Há um aumento significativo de portugueses com dificuldades em cumprir os seus compromissos mensais devido, essencialmente, à falta de dinheiro e a salários em atraso. Numa altura em que o país apresenta um nível de emprego elevado, a economia cresce e a inflação está controlada, é de assinalar que o número de portugueses em incumprimento no pagamento de contas devido ao não-recebimento de salário quase duplicou, segundo revela o estudo European Consumer Payment Report, da Intrum, ao qual o DN teve acesso em primeira mão. Na edição deste ano do relatório, 21% dos consumidores portugueses afirmou não ter cumprido as suas obrigações porque não recebeu o salário, quando em 2024 só 12% avançou com essa justificação. Recuando mais um ano, a percentagem de pessoas que alegaram esse problema foi apenas de 8%. O estudo dá nota de que os homens são mais afetados do que as mulheres nesta matéria: 26% contra 16%. Na observação regional, verifica-se que é no Alentejo (55%) e na Área Metropolitana de Lisboa (22%) onde há mais trabalhadores a não receberem os seus salários no fim do mês. A falta de dinheiro continua, no entanto, a ser a principal razão apontada pelos consumidores nacionais para não pagarem as contas dentro dos prazos, mas regista uma tendência decrescente. Este ano, 40% dos inquiridos no relatório da empresa de serviços de gestão de crédito dão essa justificação, sendo que nos dois anos anteriores os indícios de dificuldades eram mais graves (46%, em 2024; 51%, em 2023). Não ter dinheiro é uma razão especialmente apontada pelas pessoas nascidas entre 1997-2012 (a Geração Z). Segundo o relatório, em 2024, quase um em cada três (28%) afirmou não ter fundos para pagar as contas, mas esse valor subiu para 46% em 2025. O esquecimento em liquidar as dívidas foi a justificação dada por 27% dos consumidores. Ainda assim, 77% dos inquiridos disse ter respeitado os seus compromissos dentro dos prazos, embora esta percentagem traduza uma quebra face aos 85% que em 2024 afirmaram assegurar os pagamentos a horas. O retrato da saúde financeira dos portugueses que sai deste estudo é sombrio. O aumento do custo de vida dos últimos anos (subida da inflação e dos juros), teve um impacto negativo permanente em 62% dos portugueses, muito acima da média europeia, que se situa nos 43%, aponta o estudo, que ouviu consumidores em 20 países europeus. Nas Gerações Z e X, quase 70% dos inquiridos realçam esse problema. Foi no Alentejo, Açores, Madeira e Área Metropolitana de Lisboa onde os inquiridos se sentiram mais fragilizados com o incremento do valor das despesas. Verifica-se, no entanto, um ligeiro decréscimo na percepção da capacidade dos portugueses para sustentar a família: 60% em 2025, comparados com 62% em 2024. Neste contexto, não é de estranhar que a saúde mental dos portugueses revele sinais de desgaste. Segundo a análise à situação nacional, que se baseou em mil respostas de adultos portugueses responsáveis, total ou parcialmente, pela gestão financeira pessoal ou doméstica, quase metade (47%) refere sentir ansiedade ao acompanhar notícias sobre instabilidade económica. O estudo mostra ainda que a ansiedade afeta mais as mulheres (53%) do que os homens (41%), sendo a geração Z novamente a mais impactada (52%).Apesar deste cenário, 60% dos portugueses inquiridos no estudo afirmam poupar todos os meses para um fundo de emergência, valor idêntico à média europeia. As mulheres são mais poupadas (64%) do que os homens (56%) e é no Norte e Centro do país que essa prática tem mais adesão (64%). Mas esse mealheiro não é para abrir sem razão ponderada. A fragilidade económica é uma sensação muito real entre os portugueses. O relatório da Intrum sublinha a existência de 68% de consumidores que hesitam em comprar casa ou automóvel devido à incerteza económica, muito acima da média europeia (45%).E, mais uma vez, é a Geração Z que evidencia mais receios face a aquisições que exijam montantes elevados.Esta falta de confiança no futuro, estende-se também ao mercado de trabalho, com 62% dos participantes no estudo em Portugal a mostrarem receio em mudar de emprego ou em iniciar um negócio, mais 12 pontos percentuais que a média europeia. .Crédito garantido por penhor cresce à boleia da valorização do ouro .Empresas de defesa ganham via verde para financiamento na Euronext