Bruxelas avança com pacote para defender o vinho europeu de Trump e outros perigos
O setor europeu do vinho e de outras bebidas alcoólicas está atualmente sob um stress enorme devido à ameaça de aumentos tarifários brutais dos Estados Unidos sobre as exportações europeias nessa fileira de produtos, bem como à vulnerabilidade destas atividades face a eventos climáticos cada vez mais extremos ou a problemas graves como o excesso de produção.
Numa tentativa de defender este setor "estratégico" e vital em valor e em empregos para países como Portugal, Itália, Espanha, França ou Roménia, a Comissão Europeia (CE) avançou, esta sexta, com um pacote de novas medidas de apoio.
Segundo Bruxelas, este suporte é "para garantir que o setor vitivinícola europeu continua a ser competitivo" e "uma força económica vital nas próximas décadas".
A CE assume que o setor "enfrenta vários desafios, como a mudança das tendências de consumo, as alterações climáticas e as incertezas do mercado".
Assim, Bruxelas avançou com novas medidas que alteram a política vitivinícola em sete áreas.
Prevenção de excedentes
"Os Estados-Membros terão poderes para tomar medidas, como o arranque (remoção de vinhas indesejadas ou excedentárias) e a colheita em verde (remoção de uvas não maduras antes da colheita), a fim de evitar excedentes de produção, ajudar a estabilizar o mercado e proteger os produtores da pressão financeira."
Flexibilidade de plantação
"Os produtores beneficiarão de uma maior flexibilidade no que diz respeito ao regime de autorizações de replantação. Tal ajudá-los-á a tomar a sua decisão de investimento no atual contexto de mudança. Os Estados-Membros serão igualmente autorizados a calibrar melhor as autorizações de plantação em função das suas necessidades nacionais e regionais."
Defesa face a alterações climáticas
"O setor receberá um maior apoio para se tornar mais resiliente às alterações climáticas. Os Estados-Membros podem aumentar a assistência financeira máxima da União até 80% dos custos de investimento elegíveis para investimentos destinados à atenuação das alterações climáticas e à adaptação às mesmas."
Comercialização mais fácil
"A comercialização de produtos inovadores será mais fácil, com regras mais claras e denominações de produto comuns para produtos vitivinícolas com baixo teor alcoólico em todo o mercado único."
Rotulagem harmonizada
"Os operadores beneficiarão de uma abordagem mais harmonizada da rotulagem do vinho, reduzindo os custos e simplificando o comércio transfronteiras na UE, proporcionando simultaneamente aos consumidores um acesso fácil à informação."
Mais apoios ao enoturismo
"Os agrupamentos de produtores que gerem vinhos protegidos por indicações geográficas receberão assistência para desenvolver o turismo relacionado com o vinho, ajudando a impulsionar o desenvolvimento económico nas zonas rurais."
Campanhas pagas pela Europa alargadas
"A duração das campanhas promocionais financiadas pela UE para a consolidação do mercado em países terceiros será alargada de três para cinco anos, a fim de assegurar uma melhor promoção dos vinhos europeus."
Trump dispara tarifa de 200%
Recorde-se que, há cerca de duas semanas, muitos europeus ficaram chocados depois de Donald Trump, o Presidente do Estados Unidos, ter avançado com a ameaça bombástica de impor uma tarifa de 200% sobre todas as importações de vinho, champanhe e outras bebidas alcoólicas procedentes da União Europeia e ter escrito na sua rede social que isso "será ótimo para o negócios do vinho e do champanhe nos EUA".
Os europeus ficaram em choque, mas muitos produtores americanos também ficaram preocupados porque, dizem, o vinho é uma indústria globalizada (no comércio e na transmissão de tecnologia) pelo que pode ser muito mau para todos.
Nos últimos anos, as exportações de vinhos de Portugal têm aumentado em valor e preço médio, com mercados como a China e os EUA a ganhar cada vez mais importância.
Em dez anos, Portugal exportou, em média, 46% da sua produção. E está a tentar há alguns anos atingir a fasquia simbólica dos mil milhões de euros em exportações.
Seja como for, o mercado norte-americano ainda é algo residual para os produtores portugueses.
As exportações nacionais de vinho e bebidas alcóolicas (mas sobretudo vinho) para os EUA valem cerca de 100 milhões de euros , segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Visto em proporção, é o equivalente a 0,04% do Produto Interno Bruto (PIB) português, a cerca de 0,1% das exportações totais de mercadorias de Portugal, de acordo com cálculos do DN.
Portugal é, atualmente, o décimo maior produtor de vinho do mundo, responsável por 2,8% da produção global, segundo dados oficiais.
França lidera, é o primeiro produtor mundial. Aqui muitos ficaram estarrecidos com o ataque de Trump, que para já é verbal, mas nunca se sabe e o mal está feito.
França produz mais de 20% do vinho em termos globais e tem cerca de 90 mil adegas ativas. Itália responde por 16% do total mundial, Espanha por quase 14%, ocupam os restantes lugares no pódio.
A Comissão Europeia lembra que a Europa representa "60% da produção mundial de vinho e 60% do valor do vinho exportado a nível mundial".
Por isso mesmo, "o setor desempenha um papel vital nas economias rurais e está estreitamente ligado às tradições, à gastronomia e ao turismo europeus", acrescenta Bruxelas.