Metade da economia portuguesa estava estagnada, a caminho ou já mesmo em recessão técnica no segundo trimestre deste ano, mostram as contas nacionais divulgadas esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Valeu a outra metade, evitando pior para o Produto Interno Bruto (PIB)..Em termos reais, a economia nacional cresceu 1,5% no segundo trimestre (idem no primeiro semestre), mas esta é a marca mais fraca desde o início de 2021, em plena pandemia..Em cima disto, surgiu a notícia de que a inflação aliviou bastante em agosto (baixou para 1,9%), mas vários economistas avisam que será alívio de curta duração: os preços voltaram a acelerar mais ainda este ano..Segundo o INE, “o contributo positivo da procura interna para a variação homóloga do PIB aumentou no 2º trimestre, verificando-se uma aceleração do investimento e do consumo privado”, mas o contributo da procura externa líquida “foi negativo, após ter sido positivo nos dois trimestres anteriores”..Portugal agravou a sua dependência externa a nível comercial, “tendo as importações de bens e serviços acelerado de forma mais acentuada que as exportações de bens e serviços”..Por grandes ramos da economia, consegue-se ter uma noção mais clara sobre onde podem estar os maiores constrangimentos. De acordo com uma análise do DN/Dinheiro Vivo à variação do PIB entre trimestres (em cadeia), atualmente, em Portugal, existem três ramos de atividade que já se encontram em recessão (dois trimestres consecutivos de quebra no respetivo Valor Acrescentado Bruto ou VAB): agricultura e pesca (cedeu 1% em termos reais no primeiro trimestre e 0,8% no segundo); energia e água (-3,7% e -0,8%); e a construção, que perdeu quase 1% no primeiro trimestre e 0,2% agora. Juntos estes setores valem cerca de 8% do PIB português, sendo a construção o mais importante, valendo cerca de 4% da economia..Mas há mais dificuldades no horizonte. Há atividades que entraram no vermelho neste segundo trimestre. Mais um assim e caem em recessão técnica. A indústria, que vale mais de 12% da economia, sofreu um retrocesso no VAB superior a 3%. Pior: em termos homólogos, o setor está em declínio desde o final de 2022, portanto, há quase dois anos que se debate com uma conjuntura bastante negativa..O ramo dos serviços, que vale quase 27% (outros serviços que não comércio, alojamento e restauração, transportes, setor financeiro e consultoras), também já se debate com dificuldades. Aqui o VAB cedeu quase 3% face ao primeiro trimestre. Há dois anos que não se via uma contração nesta parte da economia..O INE revelou ontem que o movimento descendente da inflação continuou em agosto, tendo a variação homóloga dos preços no consumidor aliviado para apenas 1,9%, já dentro do objetivo da Zona Euro e do BCE..Vânia Duarte, economista do departamento de estudos do BPI, diz que se trata de um bom sinal, mas avisa que “alguns obstáculos deverão colocar-se no caminho”. “O Governo anunciou a retirada parcial dos apoios aos combustíveis (nomeadamente, o descongelamento também parcial da taxa de carbono)” e “a Galp anunciou que vai atualizar os preços da eletricidade e do gás natural em outubro, de 9% e 16%, respetivamente”. A analista do BPI Research nota também que “a ERSE tinha anunciado aumentos de 6,9% nas tarifas e nos preços do gás natural a partir também em outubro, no mercado regulado”. Estes fatores “suportam a nossa expectativa de crescimentos de preços mais expressivos nos últimos meses do ano”, remata..Contas voltam ao excedente.Ontem soube-se também que começa a ganhar forma um possível “brilharete” orçamental, como pretende e prevê o governo de Luís Montenegro e Joaquim Miranda Sarmento. Depois de quatro meses de défice público, as contas do Governo voltam a registar um saldo positivo em julho, revelam as Finanças..Depois de um primeiro semestre muito negativo - no período de janeiro a junho de 2024, o país registou um défice público de 2731 milhões de euros -, em julho as contas inverteram totalmente a situação. Reapareceu um excedente superior a mil milhões de euros (1060 milhões), apoiado “sobretudo” num forte crescimento do IRC, de quase 35%.