Vieram de Londres para a caça ao tesouro. Compraram um pedaço de terra em Trás-os-Montes a uma empresa australiana e começaram a escavar. Um ano e três milhões de euros depois, a empresa mineira britânica Savannah Resources acredita que encontrou o que procurava: lítio em quantidade suficiente para abrir uma mina e construir uma fábrica..Foi na Mina do Barroso, no município de Boticas, que a empresa de David Archer fez o achado. Em vez dos sete milhões de toneladas de espodumena de lítio estimados no início das escavações, os britânicos encontraram 14 milhões de toneladas. E admitem que os recursos podem chegar aos 20 milhões. "Fizemos cerca de 140 perfurações numa área de 12 mil metros. É provavelmente o maior progresso ao nível de escavações feito em Portugal recentemente", explica o CEO da Savannah Resources em entrevista ao DN/Dinheiro Vivo..Os próximos passos já estão a ser dados. A Savannah quer saber se o lítio descoberto em Trás-os-Montes tem potencial para ser explorado. Os britânicos encomendaram um estudo de viabilidade económica à consultora de engenharia Hatch e esperam ter resultados já no início de junho.."Estamos entusiasmados, o resultado parece promissor. Esperamos que os testes indiquem que é possível desenvolver uma mina. E se for, vamos conseguir produzir concentrado de espodumena de lítio, que depois é usado nas baterias dos carros elétricos", sublinha David Archer..Para isso, a Savannah Resources irá precisar de construir uma fábrica "nas imediações" da mina. Ao todo, o investimento dos britânicos na região do norte pode chegar aos cem milhões de euros. "Seria muito bom para aquela região porque criaria emprego e estimularia o desenvolvimento económico do norte do país", afirma o CEO da Savannah. A decisão será tomada em 2019 e os trabalhos podem arrancar no ano seguinte..Dada a quantidade limitada do minério, a fábrica de espodumena de lítio teria uma vida útil a rondar os dez anos, detalha David Archer. Nada que impeça os britânicos de avançar com o projeto. O aumento dos preços do lítio nos últimos anos atirou o concentrado de espodumena para um valor a rondar os 800 dólares por tonelada. David Archer não sabe precisar o valor total do minério encontrado em Boticas, "porque das 14 toneladas que existem só poderemos explorar uma porção", mas estima que a fábrica portuguesa seria capaz de produzir 150 mil toneladas do material por ano.."É bom, Portugal tem muito potencial para ser o primeiro produtor de lítio da Europa, o que seria um importante apoio para a indústria automóvel europeia, que já parte atrasada em relação a outros países, como a China, mas prepara-se para apostar em grande nas baterias para carros elétricos nos próximos anos. A Volkswagen, por exemplo, acabou de anunciar que vai encomendar o equivalente a 48 mil milhões de dólares em baterias e componentes para veículos elétricos", salienta David Archer..O CEO da Savannah não quer, no entanto, alimentar muitas expectativas em torno da "febre do lítio" que tomou conta do país. "Portugal parte muito atrasado em relação a outros países onde o lítio já é explorado há anos, como a Austrália ou vários países da América do Sul. Há muita concorrência, até na Europa. Em países como a Finlândia, a Eslováquia ou a Áustria, o potencial do minério também está a ser estudado. Parece que há um sentimento geral de que isto vai ser muito fácil e muito rentável, mas não é bem assim. Será muito desafiante e competitivo", garante David Archer..Para avançar com abertura da mina e a construção da fábrica em Boticas, a Savannah vai precisar de autorização do governo. A atual licença dos britânicos prevê apenas a exploração de sete milhões de toneladas de lítio, feldspato e quartzo. Os direitos de prospeção da empresa mineira são válidos até 2036..Contactado pelo DN/Dinheiro Vivo, o secretário de Estado da Energia disse desconhecer a situação da Savannah. Jorge Seguro Sanches destacou, no entanto, que ao Ministério "parece bem que qualquer um destes investidores que estão na área estejam a fazê-lo de acordo com uma estratégia industrial"..O governo prepara-se para lançar ainda neste ano os concursos públicos que vão definir quem poderá explorar as zonas ricas em lítio que ainda não estão concessionadas. "Estamos a trabalhar no caderno de encargos. Queremos que este concurso faça que outros setores, não apenas o mineiro, olhem para Portugal como um país onde é possível desenvolver uma fileira no setor da energia. Queremos um setor industrial forte nesta área", conclui o governante..*Com Bárbara Silva