Portugal deve registar, este ano, o terceiro maior excedente público orçamental da Zona Euro, o equivalente a cerca de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), marca apenas superada por Chipre (3,8%) e Irlanda (1,7%), mostra um levantamento feito pelo DN junto da enorme base de dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgada esta terça-feira, juntamente com o estudo das Perspetivas Económicas Globais (outlook da primavera).No outro indicador crucial para medir a qualidade e resistência das contas públicas, a dívida, Portugal continua a conseguir reduzir o seu peso, que deve deslizar uns significativos 3,1 pontos percentuais do PIB, de 94,9% no final de 2024 para 91,8% este ano.Pelos cálculos do DN, trata-se da quarta maior descida do rácio do endividamento público no grupo dos 20 países que formam a Zona Euro. As maiores compressões previstas para 2025 pertencem a Grécia (-8,7% do PIB), Chipre (-5,1%) e Irlanda (-4,4%), de acordo com as contas do DN.Estes sinais de forte e continuada consolidação ou compressão das finanças públicas surgem num contexto de grave crise na ordem do comércio mundial e com a sombra da recessão a agigantar-se de dia para dia.A manutenção de excedentes orçamentais em Portugal é referida como crucial para o país conseguir reduzir a dívida (caiu mas está ainda acima de 90% do PIB, muito além do teto de 60% imposto pelo Pacto de Estabilidade europeu) e, ato contínuo, ter margem de manobra para poder enfrentar uma nova crise económica ou um choque de mercado e de taxas de juro de grande magnitude.Claro que, como mostram instituições especializadas nesta matéria (CFP - Conselho das Finanças Públicas, UTAO - Unidade Técnica de Apoio Orçamental), a entrega de excedentes consecutivos (se o que diz o FMI se confirmar, será o terceiro ano seguido com saldos públicos positivos) pode permitir enfrentar um futuro com maiores amortecedores e almofadas financeiras e brindar o país com um tratamento mais simpático pelas agências de ratings e nas taxas de juro, mas no curto prazo isso reflete-se de forma negativa.Por exemplo, quer o CFP, quer a UTAO, deram conta de que a consolidação orçamental musculada é bem explicada por enormes poupanças (ou subexecução) em rubricas críticas com o investimento público. Em cima disto, destaca-se a fortíssima coleta de impostos e contribuições.Além de prejudicar a criação de emprego e a economia, a poupança nos investimentos estruturantes traz consigo o problema da subexecução ou mesmo não aproveitamento de fundos europeus, designadamente do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).Joaquim Miranda Sarmento, o ministro das Finanças, está por estes dias em Washington para participar nas reuniões da primavera do FMI e do Banco Mundial. Mal soube dos números, enviou um comunicado a enaltecer “a solidez da trajetória orçamental, de manutenção do equilíbrio orçamental (nominal e estrutural) e da continuada redução da dívida”.Metade da Europa trava, outra metade ainda aguentaCerca de metade das economias da grande Europa - grupo formado por 38 países, onde estão todos os da União Europeia, mas também Noruega, Islândia, Sérvia, Ucrânia, Rússia ou Turquia - ainda deve acelerar este ano face a 2024, indica o Fundo, que usou a informação disponível até 4 de abril. Ou seja, já incluíndo o anúncio bombástico das tarifas recíprocas de 2 de abril e a resposta amarga e negativa dos mercados.De acordo com o outlook, neste grupo de 18 economias (cerca de metade dos 38 analisados pelo FMI) está Portugal, cujo crescimento económico real deve acelerar ligeiramente, de 1,9% em 2024 para 2% este ano, apesar do ambiente cada vez mais hostil.Se metade ainda acelera em 2025, a outra metade trava, com destaque para algumas das maiores: Itália (-0,3 pontos percentuais em 2025, crescendo apenas 0,4%), França (o ritmo da segunda maior economia da Europa desce meio ponto, para 0,6% este ano) ou mesmo Espanha, o maior parceiro económico de Portugal, que ainda deve crescer 2,5%, mas menos 0,7 pontos face a 2024.Seja como for, a crise global já está a provocar estragos em Portugal: o país já vai crescer menos do que o previsto há seis meses (no outlook de outubro), indica a instituição liderada por Kristalina Georgieva.Na altura, quando o Presidente dos EUA, Donald Trump ainda não tinha chegado ao poder, a projeção do FMI apontava para um crescimento de 2,3% em Portugal, este ano. Este ritmo de expansão da riqueza interna acaba de levar um corte de 0,3 pontos percentuais, agora..FMI. Metade das economias da Europa ainda consegue acelerar um pouco este ano, Portugal incluído