Micheál Martin, primeiro-ministro da Irlanda, e Donald Trump, Presidente dos EUA. Março de 2025.
Micheál Martin, primeiro-ministro da Irlanda, e Donald Trump, Presidente dos EUA. Março de 2025.Foto: EPA / BONNIE CASH / POOL

FMI: corrida das farmacêuticas irlandesas aos EUA salva crescimento da Zona Euro

"Revisão em alta para 2025 reflete aumento historicamente elevado das exportações farmacêuticas irlandesas para os Estados Unidos, resultante de vendas antecipadas e da abertura de novas instalações", diz o Fundo Monetário Internacional.
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As maiores economias do mundo vão crescer pouco ou quase nada este ano e podia ser pior não fosse a corrida às exportações para evitar a carga dos Estados Unidos nas tarifas, indica o Fundo Monetário Internacional (FMI), na atualização das perspetivas económicas mundiais (World Economic Outlook), divulgadas esta terça-feira.

No entanto, um fenómeno raro, próprio destes dias caóticos na ordem económica mundial, parece ter salvo in extremis o crescimento da Zona Euro de uma nova quase estagnação: com a guilhotina das tarifas dos EUA a cair, as farmacêuticas irlandesas aceleraram de tal forma a atividade e as exportações que fizeram abanar a previsão de crescimento da área do euro.

Recorde-se que o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem vindo a ameaçar as importações de medicamentos, ingredientes e dispositivos médicos procedentes da Europa com uma tarifa que pode ir "até aos 200%".

Trump deu então "um ano, um ano e meio" às empresas do setor, muitas delas gigantes internacionais com sede e operações nos EUA há décadas, para redesenharem os negócios e começarem a investir nos Estados Unidos.

Segundo o FMI, o primeiro sobressalto já aconteceu.

De acordo com o novo outlook, prevê-se que o crescimento da Zona Euro acelere para 1% em 2025 e para 1,2% em 2026. Não é uma grande aceleração pois, em 2024, a Zona Euro registou uma expansão de apenas 0,9%, mas o efeito Irlanda acabou por ser relevante tendo em conta o ritmo relativamente fraco da atividade europeia como um todo.

Segundo o FMI, "trata-se de uma revisão em alta de 0,2 pontos percentuais para 2025, em grande parte impulsionada pelo forte desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) da Irlanda no primeiro trimestre do ano", ainda que esta economia "represente menos de 5% do PIB da zona euro", observa o Fundo.

"A revisão em alta para 2025 reflete um aumento historicamente elevado das exportações farmacêuticas irlandesas para os Estados Unidos, resultante de vendas antecipadas e da abertura de novas instalações de produção", explica o FMI.

"Sem a Irlanda, a revisão [do crescimento da Zona Euro] seria de apenas 0,1 pontos percentuais", ou seja, cresceria 0,9% em vez de 1%. Ficava na mesma face a 2024.

Já a previsão para a Zona Euro em 2026 "mantém-se inalterada face à de abril, com os efeitos das vendas antecipadas a diminuírem e a economia a crescer ao ritmo potencial".

Ainda sobre a Europa, o FMI diz que "prevê-se que os compromissos revistos em matéria de despesas de defesa tenham impacto nos anos subsequentes, dado o aumento gradual projetado até 2035".

Fonte: FMI
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Alemanha estagna, crescimento de França, Itália e Espanha perde gás

O resto do cenário é algo desolador. A maior economia da Europa, a Alemanha, que esteve em recessão nos últimos dois anos, foi uma das que acelerou nas exportações e isso permitiu-lhe receber uma revisão em alta do crescimento do seu Produto Interno Bruto (PIB) real para este ano: há três meses, o FMI previa uma estagnação (crescimento zero), agora, prevê uma quase paralisação (cresce 0,1% em 2025).

França, a segunda maior economia da Zona Euro, fica na mesma: cresce 0,6%, uma travagem notória face ao ano passado quando cresceu quase o dobro (1,1%).

Itália, a terceira maior economia da moeda única, não irá além de um avanço de apenas 0,5% este ano (há três meses o FMI apontava para 0,4%). Em 2024, tinha crescido 0,7%.

Finalmente, Espanha, o maior parceiro económico de Portugal e quarta maior economia do euro, sofre um tombo assinalável no ritmo de crescimento. O FMI confirma a previsão de 2,5% para este ano, bastante abaixo dos 3,2% do ano passado.

Estas contas da instituição sediada em Washington contemplam as grandes economias ou países de referência do mundo, não havendo assim atualizações para territórios menores como Portugal.

Como referido, com base nas atualizações feitas às grandes economias do euro e integrando o tal efeito Irlanda/farmacêuticas, o FMI conclui que a Zona Euro continua a voar muito baixo, devendo crescer apenas 1% este ano. Ainda assim melhor do que os 0,8% previstos em abril.

As maiores economias do mundo – Estados Unidos e China – ganham no atual ambiente caótico no comércio internacional.

O crescimento dos EUA projetado para este ano foi revisto uma décima de ponto percentual em alta, para 1,9%. Ainda assim, é um tombo enorme face à expansão de 2,8% em 2024 ou de 2,9% em 2023.

A China, que costuma disputar com os EUA o título de maior economia do mundo, ia crescer 4% na previsão de abril do FMI e agora sobe muito, para 4,8%.

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