A criação de emprego em Portugal, que continua a bater recordes históricos, está prestes a atingir o pleno, mas o fluxo de entradas líquidas de imigrantes (contando com os que abandonam o país), um dos grandes motores desta forte expansão no mercado de trabalho e pilar de sustento das contas públicas (descontam e pagam contribuições e impostos), deve travar de forma significativa no período de 2025 a 2027 face a 2023, acompanhando um quadro previsto de arrefecimento do crescimento económico e do emprego, indica um estudo do Banco de Portugal (BdP), divulgado esta terça-feira.Segundo dados do BdP e do Instituto Nacional de Estatística (INE) referidos no novo boletim económico da instituição governada por Álvaro Santos Pereira (desde segunda-feira, quando tomou posse), o aumento das entradas líquidas de mão-de-obra imigrante atingiu o apogeu em 2023, com um avanço de quase 2%.De acordo com o banco central, assumindo somente que o fluxo de imigração acompanha a tendência esperada de abrandamento no emprego total na economia portuguesa (também este uma medida líquida, desconta as saídas) até 2027, a variação (o fluxo) deve cair para metade do registado em 2023, para pouco mais de 1% ao ano no horizonte de três anos.Esta projeção reflete a nova fase de abrandamento económico esperada para Portugal, mas ainda não tem em conta as medidas do governo PSD-CDS para regular a imigração, medidas que sobem o grau de exigência para os estrangeiros que querem entrar e ficar no país, mesmo os que provem vir para trabalhar e descontar, ajudando o erário público.Segundo o BdP, até 2027, "projeta-se um abrandamento do emprego e uma estabilização da taxa de desemprego em valores baixos"."Após um crescimento de 1,3% em média em 2023–24 e 1,9% na primeira metade de 2025, o emprego deverá continuar a registar aumentos no horizonte de projeção, embora progressivamente menores (1,8% em 2025, 0,9% em 2026 e 0,5% em 2027)."No boletim económico, a principal peça de análise do banco central sobre a economia nacional e as políticas em curso, "esta dinâmica reflete aumentos contidos da taxa de atividade — que deverá situar-se em valores historicamente altos — e da população em idade ativa"."O crescimento populacional continuará a ser sustentado pela entrada no país de mão de obra estrangeira, embora com fluxos gradualmente menores, após o máximo observado em 2023", mas, ainda assim, "neste contexto de crescimentos modestos da população ativa e do emprego, a taxa de desemprego situar-se-á em 6,3% [da população ativa], em média".O BdP divulgou ainda um outro estudo no âmbito do boletim de outubro sobre a emigração dos jovens.Sobre isto, o Banco refere que "num contexto em que a população jovem portuguesa diminuiu acentuadamente nas últimas décadas, a emigração dos jovens é um tópico muito relevante", mas também considera que "as implicações para o crescimento de longo prazo da economia portuguesa não podem ser aferidas apenas pela observação dos fluxos de saída de jovens do país e respetivos stocks"."É crucial complementá-la com os fluxos de regresso dos portugueses" e "é preciso conjugar esta informação com os fluxos de entrada de estrangeiros e a sua integração no mercado de trabalho, bem como com a participação plena de Portugal no processo de integração europeia"."Como tem sido documentado, os trabalhadores estrangeiros têm sustentado o crescimento do emprego nos anos mais recentes, apresentando uma idade mediana de 33 anos", donde "a interação entre todas estas dinâmicas deve ser prioritária na recolha estatística e na subsequente análise económica".De acordo com o BdP, no boletim de junho, "Portugal tinha em 2023 quase meio milhão de estrangeiros empregados por conta de outrem". Este número traduz-se "num salto significativo face aos 56 mil de 2014", com os imigrantes a representar hoje 13,4% do total do emprego, sendo que "em dez concelhos do País são mais de um terço"."Na agricultura, a mão-de-obra imigrante já tem um peso 40% no emprego por conta de outrem. Na hotelaria e restauração 31%", indica o BdP.Em junho, o ainda governador do BdP, Mário Centeno, salientou a importância da imigração para o comportamento da economia nacional: “sem imigração, a economia não cresce”.“As entradas líquidas de imigração mantêm-se positivas, felizmente temos tido essa capacidade de manter a absorção de imigrantes. Mais uma vez, foi por alturas de 2017 que o saldo líquido demográfico em Portugal se inverteu – tinha estado uma sucessão de anos com perda de população e população ativa, e o grande contributo para essa inversão foi a capacidade do país de atrair imigrantes", referiu Centeno, cuja especialização como economista é em mercado de trabalho, tema onde tem uma obra vasta publicada.Alívio no IRS dá gás "temporário" à economiaAs medidas de alívio fiscal do atual governo, que reduziram o IRS (as decididas no ano passado no Orçamento do Estado, mais o reforço votado em julho e com efeitos grandes nos salários e nas pensões em agosto e setembro) estão levar a aumentos substanciais do valor despendido pelas famílias em consumo privado.De tal forma, que o Banco de Portugal (BdP) acaba de rever em alta o crescimento previsto para este ano, de 1,6% (projeção do boletim económico de junho) para 1,9% em termos reais.Para o próximo ano, o BdP manteve a projeção de junho e reafirma um crescimento da economia de 2,2%. Aqui o Conselho das Finanças Públicas (CFP), autor da previsão mais recente (em setembro), diz 1,8%.Em todo o caso, o BdP refere que, este ano e no próximo, o impulso esperado destas benesses nos impostos vai ter uma "natureza temporária", ou seja, já não haverá este impulso tão marcado a nível do crescimento do consumo e da economia. Diz que vai "alisar".Seja como for, esse efeito do rendimento disponível que leva as pessoas a consumir mais foi o principal fator de impulso aos rendimentos de trabalhadores e pensionistas, mas houve também outro efeito positivo sobre o PIB, que é o decorrente de revisões nas séries das contas nacionais feitas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) no consumo e investimento, explica o banco central no novo boletim económico divulgado esta terça-feira.A seguir à previsão das Finanças (datada de abril, Relatório Anual de Progresso enviado à Comissão Europeia), na qual o ministro Joaquim Miranda Sarmento inscreveu um crescimento previsto de 2,4% para 2025, o BdP é agora uma das entidades, das que fazem previsões, mais otimistas, alinhando com o valor (1,9%) avançado em setembro pelo Conselho das Finanças Públicas (CFP) e, em junho, pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), onde Álvaro Santos Pereira, o novo governador do BdP (tomou posse esta segunda-feira, 6 de outubro), era economista-chefe. Como referido, a economia ganhou uma força muito significativa entre o final de 2024 e o início deste ano por via da redução do IRS, que beneficiou milhões de famílias.A segunda vaga no alívio do imposto, fruto de uma proposta do Chega no Parlamento, aprovada em julho com o apoio do PSD-CDS, chegou agora em agosto e setembro aos bolsos das famílias, mas o BdP avisa que é uma medida temporária e que em 2026 o efeito desaparece.Em todo o caso, o governo e o Parlamento ainda vão debater o novo Orçamento do Estado para 2026 (proposta será entregue esta sexta-feira), podendo sempre haver surpresas (boas para os contribuintes) no domínio do IRS.Neste novo boletim, que excecionalmente não foi apresentado pelo governador por este não ter sido envolvido na elaboração que dura meses e não ter tido tempo para o validar, "a revisão da projeção do crescimento da atividade em 2025 reflete um contributo da procura interna 0,7 pontos percentuais (p.p.) mais forte do que o antecipado".O sucesso do consumo privado"Do lado do consumo privado, a revisão em alta reflete o melhor desempenho do rendimento disponível, traduzindo um crescimento dos rendimentos do trabalho superior ao esperado e o efeito das novas medidas orçamentais", explica o Banco."Refira-se que o impacto no consumo privado das medidas orçamentais introduzidas em 2024 induziu uma volatilidade no crescimento do PIB superior ao habitual no final de 2024 e início de 2025", projetando-se ainda "um perfil análogo na segunda metade de 2025 e no primeiro trimestre de 2026 em consequência das novas medidas anunciadas este ano, em parte de natureza temporária".A partir da primavera que vem, o efeito destas medidas do IRS dissipa-se.Em junho, o banco central previa que o consumo crescesse 2,2% este ano e 2% no próximo. Com o impulso fiscal referido, afinal irá crescer 3,3%, um dos ritmos mais elevados dos últimos anos.No entanto, em 2026, volta a normalizar: o BdP prevê agora um abrandamento para 2%, o mesmo que previa em junho.Para mais, diz o BdP, "as famílias terão agora uma melhor perceção do seu impacto no perfil trimestral do rendimento disponível, o que se traduz num maior alisamento do consumo".Têm mais noção de que o alívio sentido no IRS não vai ser repetido da mesma forma, podendo nem repetir-se, pelo que começam a agir com mais prudência: gastam mais, mas menos do que no período precedente, é esta a ideia.Investimento e exportaçõesNo investimento, também houve revisões em alta substanciais. Em vez de crescer 2,1% (previsão de junho), deve avançar afinal 3%."Na formação bruta de capital fixo (FBCF), a revisão em alta está associada às componentes pública e residencial. O mercado de habitação não parece estar a ser negativamente afetado pelo atual enquadramento de incerteza", escreve o Banco de Portugal.Além disto, há o efeito da execução dos fundos europeus do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), pacote que tem de ser executado e pago aos beneficiários finais de forma cada vez mais rápida e intensiva até ao início do ano que vem para não serem perdidos.Contrastando com este panorama – em que as medidas do IRS sentidas final do ano passado e este ano foram mais fortes conduzido a um consumo privado mais dinâmico do que se previa, mais o impulso do investimento – o andamento das exportações está a fraquejar sobretudo por causa do ambiente de maior hostilidade dos EUA, do agravamento das tarifas impostas à maior parte dos países do resto do mundo e a inúmeros setores.Os preços das exportações portuguesas com destino aos Estados Unidos ficaram mais caros; as quantidades também se ressentem."A evidência sugere que a imposição destes direitos [tarifas], a par de outras alterações ocorridas desde a eleição da nova administração norte-americana, se refletiu numa redução das exportações portuguesas para os EUA" e "a evolução da procura externa dirigida a Portugal, com um peso dominante da União Europeia (UE), também reflete a moderação das trocas internacionais no curto prazo", explica o Banco.Em junho, previa-se que as exportações portuguesas aumentassem 1,7% este ano e 2,6% no próximo; agora, não vão além de 1,1% e 2,2%, respetivamente, indica o BdP..Alívio no IRS leva Banco de Portugal a rever em alta crescimento deste ano, mas efeito é "temporário".Governador do Banco de Portugal toma posse mas salta apresentação do boletim económico