O cenário de um Governo de minoria PSD-CDS (AD) com o "apoio implícito" do Partido Socialista (PS) em pontos-chave da política económica e orçamental, como aconteceu na legislatura anterior, é o preferido por um dos mais influentes avaliadores da República Portuguesa, a agência de ratings Fitch, cujas notação financeira dita a qualidade da dívida pública, a sua sustentabilidade e a capacidade de o país pagar aos credores.Num comentário enviado esta terça-feira, a equipa de analistas que segue Portugal, os economistas Federico Barriga Salazar, Mark Brown e Utku Bora Geyikci, recorda que "as anteriores eleições, em março de 2024, conduziram a um Governo minoritário da AD que teve o apoio implícito do PS".Agora, a Fitch espera que isso se repita. "Um acordo semelhante parece ser o resultado mais provável após a votação de domingo, especialmente porque a AD excluiu a possibilidade de formar uma coligação com o Chega", diz a empresa de notação financeira.E diz mais. Para a avaliadora, o cenário de um Governo apoiado pelo "partido de extrema-direita" pode alimentar a pressão política para aumentar a despesa pública, algo que não é nada bem visto pela Fitch, que pugna sempre pela manutenção das "políticas orçamentais prudentes", que considera que tem sido sustentado pelos "principais partidos" nos últimos anos (PSD-CDS e PS), e que tem viabilizado "a trajetória firmemente descendente da dívida pública".Nos últimos anos significa desde 2018, pelo menos, ano em que a Fitch tirou o rating de Portugal do nível "lixo", especulativo."A ascensão do partido anti-imigração Chega, que pode tornar-se o segundo maior do Parlamento quando os votos do estrangeiro forem contabilizados [o apuramento termina esta quarta-feira], pode aumentar as pressões políticas para subir a despesa à medida que Portugal avança no seu ciclo eleitoral", diz a agência."As eleições autárquicas estão previstas para o final de setembro ou início de outubro deste ano e as próximas eleições presidenciais estão agendadas para janeiro de 2026", recorda a Fitch para ilustrar, no calendário, que as referidas pressões políticas podem aumentar de tom e já nos próximos sete, oito meses.Por isso, a Fitch manifesta, neste diagnóstico (que não é uma ação de rating, é apenas uma análise político-económica), a preferência pela manutenção do statu quo dos equilíbrios políticos que permitiram que Portugal saísse do rating de nível especulativo (o chamado "lixo"), um processo que durou vários anos até 2018, altura em que o rating da Fitch saiu do "lixo" (patamar BB) e subiu finalmente para um nível de "investimento" (BBB).Depois, a nota continuou a melhorar, com a agência a promover a dívida portuguesa para BBB+ no final de 2022 (a seguir à apresentação do Orçamento para 2023) e novamente em setembro de 2023, momento em que a dívida subiu para o patamar A, a melhor nota em muitas décadas.Portanto, nesta sequência de promoções e boas avaliações, a dívida nacional passou a ser vista como um ativo financeiro de boa qualidade aos olhos dos investidores internacionais.A equipa de avaliadores lembra que, nestes últimos anos, "a volatilidade política recorrente do país não impediu a melhoria do perfil do crédito soberano de Portugal, o que conduziu a atualizações do rating em 2022 e 2023".Isto aconteceu porque "a dívida pública foi colocada numa trajetória firmemente descendente, sustentada por um consenso entre os principais partidos políticos a favor de políticas orçamentais prudentes", defende a agência de ratings..Peso da dívida deve cair metade, mas credores avisam que Portugal tem de manter ritmo elevado