A criação de zonas de contenção do alojamento local em Lisboa, no final de 2018, teve por efeito uma quebra de 20% no preço dos imóveis de habitação com duas divisões nos bairros sujeitos às restrições, com os preços da generalidade dos imóveis a descerem cerca dos 9%, afirma um estudo publicado pelo Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia..O estudo chega à conclusão que plataformas como o Airbnb não influem igualmente nos preços de todo o tipo de habitações. São os T2, mais suscetíveis ao arrendamento de curta duração, os imóveis cujo preço mais oscila de acordo com alterações à procura por proprietários inscritos na plataformas de alojamento local..A contenção na Baixa fez cair significativamente as vendas de habitações nas zonas da Madragoa, Bairro Alto, Bica, Príncipe Real, Santa Catarina, São Paulo, Boavista, Conde Barão, Alfama, Mouraria e Sé. A descida foi da ordem dos 20% nos meses imediatamente posteriores à entrada em vigor das primeiras limitações, um indicador de que a opção de usar a licença de arrendamento de curta duração é um factor importante na procura pelas casas destas áreas..Já os valores cobrados na plataforma Airbnb pelos gestores de alojamento local destas zonas não sofreram qualquer alteração significativa..O trabalho, dos economistas Susana Peralta, João Pereira dos Santos e Duarte Gonçalves, assume-se como um dos poucos estudos a analisar transversalmente os efeitos das proibições ao arrendamento de curta duração que têm vindo a ser impostas em capitais de forte procura turística até aqui. Compara evolução de registos, preços listados no Airbnb, transações e preços de imóveis nas zonas onde foram primeiro foram suspensas novas licenças para alojar turistas..Segundo os autores, o uso da plataforma Airbnb não explica toda a subida de preços do alojamento das grandes cidades, e que nos últimos três anos superou os 60% nas cidades de Lisboa e Porto. Mas, ainda assim, houve efeitos das restrições adotadas, embora limitados por longos períodos desde a discussão das medidas até à sua implementação..Desde a aprovação da lei que permitiu aos municípios impor zonas de contenção, em agosto de 2018, até à entrada em vigor das primeiras restrições no centro histórico de Lisboa, em novembro seguinte, os registo de alojamento local dispararam 31%, observa o estudo. Uma tendência que não se manteve em zonas limítrofes já depois das restrições em vigor. Para os autores do estudo, tal indica que o que os proprietários fizeram foi antecipar registos antes da entrada em vigor das limitações. Há "fortes provas de que o período de discussão prévio à implementação da lei foi longo o suficiente para mitigar a eficácia da proibição, pelo menos no curto prazo".."É importante ter cautela quanto a longos períodos de discussões antecipadas sobre regras de zonamento que criam direitos de arrendamento", aconselham..Apesar do impacto do alojamento local no mercado da habitação destas cidades, os autores defendem a criação de um conjunto de políticas mais lato do que as restrições à participação em plataformas como o Airbnb. "A explosão do turismo e do arrendamento de curta duração, apesar da importante, é apenas um dos factores por trás do crescimento acumulado de 68,2% nos preços do imobiliário na cidade de Lisboa entre 2016 e 2019"..O estudo, agora publicado, não olha ainda para os efeitos da pandemia no licenciamento do alojamento local, num momento em que o proprietários enfrentam uma redução de procura e são adotados incentivos à colocação dos imóveis no arrendamento convencional. O registo nacional de alojamento local conta atualmente cerca de 95 mil licenças em todo o país.