Milhões de empresas chinesas em risco de colapso se bancos não libertarem fundos
A epidemia do coronavírus, que já infetou mais de 75 mil pessoas, e deixou milhões de trabalhadores em casa, está a sufocar as companhias na China. Há empresas que só têm dinheiro para cobrir despesas, como salários, por mais um mês. Se os bancos não começarem a libertar fundos para empréstimos, muitas correm o risco de colapsar, noticiou a Bloomberg.
"Se a China não conseguir conter o vírus no primeiro trimestre, espero que um largo número de pequenos negócios vá abaixo", diz Lv Changshun, um analista da consultora chinesa Zhonghe Yingtai, citado pela agência noticiosa.
Na China, as empresas privadas representam 60% da economia do país e 80% dos empregos, mas têm tido dificuldade em obter financiamento para impulsionar momentos de expansão ou enfrentar momentos de crise como o que agora se confrontam com o coronavírus. O Industrial & Commercial Bank of China (ICBC), o maior banco de crédito chinês, libertou fundos para apenas 5% dos clientes de pequena dimensão, tendo atribuído 5,4 mil milhões de yuan (cerca de 770 milhões de dólares) para ajudar os clientes com pequenos negócios com esta crise, segundo a Bloomberg.
Globalmente, desde 9 de fevereiro, os bancos chineses libertaram 254 mil milhões de yuan de empréstimos para ajudar as empresas a enfrentar este período de crise. Valor que parece ser insuficiente para dar maior liquidez aos pequenos empresários que, tipicamente, pagam cerca de 36,9 biliões de yuan de empréstimos a cada trimestre.
Um inquérito realizado este mês, as empresas chinesas de pequena e média dimensão revelam que a falta de liquidez começa a agudizar-se e a por em causa a sua sobrevivência no curto prazo: um terço só tem dinheiro para pagar as despesas fixas por mais um mês; com outro terço vai conseguir esticar o dinheiro por dois meses.
Requisitos exigentes restringem as empresas que podem aceder aos empréstimos especiais concedidos pelo banco central para ajudar os negócios afetados pela epidemia. Catering e restauração, agências de viagens, companhias aéreas, hotelaria, centros comerciais, sectores com capital humano intensivo, são os que estão mais em risco, segundo a Lianhe Rating.
Os bancos também não estão melhores. Muitos estão descapitalizados depois de dois anos recorde de crédito mal parado. A agência de rating S&P Global estima que uma crise prolongada poderá levar a que o crédito mal parado triplique, para 6,3%, um aumento de 5,6 biliões de yuan.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) também está preocupado com o impacto desta crise de saúde pública na economia chinesa e mundial. Na declaração final da reunião dos ministros das Finanças e de governadores de bancos centrais do G20, que decorreu no sábado e hoje em Riade, na Arábia Saudita, Kristalina Georgieva sublinhou que o surto do novo coronavírus interrompeu a atividade económica na China e poderá colocar em risco a sua recuperação.
"Acima de tudo, o vírus Covid-19 é uma tragédia humana, mas também tem impacto económico negativo. Relatei ao G20 que, mesmo no caso de rápida contenção do vírus, o crescimento na China e no resto do mundo seria afetado. Obviamente que todos esperamos uma recuperação rápida, mas, dada a incerteza, seria prudente prepararmo-nos para cenários mais adversos", disse a diretora-geral do FMI.
"Precisamos de trabalhar juntos para conter o Covid-19, especialmente se o surto se mostrar mais persistente e generalizado", disse.
O FMI "está pronto para ajudar", nomeadamente através do Fundo de Contenção e Ajuda em Catástrofes, para "fornecer subsídios para o alívio da dívida de membros mais pobres e vulneráveis".