O painel sobre a banca e as empresas da 8.ª edição da Money Conference.
O painel sobre a banca e as empresas da 8.ª edição da Money Conference. Paulo Spranger

Gonçalo Regalado: "Temos de encontrar uma solução para que algum financiamento possa ter subvenção"

Portugal precisa de mais investimento, defende o CEO do Banco de Fomento. Empresários pedem que banca seja mais ágil e acelere a digitalização.
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As empresas portuguesas não estão sobre endividadas, "o que há é falta de investimento", defendeu Gonçalo Regalado, CEO do Banco Português de Fomento esta segunda-feira na 8ª edição da Money Conference, conferência anual do Diário de Notícias e Dinheiro Vivo sobre a banca e o sistema financeiro nacional. "Quando olhamos para os grandes indicadores económicos da economia portuguesa, percebemos que a dívida de empresas já está abaixo da média da União Europeia", sublinhou.

Neste contexto, "o que nós temos que fazer é permitir aos empresários investirem para que o investimento seja um melhor retorno do que amortizar em dívida", considerou. Para isso, "temos que criar instrumentos que permitam aos empresários investirem com simplicidade, com transparência, com inovação, com modernidade" e "dar alguns incentivos para que a dívida possa ter subvenções".

"Não podemos ter só vantagens fiscais ou vantagens de investimento para projetos que na verdade são financiados a 100% por capitais próprios. Temos que encontrar uma solução em que, como tivemos na covid, algum do financiamento possa ter subvenção e com essa subvenção possa, na verdade, fomentar o investimento", defendeu.

Como lembrou na conferência, "nós, quando tivemos aqui a troika, tínhamos 127% de dívida de empresas sobre o PIB. Hoje temos um indicador de 70%. Alemanha tem 60%. A Espanha tem 68%. Ou seja, nós o que precisamos é de investimento."

Já Nuno Marques, CEO do grupo Visabeira, considerou que a banca "está sempre interessada" em apoiar bons projetos. Agora, ao longo dos últimos 20 anos, depois da grande crise financeira ocorrida, "a banca também foi crescendo naquilo que são os seus níveis de análise de risco de projetos de investimento para financiar", disse na sua intervenção. Se as empresas querem "ter mais suporte da banca e não o sentem, eu julgo que para todos os bons projetos, a banca está sempre interessada", frisou.

Por sua vez, Marco Galinha, CEO do grupo Bel e proprietário do Global Media Group, chamou a atenção para as questões de compliance (cumprimento de procedimentos e regras obrigatórias). Na sua opinião, em Portugal "estamos a ir muito mais longe do que é pedido, e isso, o excesso de regulamentação, pode atrasar o nosso país". Para o empresário, "é essencial haver compliance", mas em Portugal é "tudo lento, tudo pesado".

Segundo frisou na sua intervenção, "trabalho com talvez o maior banco do mundo [...] e, em 25 anos, nunca tive um tema de compliance". Já "em Portugal, não me recordo de passarem 15 dias, em 87 empresas, que não exista um problema".

Em resposta, Gonçalo Regalado defendeu que o compliance devia ser central. "Se o compliance na Caixa é igual ao do BCP, ou do Santander, ou do BPI, ou do Montepio, ou do Crédito Agrícola, por que diabo é que todos temos de fazer o mesmo?", questionou. Na sua opinião "um faz compliance, os outros confiam nesse compliance". Caso contrário, "triplicávamos trabalho com zero produtividade".

Gonçalo Regalado sublinhou ainda que o trabalho do Banco Português de Fomento "é simplificar a vida dos empresários, respeitando os reguladores, os supervisores e todo o enquadramento que temos". E esse "não começa só em Portugal, aliás, eu acho que ele desagua em Portugal, mas começa sobretudo em Bruxelas", disse.

O responsável defendeu que o país deve ser mais ágil e rápido na avaliação dos processos de financiamento. E a título de exemplo frisou que "há quatro meses e meio, para fazer uma candidatura simples, singela, de uma PME, ou de uma média empresa, eram precisos 14 documentos obrigatórios, com a possibilidade de 27. O printing desses documentos era superior a uma resma de papel. Demorávamos 49 dias a fazer a avaliação de uma garantia de crédito", contou.

Agora, "são cinco documentos, e só não são três, porque há dois documentos que os colegas da AMA estão agora a digitalizar, que são o RCBE, o Registo Central do Beneficiário, e a certidão do Registo Comercial", fez notar. Quando estiverem digitalizados, serão três, que "são os que contam para o crédito, o plano de investimento, o balancete mais atualizado e a demonstração de cash-flows", sublinhou.

A digitalização na banca foi aliás uma das matérias que o CEO do grupo Visabeira considerou essencial na sua intervenção. Como disse, "a banca já tem feito esse papel e essa evolução, mas ainda tem de evoluir bastante mais na digitalização da relação com as empresas. Simplificar, no fundo."

Nuno Marques considerou também que o compliance é vital para o sistema financeiro, "a integridade das nossas operações, a credibilidade, mas não pode comprometer aquilo que é a flexibilidade, a agilidade empresarial. Isso é que não pode fazer, e portanto, o sistema de compliance tem que evoluir", concluiu.

Na conferência, Marco Galinha destacou também a importância dos centros de decisão, numa alusão ao processo de venda do Novobanco que tem atiçado o interesse dos espanhóis. "Os centros de decisão são fundamentais em Portugal e eu diria que isso é talvez a coisa mais importante no futuro", defendeu.

E acrescentou: "Eu sou fã de todos os bancos, não tenho nada contra nenhum banco. Estimo e considero os bancos portugueses que foram aqueles que mais me ajudaram a crescer". Para o empresário, "Espanha é um país a sério, eles sabem o que estão a fazer" e Portugal tem de "defender também a nossa banca".

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