As taxas de juro oficiais da Zona Euro, definidas pelo Banco Central europeu (BCE), vão continuar nos 2% nos próximos meses, eventualmente, por mais dois anos, até final de 2027, muito porque os salários abrandaram de forma notória, ajudando assim a ancorar a inflação nos 2%, como procura o BCE. A taxa de juro de 2% representa o valor mais baixo desde o final de 2022.Esta quarta-feira, no Parlamento Europeu (PE), em Bruxelas, a presidente do banco central, Christine Lagarde, enalteceu o papel da moderação salarial, assinalando que esta ajuda muito a manter a inflação nos desejados 2%, logo, também o BCE fica mais à vontade para deixar os juros inalterados em 2%, nível onde se encontra a taxa de depósito (a principal taxa de juro para efeitos da política monetária gizada em Frankfurt) desde junho deste ano.Aos eurodeputados da comissão de economia e finanças, Lagarde explicou que “a redução da inflação em direção à nossa meta de médio prazo [2%] foi sustentada por uma moderação gradual do crescimento dos salários, que passou de um pico de 5,7% no segundo trimestre de 2023 para 3,9% no mesmo trimestre deste ano”.“Os indicadores prospetivos, como o rastreador salarial do BCE e os inquéritos sobre as expectativas salariais, apontam para um crescimento salarial mais lento no resto do ano e no primeiro semestre de 2026”, acrescentou a líder da autoridade monetária.Depois, avançou que “esperamos que a inflação se mantenha em torno da nossa meta de 2% nos próximos meses”, quase o equivalente a dizer que o nível atual das taxas de juro é o mais certo e adequado, devendo assim permanecer por mais alguns meses.Por norma, o BCE costuma dizer que não se compromete antecipadamente com o curso das taxas de juro, que as suas decisões são tomadas “reunião a reunião” e “dependentes dos dados” mais recentes que forem incorporados nos modelos de Frankfurt.OCDE diz que mexidas de juros terminaram até final de 2027Esta semana, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) reiterou o que já vem dizendo há três meses: que a taxa principal do BCE vai ficar em 2% até ao final de 2027, pelo menos. Ou seja, para já, terminaram as mexidas nas taxas de juro que famílias, empresas e Estados da Zona Euro sentem na pele, seja por via da dívida contraída e dos empréstimos, seja ao nível da remuneração das poupanças (depósitos).“Na Zona Euro, prevê-se que as taxas de juro de referência se mantenham inalteradas até ao final de 2027, com a inflação a manter-se próxima do objetivo e a taxa de facilidade de depósito nos 2%”, afirma a OCDE no novo estudo sobre as perspetivas económicas (outlook).A entidade sediada em Paris acrescenta ainda que a redução das participações em obrigações do Eurossistema deve “continuar, em termos gerais, ao ritmo observado em 2025, sem qualquer reinvestimento dos resgates ao abrigo do programa de compras de ativos ou do programa de compras de emergência pandémica”.Cenário global é um "obstáculo"Lagarde continuou o seu testemunho perante os deputados europeus, dizendo que “olhando para o futuro, o crescimento da atividade económica deverá beneficiar do aumento do consumo das famílias e de um mercado de trabalho resiliente e mais inclusivo – com a maior taxa de participação na força de trabalho desde o início da Zona Euro”.O BCE também espera que “os gastos substanciais em infraestruturas e defesa impulsionem a atividade económica”, embora o cenário global continue um “obstáculo”, à medida que “o impacto das tarifas” sobre as exportações da zona euro e o investimento industrial “continua a materializar-se”.Seja como for, para Lagarde os riscos para as perspetivas da economia europeia tornaram-se agora “mais equilibrados graças ao acordo comercial UE-EUA alcançado durante o verão, ao cessar-fogo no Médio Oriente e aos progressos nas negociações comerciais EUA-China”. Mas a incerteza ainda reina “devido ao ambiente comercial global volátil, a uma possível deterioração do sentimento do mercado financeiro e às tensões geopolíticas”, sublinhou.As próximas projeções oficiais do BCE serão publicadas a 18 de dezembro e “irão lançar mais luz sobre as perspetivas de crescimento e inflação”, indicou.Críticas ao projeto da Comissão para criar fundo de apoio à UcrâniaNo PE, a chefe do BCE avisou ainda que a solução proposta pela Comissão Europeia (CE) para criar um fundo com ativos russos entretanto congelados e parqueados na instituição financeira Euroclear (na Bélgica) não pode ter o respaldo, nem quaisquer tipos de garantias da parte do BCE.Lagarde frisou que o banco central nunca irá fornecer liquidez de emergência, se necessário, ao proposto empréstimo de reparações à Ucrânia financiado por um fundo “assente em bens russos imobilizados”. Tal pressuposto viola os tratados europeus, acenou.“Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para apoiar a Ucrânia, mas não violaremos os tratados”, o o BCE jamais atuará como “um mecanismo de apoio para substituir os compromissos que os Estados-membros devem assumir por meio de garantias com a Bélgica, onde os riscos estão concentrados”.“Não fui nomeada presidente do BCE para violar os tratados, não podemos subsidiar as obrigações dos Estados-membros”. Ou seja, “a minha esperança é que tenha ficado claro que essa é uma obrigação orçamental”, dos governos nacionais e da União, nunca do BCE, insistiu Lagarde..BCE mantém taxa de juro principal em 2% e assim deve ficar até 2027.OCDE diz que descida das taxas de juro na Europa terminou