é uma orientação para enfrentar a crise. Uma melhor avaliação e gestão dos impactos não intencionais da transição para energias limpas é essencial para que os impactos negativos na biodiversidade e na poluição não se tornem um obstáculo à expansão acelerada das energias renováveis, observa o relatório. “O planeamento espacial e instrumentos regulatórios, como licenciamento e autorizações, bem como uma melhor gestão do destino final dos equipamentos, podem ajudar a limitar os potenciais impactos negativos da expansão das energias renováveis sobre a biodiversidade e os objetivos de controle da poluição”.