O resultado das eleições gerais na Alemanha, do domingo passado, caiu relativamente bem entre vários analistas financeiros e económicos, que agora acreditam haver condições para um governo formado por uma nova grande coligação à la Merkel, entre CDU (direita conservadora, democratas-cristãos) e SPD (centro-esquerda, socialistas), com capacidade de fazer grandes projetos na área da defesa, já nesta nova legislatura, aliviar alguns impostos ou travar a despesa com pensões. Até o euro valorizou.Segundo alguns peritos, essa grande coligação, que está praticamente garantida, vai poder avançar, como referido, com reformas económicas de maior envergadura, como um pacote de restrições nas pensões, com orçamentos muito mais ambiciosos para novas infraestruturas, havendo até a possibilidade de o novo governo (a formar até à Páscoa) enveredar com um plano muito valioso e de larga escala na área da Defesa sem que isto tenha de ir necessaria e diretamente à dívida pública, referem alguns economistas.Em todo o caso, mesmo que meta pé a fundo nas despesas, a Alemanha continua a ter uma posição orçamental “muito forte”, das mais fortes do mundo, aliás, um défice "moderado" e uma dívida relativamente baixa. Mesmo na atual fase de estagnação e com grandes partes da indústria em recessão, ninguém duvida da capacidade da maior economia da Europa em honrar os seus compromissos..Merz quer coligação com o SPD e avisa que subida da AfD foi um “último aviso” .Yesenn El-Radh, analista principal da agência de ratings Morningstar DBRS, um das mais influentes do mundo, explica que DBRS "por enquanto, não vemos implicações nas classificações de crédito soberano das eleições para a nota de AAA, estável, da Alemanha”, nível que traduz o melhor rating possível para um país soberano.“Os resultados das eleições permitem a formação de uma coligação governamental bipartidária [CDU/SPD], o que pode levar a menos atrito entre os parceiros do que na coligação tripartidária Semáforo, que está de saída”.Além disso, este acordo que se está a perfilar “vai facilitar um aumento acentuado das despesas com a defesa, embora possa exigir concessões políticas significativas aos partidos nas fronteiras do espetro político, uma vez que mais partidos centristas não têm votos suficientes para alterar as regras do travão da dívida".Trata-se de uma norma de calibre constitucional na Alemanha que, para ser mudada, necessita de uma maioria qualificada de dois terços no Parlamento federal. O duo CDU-CSU/SPD tem maioria absoluta, mas não chega para garantir a qualificada de dois terços.Um veículo financeiro para contornar o travão da dívidaPara Carsten Brzeski, economista-chefe do grupo financeiro holandês ING, o problema do travão da dívida até pode ser fácil de contornar. “O regresso da grande coligação pode trazer cortes de impostos para as famílias e empresas sem que haja reduções nas despesas sociais, e desregulamentação”.“Consideramos que mudanças diretas na regra do travão da dívida são improváveis, mas pensamos que é possível a criação de um veículo especial [special purpose vehicle] para o financiamento de infraestruturas e defesa”, sendo que, com este novo quadro político, “a Alemanha pode mesmo ficar mais recetiva a esforços europeus adicionais no sentido de financiar esse tipo de despesas”, acrescenta.“Para poder investir mais em defesa”, o avaliador da agência de ratings Morningstar DBRS considera dois cenários mais plausíveis.“Uma vez que o Partido de Esquerda é a favor de um relaxamento geral do travão da dívida, qualquer acordo para um aumento das despesas de defesa entre partidos políticos exigirá, provavelmente, concessões políticas significativas tanto por parte da Esquerda como pelos democratas-cristãos, que até agora se opuseram a um alívio no travão da dívida”.No entanto, diz Yesenn El-Radh, “em alternativa, a nova coligação governamental pode tentar aumentar o seu espaço de manobra orçamental através de medidas mais impopulares de consolidação orçamental, tais como a redução das despesas com pensões públicas através de aumentos da idade legal de reforma ou de aumentos dos impostos”.No entanto, no curto prazo, para o economista da DBRS, “é pouco provável que tais medidas sejam suficientes para compensar um grande aumento das despesas com defesa, na ordem de mais de 1% do Produto Interno Bruto (PIB)”, de modo a chegar a pelo menos 2% do PIB, a meta da NATO que a NATO quer subir ainda mais; e que o Presidente dos Estados Unidos pretende aumentar além da fasquia dos 2% porque, diz Donald Trump, a Europa não tem contribuído o suficiente para a NATO, tem estado como que encostada aos EUA nesta aliança militar do Ocidente.