Quando 2021 começou, a indústria esperava que a produção de automóveis ficasse perto dos números de 2019, dos tempos de pré-pandemia. A falta de semicondutores ao longo do ano passado, no entanto, gorou todas as expectativas e apenas permitiu uma tímida recuperação. Das linhas de montagem saíram 289 954 unidades em 2021..O número ficou 9,7% acima dos registos de 2020 (264 236 veículos), segundo a Associação Automóvel de Portugal (ACAP). Na comparação com 2019, contudo, as fábricas nacionais ficaram a 55 734 automóveis de distância: são menos 16,1% face ao recorde de produção..O ano passado, mesmo assim, foi o terceiro melhor ano de sempre para a indústria automóvel nacional, apenas atrás de 2019 (345 688 unidades) e de 2018 (294 366 veículos)..A Autoeuropa foi a principal locomotiva das linhas de montagem, representando 72,7% da produção automóvel no ano passado. Na unidade de Palmela foram fabricadas 210 754 unidades, mais 9,8% do que em 2020. No complexo do T-Roc, 2021 foi também o terceiro melhor ano de sempre..Os últimos 12 meses voltaram a ser marcados por sucessivas paragens ou redução de turnos: entre 25 de janeiro e 5 de fevereiro, só houve laboração nos dias úteis por causa do coronavírus e de nova suspensão das aulas..A partir do final de março, sucederam-se os problemas por falta de semicondutores: entre 22 e 28 desse mês, as portas estiveram fechadas. A situação repetiu-se por mais nove dias consecutivos em junho e no primeiro fim de semana de julho..Em agosto, a produção parou todo o mês em vez de três semanas e a linha de montagem só foi retomada em 6 de setembro. Nesse mês, houve ainda duas paragens, que duraram até ao início de outubro..A indústria automóvel tem sido uma das mais afetadas pela falta de semicondutores, componentes que são, em grande parte, fornecidos por diversos fabricantes asiáticos, que mantiveram algumas medidas de confinamento devido à covid-19..Mais acima, em Mangualde, 2021 não foi muito melhor para a unidade da Stellantis. A aliança que junta os grupos automóveis PSA e Fiat Chrysler aumentou a produção em 4,9% no ano passado, para 67 838 unidades..Ainda assim, foi o segundo melhor ano de sempre para a fábrica portuguesa da aliança liderada por Carlos Tavares. Os veículos ligeiros de mercadorias das marcas Peugeot e Citroën representaram mais de 90% da produção da fábrica do distrito de Viseu, de onde também saem carrinhas da insígnia Opel..A unidade do distrito de Viseu também não escapou aos problemas com falta de chips: por exemplo, a paragem de agosto estendeu-se por todo esse mês, apenas retomando a laboração no início de setembro..Também as fábricas mais dedicadas a nichos de mercado sofrem com a falta de semicondutores..No Tramagal, a unidade da Mitsubishi Fuso - controlada pela Daimler Trucks - enfrentou a escassez de componentes para a Mitsubishi Canter durante o mês de setembro. Apesar do obstáculo, a fábrica conseguiu o segundo melhor ano de sempre a nível da produção, com 9392 unidades, mais 55,2% em comparação com 2020..No último ano, contudo, a Fuso não montou qualquer veículo para exportação, ao contrário do que aconteceu em anos anteriores, segundo os dados da ACAP..Em Ovar, a unidade da Salvador Caetano conseguiu produzir 1947 unidades, mais 32,9% face a 2020. Mas a falta de semicondutores impediu responder ao aumento de encomendas para a série especial do Toyota Land Cruiser, que tem como destino o mercado da África do Sul. A fábrica da Toyota Caetano, à conta disso, ficou abaixo do recorde de 2393 unidades, datado de 2019..Ainda no universo da Caetano, nota para os 23 autocarros produzidos em 2021, menos 62,3% do que em 2020. A pandemia travou as encomendas de autocarros para o mercado internacional e obrigou a reduzir a atividade na unidade de Vila Nova de Gaia..Num ano em que os custos logísticos dispararam, 97,4% dos automóveis fabricados em Portugal tiveram como destino o mercado internacional, dos quais 88,6% foram parar ao continente europeu..Alemanha (18,2%), França (14,8%), Espanha (12,8%) e Itália (11,6%) foram os quatro principais destinos das exportações nacionais em 2021. Nota ainda para os 7,2% do mercado do Reino Unido, que foi o quinto país com mais veículos enviados por Portugal no último ano..Ainda assim, o peso do mercado interno aumentou no ano passado, com uma subida de meio ponto percentual, de 2,1% para 2,6%..Diogo Ferreira Nunes é jornalista do Dinheiro Vivo