Adolfo Domínguez. Guerra de família ameaça fazer ruir império da moda

Vendas estão em queda, devido em grande parte à concorrência agressiva da dona da Purificación García e da Bimba y Lola, duas empresas geridas pelos irmãos e sobrinhas do designer galego. Vai haver mudanças na gestão
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Foi a primeira marca de moda espanhola a ganhar dimensão internacional, ainda na década de 80. O sucesso era tanto que chegou a vestir os protagonistas do êxito televisivo Miami Vice. Hoje, a Adolfo Domínguez atravessa o pior momento da sua história, com uma dívida cada vez maior e as vendas a caírem consecutivamente. O que aconteceu? A crise económica e consequente queda do poder de compra das famílias da classe média-alta, a má gestão e o elevado endividamento explicam parte do problema. Mas há um fator bem pior: a enorme concorrência de uma família "desleal".

A história é contada pelo jornal espanhol El Mundo, que recua até 2010 para explicar o declínio da empresa. Nesse ano, Adolfo Domínguez, o estilista que dá o nome à marca, enfureceu a esfera pública quando defendeu uma maior flexibilização do mercado de trabalho através do "despedimento livre". A partir daí, a imprensa espanhola começou a desenterrar os podres: milhares de euros em subvenções pedidas ao Estado espanhol, dívidas de milhões às Finanças e à Segurança Social, assim como à banca. Só aos bancos, a empresa devia, em 2015, mais de 25 milhões de euros.

Resultado: nestes seis anos, a Adolfo Domínguez, cotada na Bolsa de Madrid, perdeu 70% da sua capitalização bolsista e teve o pior ano em 2014, quando reportou prejuízos de dez milhões de euros e teve de pôr em marcha um plano de reestruturação para "adaptar a sua estrutura ao volume de negócios".

[destaque:Nos últimos seis anos, a Adolfo Domínguez perdeu 70% do seu valor em Bolsa]

Este plano incluiu a venda de algumas das sedes mais emblemáticas, o encerramento das 27 lojas menos rentáveis e ainda a redução de 11% no número de postos de trabalho. Apesar de já ter encerrado 2015 com lucros superiores a sete milhões de euros, a conhecida empresa de moda espanhola voltou às perdas - no primeiro trimestre fiscal deste ano, somou prejuízos de quatro milhões e as vendas baixaram 13%.

O aparecimento de marcas como a Zara e a Mango, mais baratas, não ajudou a melhorar o cenário. "Mas foi em casa que Adolfo Domínguez encontrou o pior inimigo", diz ao El Mundo uma fonte próxima da empresa, referindo-se à Sociedad Textil Lonia, dona da Purificación García e da Carolina Herrera, e à Bimba y Lola, ambas geridas por irmãos e sobrinhas de Domínguez. "São as marcas que fizeram mais danos à Adolfo Domínguez, pois dirigem-se ao mesmo público", sublinha a mesma fonte.

A debandada familiar começou em 1997, quando os irmãos Francisco, Josefina e Jesús Domínguez decidiram, com o dinheiro arrecadado pela entrada da Adolfo Domínguez em Bolsa, fundar a sua própria empresa, a Sociedad Textil Lonia, hoje o sétimo grupo de moda espanhol em volume de vendas. As filhas de Jesús - María e Uxía Domínguez - formaram-se na empresa, até decidirem, também elas, sair para fundar a sua marca, a Bimba y Lola, que chegou a ser a empresa de moda de maior crescimento em Espanha.

O golpe mais doloroso para o estilista terá sido quando, em 2014, a Puig, que detém 14,8% do capital da Adolfo Domínguez, comprou 25% da Sociedade Textil Lonia, avaliando a empresa dos três irmãos em 500 milhões de euros. A Adolfo Domínguez vale hoje pouco mais de 31,5 milhões de euros em Bolsa.

Replicando ou não o modelo que fez a Adolfo Domínguez subir à ribalta na década de 80, a verdade é que as empresas dos irmãos e sobrinhas do estilista estão hoje muito melhor do que a pioneira. Em 2015, a Lonia faturou 306 milhões de euros, o triplo das vendas da Adolfo Domínguez, enquanto a Bimba y Lola, fundada há dez anos, faturou 115 milhões, quase o mesmo que a marca do tio Adolfo.

"Não se faz caixa para pagar todos os empréstimos e há o risco de falência. A empresa vale apenas 30 milhões na Bolsa. É muito vulnerável, qualquer um a pode comprar. Hoje, a Adolfo Domínguez já não faz sentido como marca independente. Vendeu as joias da coroa e perdeu posicionamento no mercado", advertem os analistas.

Uma coisa é certa: nos próximos dias haverá alterações à gestão da empresa. "Os acionistas exigem alterações e poderão exigir a Domínguez que ceda a gestão." A Adolfo Domínguez recrutou nesta semana antigos executivos da Inditex (dona da Zara) para o seu conselho de administração e esta nova equipa "vai traçar os planos nos próximos anos para adequar a sua atividade".

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