Mercadona ganha dinheiro pela primeira vez em Portugal. "2024 foi um ano espetacular”, diz presidente

Cinco anos depois de atravessar a fronteira e arriscar a dar o primeiro passo na internacionalização para Portugal, a Mercadona conseguiu ganhar dinheiro no país. Pela primeira vez, em 2024, o grupo retalhista liderado por Juan Roig apresentou um resultado líquido positivo de 7 milhões de euros.

"Pela primeira vez Portugal foi rentável. Apresentamos lucros, estamos muito satisfeitos com Portugal e perspetivamos continuar a desenvolver o mercado", referiu esta terça-feira, 11, o presidente do maior grupo de distribuição espanhol durante a conferência de imprensa de apresentação de resultados realizada em Valência, Espanha, onde está localizada a sede da empresa. O responsável admitiu, contudo, que o valor ficou abaixo do perspetivado.

"Os lucros irão continuar a aumentar no próximo ano, o objetivo é duplicar [para os 14 milhões de euros]. As 60 lojas em Portugal já estão todas consolidadas e são todas muito rentáveis", garantiu.

Depois dos últimos prejuízos de 50 milhões de euros em 2022, o break-even chegou no ano seguinte, antecipando a viragem das contas para o verde em 2024.

“2024 foi um ano espetacular, estamos em dois países [Espanha e Portugal] onde a economia funciona muito bem", reiterou Roig.

O fundador e principal acionista da Mercadona elogiou o papel do turismo nos resultados das duas geografias. "Só em Espanha recebemos 100 milhões de turistas. É o principal setor económico do país e temos de cuidar dele”, apontou.

As vendas consolidadas da cadeia de supermercados cresceram 27%, atingindo os 1778 milhões de euros, que comparam com os 1403 milhões de euros do exercício anterior.

No global da operação ibérica, as receitas portuguesas pesaram perto de 5% do total dos 38.835 mil milhões de euros faturados nos dois países vizinhos.

A empresa espanhola abriu 11 supermercados em 2024 em Portugal e expandiu a sua presença para dois novos distritos: Guarda e Évora. Com estas aberturas, terminou o ano com um total de 60 lojas localizadas em 12 dos 18 distritos do país.

Contas feitas ao investimento, no ano passado a Mercadona aplicou 219 milhões de euros na operação lusa e, para 2025, o montante será de 157 milhões de euros. No acumulado e desde que chegou a Portugal, a Mercadona investiu mil milhões de euros.

Mercadona abre 10 novos supermercados em 2025 e chega à cidade de Lisboa

O plano de expansão traçado até dezembro prevê uma dezena de inaugurações, elevando para 70 o número de estabelecimentos da marca em território nacional. Uma das novidades no mapa de desenvolvimento é a chegada à capital portuguesa.

Depois de consolidar a sua presença no Norte, a Mercadona chegará à cidade de Lisboa com duas novas lojas: uma localizada na Quinta do Lambert, no Lumiar, e outra na Alta de Lisboa, onde será também instalado o novo escritório que complementará a unidade central de Vila Nova de Gaia, onde a empresa tem a sua sede portuguesa.

A lista de novos espaços inclui ainda mais oito supermercados em Loures (Santa Iria de Azóia e Frielas), Penafiel (Milhundos), Fafe, Leiria (Vale Sepal), Matosinhos (São Gens), Palmela e Porto (Amial).

O anúncio da internacionalização da cadeia de distribuiçãos espanhola foi feito em 2016 e, três anos depois, a retalhista inaugurou a primeira loja em Portugal em Canidelo, Vila Nova de Gaia. O projeto de desenvolvimento em território nacional começou a ser desenhado a Norte, com a abertura dos 10 primeiros espaços da insígnia no Porto, em Braga e em Aveiro.

Atualmente, a empresa conta com dois centros logísticos em Portugal: um na Póvoa de Varzim e o mais recente, inaugurado no ano passado, em Almeirim, no distrito de Santarém.

A Mercadona dispõe ainda de dois centros de coinovação, localizados em Matosinhos e Lisboa, e está atualmente a criar um hub de desenvolvimento de software na sede da operação em Portugal, em Vila Nova de Gaia, que será integrado na Mercadona IT, responsável pela digitalização da empresa.

O objetivo deste hub é colaborar com a equipa espanhola, focando-se na digitalização e na reengenharia dos mais de 300 sistemas internos e de aplicações utilizadas nos mais de 1.600 supermercados da cadeia, em Portugal e Espanha, assim como nos seus 17 centros logísticos.

Compras a fornecedores portugueses atingem os 1400 milhões de euros

A Mercadona, através da empresa portuguesa Irmãdona Supermercados, contribuiu, em 2024, com 237 milhões de euros em impostos no país e comprou 1400 milhões de euros a fornecedores portugueses, um aumento de 19% face a 2023.

No final de dezembro, a empresa empregava sete mil trabalhadores no país, mais 1700 face a 2023. Na soma da operação ibérica, o número de funcionários ascendeu aos 110 mil numa rede de 1674 lojas.

Em Portugal, a Mercadona precisa de "ser mais portuguesa", reiterou Juan Roig. "Falta-nos oferecer determinados produtos que ainda não conhecemos. Toda a gente come bacalhau em Portugal, mas há coisas que se consomem a Norte que são diferentes do Centro e do Sul", justificou.

"Precisamos de falar mais português, ter mais fornecedores portugueses e que todos os nossos diretores (no país) sejam portugueses", vincou.

No global, a Mercadona apresentou um resultado líquido positivo de 1.384 milhões de euros, o que representa uma subida de 37% face ao ano passado. A retalhista reinvestiu 1.109 milhões (cerca de 80 %) na empresa e os restantes 275 milhões (cerca de 20 %) em dividendos.

Para este ano, o objetivo é investir, globalmente, mil milhões de euros, criar mil novos postos de trabalho e incrementar as vendas em 3,5% para os 40.100 milhões de euros.

A jornalista viajou para Valência a convite da Mercadona