"Houve aluguer de autocarros para os sócios antigos votarem na minha expulsão"
Bruno de Carvalho confirmou que não vai marcar presença na Assembleia Geral deste sábado, na qual se decide a sua expulsão e a de Alexandre Godinho como sócios do Sporting, acusando os órgãos sociais leoninos de terem preparado quatro medidas "anti-Bruno".
"A primeira medida é que a Assembleia Geral é ilegal. A segunda é que não existe controlo nem supervisão da votação. A terceira é que houve aluguer de autocarros e carrinhas para que os sócios antigos vão votar. Se estas três medidas falharem, existe um novo processo de expulsão a decorrer devido à invasão da Academia. Se não formos expulsos, está preparada mais uma palhaçada", atirou o ex-líder do emblema verde e branco.
"Não vou. Não vou dar validade a algo profundamente ilegal, porque primeiro haverá votação e só depois a discussão, o que viola a lei e o regulamento da Assembleia Geral", acrescentou, numa conferência de imprensa numa unidade hoteleira em Lisboa. "Votar amanhã não é por mim, é pelo Sporting Clube de Portugal. Querem-me expulsar? Expulsem-me. Espero que um dia acordem antes que seja tarde demais. Votos para que o Sporting se una e saia desta inércia em que vive atualmente", aditou.
Antes de responder às perguntas dos jornalistas, Bruno de Carvalho agradeceu a todos os que o acompanharem desde 2011, quando se candidatou pela primeira vez à presidência da direção do clube, recordou os seus mandatos e deixou críticas à atual direção. "Sinto vergonha por esta massa associativa me ter destituído para eleger esta direção. Sinto vergonha por este presidente. É uma vergonha depois de um mandato de vitórias. É uma vergonha o que se passa no clube atualmente", disparou, desvalorizando as conquistas da Taça da Liga e da Taça de Portugal em 2018-19: "Para mim ganhar taças não é suficiente. O nosso desígnio é sermos campeões."
"Sabia o risco que corria, tanto que alertei sempre os sportinguistas, que como presidente tinha sido obrigado a uma fazer escolha: entre os interesses ou ficar ao lado dos sportinguistas. A minha decisão foi para a segunda opção, o que teve consequências terríveis para a minha vida pessoal. Sabia que quando me virassem as costas me iriam matar. Mas o sistema conseguiu apanhar-me. Avisei-vos, pedi-vos o apoio, porque eram vocês a minha rede de segurança. Onde estiveram neste ano, onde fui atacado diariamente pelos altos poderes deste país, um dos mais corruptos da Europa. Fui atacado por todos e julgado por todos", prosseguiu o antigo presidente.
"Hoje, olhando de fora, sinto-me desiludido, frustrado e indignado. O clube voltou a perder a sua identidade. Desinveste nas modalidades, não investe nos seus atletas, tem dirigentes que mentem compulsivamente, enganam e manipulam sócios. Consideram-se acima da lei e dos estatutos. E dizem-no com toda a arrogância! Um clube que não respeita os seus sócios e adeptos. Expulsaram-me por não ter cumprido os estatutos uma vez. Eles fazem o que querem e todos permitem", acusou.
"Sinto vergonha por esta massa associativa me ter destituído para ter esta direção. Sinto vergonha do atual presidente e órgãos sociais. Sinto vergonha da inércia desta massa associativa, que diz estar desagradada mas nada faz. E estou a um dia de ser expulso de sócio, daquele que foi o grande amor da minha vida. É uma vergonha o que se está a passar no clube. Já passou um ano e é uma vergonha ver a inércia de todos vós", concluiu.
Em pouco mais de um ano, o antigo líder do clube de Alvalade, que dirigiu os leões entre 2013 e 2018, passou de um dos presidentes mais votados pelos sócios ao primeiro a ser destituído nos 113 anos de história do Sporting. A 23 de junho de 2018, 71,36% dos votos confirmaram o afastamento, abrindo caminho a uma Comissão de Gestão liderada por Artur Torres Pereira e à entrada de Sousa Cintra para a presidência da SAD.
Depois, Bruno de Carvalho, de 47 anos, tentou concorrer às eleições de 8 de setembro, que viriam a eleger Frederico Varandas para a presidência. No entanto, a candidatura foi inviabilizada pela suspensão de um ano decretada a 2 de agosto pela Comissão de Fiscalização do clube, decorrente do processo disciplinar que lhe havia sido instaurado.
Seguiu-se uma verdadeira batalha jurídica e mediática, travada com providências cautelares e anúncios de supostos pedidos de impugnação, mas sem alterar o rumo dos acontecimentos definidos a partir de 23 de junho de 2018. Ato contínuo, numa nova AG, realizada posteriormente em 15 de dezembro, os sócios decidiram manter a suspensão de um ano do ex-presidente, numa votação com 68,55% de votos a favor e 30,88% contra.