Mário Centeno diz que aumento de gastos em Defesa não deve ser “instrumental”
O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, afirmou esta quarta-feuira, através de uma mensagem gravada para um colóquio sobre os desafios da União Europeia, que teve lugar no Grémio Literário, em Lisboa, que “o aumento dos gastos [em defesa na Europa] não é instrumental e não é o que se pretende”, destacando como necessário a criação de “planos verdadeiramente europeus e bem desenhados” para defender o velho continente, mas que não tenham como objetivo fortalecer a economia por esta via.
No evento organizado pelo Instituto Benjamin Franklin e pela Grande Loja Regular de Portugal (GLRP), o ponto de partida para a análise dos desafios europeus, não só da União Europeia, foram os relatórios elaborados pelos antigos primeiros-ministros italianos Enrico Letta e Mario Draghi, assentando o primeiro na introdução da investigação e da inovação no plano das liberdades fundamentais do mercado único europeu, e o segundo em estratégias de reforço da competitividade da Europa no plano global. A discussão contou com as participações de António Mendonça, Margarida Marques, Mário Caldeira Dias e Carlos Santos Ferreira como oradores.
Na sua intervenção, Centeno defendeu a integração do sistema financeiro como forma de financiar os planos europeus para a defesa e também o investimento em tecnologia, com a concretização da “união das poupanças e dos Investimentos”.
“É importante completar a União Bancária e desenvolver a União de Mercado de Capitais”, explicou o economista, justificando a ideia com a necessidade do espaço comunitário “ter um sistema financeiro competitivo e integrado, que permita canalizar as poupanças elevadas dos europeus para investimentos na Europa, revertendo a tendência dos últimos anos em que parte significativa dessa poupança foi investida no exterior”.
Adicionalmente, o governador sustentou que devem “ser explorados outros instrumentos para fazer face aos desafios comuns” da UE, como a “existência de dívida comum e de ativos seguros em euros”.
Como remate, Mário Centeno classificou como desafiante o momento atual e reafirmou que será necessário tomar decisões difíceis, “por terem associado um desfasamento temporal entre os potenciais custos e benefícios”.
“A Comissão Europeia apresentou em janeiro um plano estratégico para os próximos cinco anos, muito em linha com o relatório Draghi”, lembrou, insistindo, de forma velada, no tema da defesa: “Desde então já apresentou iniciativas em algumas áreas. Será crucial que as medidas sejam bem desenhadas e implementadas. É também relevante uma boa comunicação”.
No plano dos desafios, Mário Centeno tinha destacado o “fraco crescimento económico, com baixa produtividade” e “investimento reduzido”, ao qual acrescentou o facto da União Europeia “ser uma das economias mais abertas e ter dependência elevada” no que diz respeito a “materiais, produto ou cadeias de produção”.
Para além disto, Mário Centeno acusou o velho continente de não ter potenciado a existência de um “mercado único e uma população cada vez mais qualificada”, elementos que foram evidenciados pelos relatórios Letta e Draghi.
“O atual contexto geopolítico torna ainda mais premente a necessidade de agir para que a União Europeia consiga prosperidade económica e se mantenha como um exemplo de estabilidade”, concluiu.