Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão EuropeiaEPA/Marcin Obara

Bruxelas quer dar mais anos para os fabricantes de carros europeus cortarem nos níveis de poluentes

Empresas devem ser avaliadas nas metas de redução da poluição pela média de três anos, de 2025 a 2027, em vez de apenas 2025, como previsto. Assim, indústria ganha mais dois ou três anos.
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Os fabricantes de automóveis europeus vão ter mais tempo, dois ou três anos, para cumprirem as metas ambientais e de redução de emissões poluentes assumidas pela União Europeia (UE).

Segundo deu a entender a presidente da Comissão (CE), Ursula von der Leyen, as empresas vão ser avaliadas pela média de três anos a contar de agora (2025 a 2027) relativamente ao cumprimento das metas de redução da poluição, em vez de serem avaliadas apenas pelos valores de 2025, como está previsto.

Ou seja, na prática, a CE decidiu relaxar o critério, alargando o período de monitorização das emissões dos novos carros que vierem a ser construídos, o que dá muito mais flexibilidade aos construtores no processo de mudança, para não terem de alterar tão rapidamente certas soluções tecnológicas hoje existentes.

No fundo, ao fazer isto, também se adia a avaliação final do cumprimento das metas em, pelo menos, dois anos. Em vez da medição (que podia dar origem a multas sobre os fabricantes infratores) acontecer após o final de 2025, ela surgirá apenas no pós-2027.

É uma medida que foi logo bem acolhida pelos investidores em ações da indústria automóvel europeia, sobretudo num quadro de grande apreensão e hostilidade por causa das ameaças de Donald Trump, o Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), no sentido de subir brutalmente as tarifas sobre as importações de carros europeus.

Segundo o Eurostat, a UE vende aos EUA, por ano, mais de 50 mil milhões de euros em veículos automóveis, mais de 10% das exportações totais europeias.

Numa conferência de imprensa ao início desta tarde de segunda-feira, em Bruxelas, que se seguiu ao colégio de comissários e que versou sobre a iniciativa "Diálogo estratégico sobre o futuro da indústria automóvel", Von der Leyen revelou que o executivo europeu voltou a "debater a transição para uma mobilidade limpa".

A conclusão dos altos responsáveis é de que "há uma clara exigência de maior flexibilidade nos objectivos de CO2 [dióxido de carbono]".

Assim, disse a ex-ministra da Defesa da Alemanha, "o princípio fundamental neste domínio é o equilíbrio", ou seja, "por um lado, precisamos de previsibilidade e justiça para os pioneiros, para os que fizeram o seu trabalho de casa com sucesso".

Mas, "por outro lado, temos de ouvir as vozes das partes interessadas que pedem mais pragmatismo nestes tempos difíceis" relativamente aos objetivos de "neutralidade tecnológica".

A presidente da CE disse que o cerne da questão reside "especialmente no que diz respeito aos objetivos para 2025 e às respetivas sanções em caso de incumprimento".

"Para abordar esta questão de forma equilibrada, proporei este mês uma alteração específica ao Regulamento relativo às normas de CO2. Em vez de um cumprimento anual, as empresas terão três anos - este é o princípio da atividade bancária e da contração de empréstimos; os objetivos permanecem os mesmos; têm de os cumprir", referiu.

No entanto, os fabricantes podem cumprir com mais calma (mais tarde) as metas e, eventualmente, menor pressão para aumentar custos de investimento e de inovação no sentido de substituir soluções poluentes ainda em utilização.

Von der Leyen diz que isso "significa mais margem de manobra para a indústria e mais clareza, e sem alterar os objetivos acordados".

"Tenho a certeza de que esta alteração específica pode ser rapidamente aceite pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho [Europeu, a instituição que reúne os governos dos 27 países, hoje presidida pelo português António Costa]".

Mas, "como é óbvio, isto só faz sentido se for acordado rapidamente", pediu a presidente da Comissão Europeia.

"Ao mesmo tempo, vamos preparar-nos para acelerar o trabalho sobre a revisão de 2035, tendo como princípio fundamental a plena neutralidade tecnológica", rematou.

Segundo a Reuters, que cita fontes do setor automóvel, "o cumprimento seria baseado na média do período 2025-2027".

Na sequência das declarações de Von der Leyen, "as ações da Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz subiram", diz a mesma agência.

Não é caso para menos, sobretudo quando está por dias um possível anúncio de Donald Trump, o Presidente dos EUA, no sentido de agravar tarifas alfandegárias em cerca de 25% sobre as compras de carros à Europa, o que, a concretizar-se, tem um potencial destrutivo muito elevado, tendo em conta a importância do mercado norte-americano na faturação das grandes marcas de automóveis europeias.

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