As perspetivas para a banca portuguesa estão hoje pior, alerta a Moody"s. A agência de rating refere que, vistos como um todo, "os bancos portugueses estão entre os menos capitalizados" da zona euro, não antecipando margem para "melhorias significativas nos próximos 12 a 18 meses", e avisa até para o facto de os rácios medidos pelo Banco de Portugal poderem indicar uma visão mais otimista do que a real no que toca aos ativos tóxicos nos balanços das maiores instituições financeiras..A Moody"s salienta desde logo as pressões de sentido negativo e específicas ao setor em Portugal que pairam sobre o sistema: o processo de venda do Novo Banco e a capitalização da Caixa Geral de Depósitos.."As perspetivas para os bancos portugueses voltaram a enfraquecer, já que a limitada recuperação económica dos últimos dois anos não tem sido forte o suficiente para colocar o setor numa trajetória de ganhos sustentados. A rentabilidade dos bancos foi muito fraca no último ano e apesar de o stock de ativos problemáticos ter permanecido estável, continua a níveis elevados.".E se a recuperação económica dos últimos dois anos não permitiu puxar pela banca, é a banca, com elevados níveis de ativos problemáticos nos seus balanços, que hoje se apresenta como um dos maiores perigos que ameaçam as contas públicas, diz a agência de financeira, uma das que têm colocado a dívida no lixo.."Para o Estado, a fragilidade do sistema bancário português é um dos maiores riscos. É um risco persistente na avaliação do crédito" do próprio Estado - e logo pesa sobre o custo do financiamento. Por outro lado, os bancos "são empurrados para uma desalavancagem agressiva", pelo que as empresas não conseguem crédito..Além da fragilidade estrutural, a banca portuguesa enfrenta também a pressão sentida pelas restantes instituições europeias - o ambiente de taxas de juros muito baixas, que torna ainda mais difícil a rentabilização do negócio..O problema Novo Banco.No caso do Novo Banco, a Moody"s considera "muito provável" que o processo de venda resulte num encaixe inferior ao esperado, o que obrigará "o restante setor a absorver a diferença". O banco recebeu 4,9 mil milhões do Fundo de Resolução, quatro mil milhões dos quais emprestados pelos contribuintes..A agência recorda que os resultados do primeiro trimestre registados pelo Novo Banco só vieram confirmar "que os seus rácios de capital continuam a ser desafiados pelas operações negativas". O Novo Banco registou perdas de 249 milhões nos primeiros três meses do ano e viu o rácio Common Equity Tier 1 cair para 12,4%.."O Novo Banco continua a evidenciar um perfil de crédito muito fraco e é altamente improvável que o Fundo de Resolução obtenha fundos suficientes para reembolsar aqueles que foram injetados quando da criação do Novo Banco e devolver a ajuda de Estado adicional", conclui. Caso a venda não traga fundos suficientes para reembolsar os contribuintes, diz, "os bancos portugueses terão de absorver parte das perdas, tendo por base as quotas de mercado"..Caso o setor tenha de absorver estas perdas, o Estado e Carlos Costa, o governador do Banco de Portugal ,poderão "permitir" à banca um reembolso mais espaçado no tempo, de modo a evitar maior deterioração de rácios dos bancos..O buraco da CGD.O banco estatal é outro dos riscos específicos que pairam sobre o setor bancário português, mas também sobre as contas públicas. A Moody"s não tem grandes dúvidas: não capitalizar o banco afetará a estabilidade de todo o sistema financeiro, dada a dimensão do banco - 29% de quota de mercado nos depósitos e 22% nos créditos.."A incapacidade de capitalizar de forma suficiente a Caixa Geral de Depósitos não só colocará a avaliação de crédito do banco em risco como afetará a estabilidade de todo o sistema bancário português", refere a agência financeira, acrescentando que "a CGD apresenta fracos níveis de capital"..O plano de capitalização do banco público atualmente a ser discutido entre o governo, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia "deverá ser aprovado", arrastando consigo "certas condições como um plano de reestruturação para a CGD". Sem conhecer a dimensão do capital que será injetado - tem-se falado num valor entre 4000 e 5000 milhões de euros -, a Moody"s reafirma manter com "tendência incerta" a futura reavaliação ao rating do banco.."Antecipamos que uma solução para trazer mais capital para a CGD será aprovada pelas autoridades europeias já que se tal não acontecer registar-se-ão consequências profundas em todo o sistema bancário".