MP não deu como provado o envolvimento de Bruno de Carvalho no ataque à Academia
Para o Ministério Público (MP) não ficou provado que "os comentários de Bruno de Carvalho tenham incitado à violência" e dado origem ao ataque à Academia do Sporting, em Alcochete, no dia 15 de maio de 2018.
Segundo o MP "a frase 'façam o que quiserem' seria sobre entoar de cânticos e tarjas" e "não se conclui que tenha ligação ou tenha dado instruções [para invasão e agressões]", acrescentou o delegado do MP nas alegações finais do julgamento do caso.
De acordo com partes do despacho de acusação do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, Bruno de Carvalho está acusado de 40 crimes de ameaça agravada, 19 de ofensa à integridade física qualificada, 38 de sequestro, um de detenção de arma proibida e crimes que são classificados como terrorismo, não quantificados.
O MP apresentou o mesmo parecer relativamente a Nuno Mendes (Mustafá, líder da Juve Leo) e a Bruno Jacinto, oficial de ligação aos adeptos na altura.
Também não ficou provado o crime de terrorismo. O MP propõe que os 41 arguidos que entraram na Academia sejam acusados de crime de introdução em lugar vedado, por ofensa de integridade física e crimes de ameaça agravada.
O Ministério Público, entretanto, propôs uma pena única que não exceda os cinco anos - prisão efetiva para os arguidos que têm antecedentes criminais e suspensa para quem não tem.
Bruno de Carvalho recorreu às redes sociais para reagir ao pedido de absolvição do Ministério, lembrando que "falta a decisão do coletivo de juízas". "Hoje recuperei um pouco da minha crença na Justiça", escreveu o ex-presidente do Sporting no Instagram.
"Hoje foi apenas mais uma etapa neste longo e árduo processo. Falta a decisão do coletivo de juízas. Mas se sempre me revoltei perante a postura de Cândida Vilar, hoje tenho de enaltecer a postura de uma Mulher com letra grande: a Senhora Procuradora Fernanda Matias. Clara, objetiva, honesta e apenas movida pela vontade de fazer Justiça! Hoje recuperei um pouco da minha crença na Justiça. O pedido de absolvição, por parte do MP, foi, para mim, uma notícia merecida e que dedico à minha companheira, às minhas filhas e pais, aos meus advogados (em especial ao Miguel) e às pessoas que sempre lutaram pela crença na minha inocência e pela reposição da verdade. Ainda nada está ganho mas esta sensação de início de justiça tinha de ser partilhada com todos! Seguimos juntos!", escreveu Bruno de Carvalho.
"Não sei qual foi a novidade, para quem assistiu desde o início ao julgamento. O sentimento é de tristeza, porque foram nove meses [de prisão preventiva]. Não mudou tudo hoje, mas estou em liberdade graças a este senhor", afirmou Nuno Mendes (conhecido por Mustafá), o líder da claque Juventude Leonina, apontando para o seu advogado, Rocha Quintal.
De acordo com o representante de Mustafá, o MP foi "intelectualmente honesto na avaliação" do julgamento, embora tenha recusado nomear "como uma vitória" a indicação da procuradora Fernanda Matias.
"Não é uma vitória, é a reposição da justiça. A fase nobre foi a de julgamento, onde foi produzida a prova e toda a verdade que envolveram estes factos. Relativamente ao Nuno Mendes, não tenho a menor dúvida que foi injustiçado", afirmou, recusando pronunciar-se sobre um eventual pedido de indemnização.
Já o ex-oficial de ligação aos adeptos Bruno Jacinto, assumiu ter saído emocionado da sessão desta manhã e garantiu que o seu "amor ao Sporting é inquestionável" e que nunca falhou para com o clube.
"É claro que é uma vitória. Ainda não é a vitória final, porque ainda não houve sentença, mas ouvir as palavras que ouvi da procuradora tirou-me um grande peso. Sempre estive de consciência tranquila no processo todo, mas não estava dependente de mim. Ouvir a procuradora dizer que estou absolvido de todos os crimes de que estou acusado é formidável", frisou.
No entanto, Bruno Jacinto não deixou de se queixar de que este processo "mudou quase tudo" na sua vida, nomeadamente os "17 meses" em que se viu privado da liberdade, concluindo com a manifestação de "esperança" de que o coletivo de juízes acate o pedido do MP.
Nuno Mendes e Bruno Jacinto, juntamente com o ex-presidente do Sporting Bruno de Carvalho, estavam acusados da autoria moral de 40 crimes de ameaça gravada, 19 crimes de ofensas à integridade física qualificadas e por 38 crimes de sequestro.
O processo do ataque à Academia do clube, em Alcochete - onde, em 15 de maio de 2018, jogadores e equipa técnica do Sporting foram agredidos por adeptos ligados à claque 'leonina' Juve Leo -, tem 44 arguidos, acusados de coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.