O que resta do antigo Banco Português de Negócios (BPN) – nacionalizado em novembro de 2008, e mais tarde vertido (os ativos tóxicos ou problemáticos) em três sociedades financeiras suportadas com o dinheiro dos contribuintes – já custou 5,9 mil milhões de euros ao erário público, diz o Tribunal de Contas (TdC), no mais recente parecer sobre a Conta Geral do Estado (CGE) de 2024.Problema: os prejuízos com o banco privado fundado por José Oliveira Costa, um antigo governante do PSD, entretanto falecido, podem ainda estar muito longe do fim. Há uma dívida enorme por saldar; há vários anos que este crédito concedido pelo Estado não sai da órbita dos cinco mil milhões de euros.Se tudo correr mal no plano de amortização, a decorrer até 2027 (ano em que está previsto o encerramento do único veículo financeiro que carrega com os restos do BPN), a fatura com o antigo banco privado pode quase duplicar.E, ato contínuo, o peso da dívida pública corre o risco de não descer mais rápido como deseja o governo e o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento.Segundo a proposta de Orçamento do Estado para 2026 (OE 2026), aprovada esta terça-feira no Parlamento, no que diz respeito aos "passivos das empresas do setor empresarial do Estado com origem em financiamentos concedidos pelo Estado, através da Entidade do Tesouro e Finanças, em 30 de junho de 2025, o stock da dívida ascendia a cerca de 9.912,6 milhões de euros".A maior fatia é, de longe, o empréstimo de 5.026,8 milhões de euros que continua por pagar por parte da Parvalorem, a referida sociedade gestora pública que hoje integra todos os ativos que restam do antigo banco.Segundo os sindicatos do sector bancário – Mais Sindicato, Sindicato dos Trabalhadores do Setor Financeiro de Portugal (SBN) e Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Banca, Seguros e Tecnologias (SBC) – a ideia do governo é liquidar e encerrar este veículo financeiro até 2027.Entretanto, foi lançado um plano de rescisões com os trabalhadores da Parvalorem e da Imofundos. "Nos próximos três anos, em paralelo à redução de ativos sob gestão, a empresa irá promover uma reestruturação e redução anual do quadro de trabalhadores através do programa de rescisões, que contemplará acordos e a promoção de empregabilidade, maximização das indemnizações, manutenção das condições dos créditos concedidos e um seguro de saúde", explicam as fontes sindicais. "A data de saída será escolhida pelos trabalhadores até final de outubro deste ano."O banco que nunca mais acabaEntretanto, prosseguem as atividades de recuperação dos ativos que ainda restam (imobiliário, carteiras de participação em empresas, obras de arte).Em princípio, a receita que for obtida com a venda desses ativos servirá para ajudar a amortizar os cinco mil milhões de euros ainda em dívida.O valor é significativo. No quadro dos "empréstimos a empresas públicas", o OE 2026 informa que a dívida da Parvalorem é mais do dobro da dívida de duas empresas públicas de grande dimensão.A Infraestruturas de Portugal deve 2,2 mil milhões de euros; a Ex-Parque Escolar/Construção Pública, EPE deve outros 2,2 mil milhões.A seguir a estes, os dois maiores empréstimos do Estado (saldo vivo) são muito mais ligeiros em valor, são os concedidos à Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (178 milhões de euros) e à RTP (150 milhões).Segundo o Ministério das Finanças, neste tema dos grandes empréstimos, "uma vez que estão em causa empresas públicas reclassificadas, o Estado assegura o cumprimento do respetivo serviço da dívida, refinanciando-o ou convertendo-o em capital das empresas beneficiárias, sempre que as mesmas não libertem recursos suficientes para assegurar o pagamento da dívida, tanto mais que a origem dessa dívida está essencialmente ligada ao financiamento de investimento público e de outras ações envolvendo uma decisão do Estado, sendo o risco de incumprimento reduzido".Como referido, desde 2020 inclusive, que a dívida dos veículos que contêm os restos do antigo BPN não sai da linha dos cinco mil milhões de euros.O último grande agravamento desta exposição dos contribuintes ao buraco do BPN aconteceu em 2019.De acordo com a Conta Geral do Estado desse ano, o Orçamento tinha uma dotação para poder transformar em gastos para vários fins na rubrica "despesas excecionais (capítulo 60)" que superava os dez mil milhões de euros. "Em 2019, do total das dotações corrigidas (10.076 milhões de euros), foram executados 77,2%, ou seja, 7.782 milhões de euros, dos quais 81,7% correspondem a ativos financeiros e 18,3% a despesa efetiva".A partir dessa conta, "foram concedidos empréstimos, no montante de 3.042,7 milhões de euros, o qual inclui o financiamento da Parvalorem (1.204 milhões de euros)". Foi nessa altura que a dívida do veículo do ex-BPN subiu para os cinco mil milhões de euros, valor de onde nunca mais saiu, até hoje..BPN. O banco que nunca mais acaba (de pesar no Orçamento).Conselho das Finanças. Governo tem 1,2 mil milhões de euros 'escondidos' no OE para fins militares.Governo pede à AR para gastar mais 12 mil milhões de euros além da despesa prevista no OE