A garantia do Estado no crédito à habitação para jovens até aos 35 anos está desadequada da capacidade financeira da maioria destas pessoas e a necessitar de uma revisão para que tenha efeitos reais no acesso dos mais novos ao mercado, defende Rui Torgal, CEO da rede imobiliária Era. Esta medida do Governo, que entrou em vigor no início deste ano, “irá apenas beneficiar um nicho de jovens que, na verdade, até já tinha condições para adquirir um imóvel”. Isto, porque o recurso à garantia pública, instrumento que financia até 15% do valor da casa, com um limite máximo de 450 mil euros, implicará “prestações bem mais elevadas, que, à partida, só estarão ao alcance de alguns”, diz. Para o gestor, os benefícios lançados pelo Executivo “tiveram o condão de ativar no mercado uma camada da população que até aqui era, tradicionalmente, muito pouco ativa devido à falta de recursos para comprar casa”, mas “têm de ser limados ou até revistos para garantir maior equidade”. “A maioria dos jovens que nos procuram não possuem a capacidade financeira necessária para avançar com a compra da sua casa, algo que é particularmente comum em regiões mais populosas, como Lisboa, Porto ou Braga”, reconhece também Carlos Santos, CEO da Zome. Nestes casos, o trabalho dos agentes imobiliários da marca “é ajudar o comprador a compreender que tem de se deslocar para as periferias da cidade”, de forma a “encontrar soluções que cumpram os requisitos financeiros e de mobilidade para os seus empregos”, diz. Carlos Santos realça que é ainda necessário analisar a capacidade de endividamento saudável do cliente “para que a garantia pública seja uma realidade para quem realmente dela necessita”. Ou seja, a medida poderá ter sucesso “se o trabalho de preparação e estudo da realidade financeira e geográfica do jovem casal for devidamente feito”. Ainda assim, a Zome tem verificado que “a generalidade dos clientes que tem poupanças não opta nem quer usufruir da medida para não agravar a prestação e não encarecer o financiamento em geral”.A garantia do Estado “poderá ajudar alguns jovens a comprar a sua primeira habitação”, mas “vários outros não necessitarão dela”, considera, por sua vez, Beatriz Rubio, CEO da Re/Max. Recorde-se que este apoio destina-se aos jovens com domicílio fiscal em Portugal, rendimentos até ao 8.º escalão do IRS (rendimento coletável anual da ordem dos 83 mil euros) e que não detenham outro imóvel habitacional. Desde a sua entrada em operação, a banca recebeu mais de seis mil pedidos de crédito com garantia pública. Estes jovens procuram assim uma “entrada” para a casa, ultrapassando a regra que impõe aos bancos não emprestarem mais de 90% do preço do imóvel. Para Beatriz Rubio, as isenções de Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT) e Imposto do Selo (IS) “terão, provavelmente, maior impacto” como apoio aos jovens na aquisição de casa. Com esta medida, que entrou em vigor em agosto de 2024 e se destina a pessoas até aos 35 anos na aquisição de habitação própria permanente, a Re/Max estima que tenham sido beneficiados entre três mil e 3500 jovens no ano passado, envolvendo entre 2100 a 2500 negócios.Estes benefícios fiscais deram esperança a muitos jovens para comprar casa. Segundo Rui Torgal, “97% das agências Era, espalhadas pelo país, assinalaram um aumento da procura” desta faixa etária. Logo que o Governo anunciou as medidas de apoio aos jovens para aquisição de casa, em maio de 2024, as lojas da Era registaram um movimento de “curiosidade e obtenção de mais informação”, mais tarde, a procura “intensificou-se e, de setembro em diante, começámos a registar potenciais clientes mais informados, passámos da curiosidade à qualificação e visitas”, releva.Na Keller Williams (KW), as isenções de IMT e IS “têm tido um impacto bastante positivo”, Segundo Marco Tairum, CEO da KW, “tivemos cerca de 700 negócios concretizados” com estes benefícios fiscais no ano passado. Na Zome, foram mediadas diversas aquisições isentas de IMT e IS desde o primeiro dia, “o que contribuiu para um ligeiro acréscimo no crescimento do terceiro e quarto trimestres de 2024, comparativamente aos dois trimestres anteriores”. Em termos globais, no ano passado, 7,1% das casas vendidas pela Zome foram adquiridas por jovens até 35 anos de idade, o que corresponde a um total de 720 transações.Alfredo Valente, CEO da Iad, considera que “as medidas de incentivo à compra de casa pelos mais jovens estão a produzir resultados”, mas lembra que é necessário que continue a recuperação do poder de compra e que o nível de taxas de juro se mantenha em 2025. .Ministra fala em "sucesso" mas Deco Proteste diz que garantia pública no crédito à habitação discrimina jovens casais