Daniel, o Jorge Jesus do Sertão

Treinador português fez história ao fazer do modesto Salgueiro o primeiro clube do interior a ser campeão em 105 anos de Campeonato Pernambucano
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É português, técnico de futebol, treinou o Flamengo, levantou troféu e entrou para a história do futebol no Brasil. Se o nome que lhe vem à cabeça é o de Jorge Jesus, saiba que o personagem em questão é Daniel Neri, 41 anos, campeão do estado de Pernambuco pelo modesto Salgueiro, feito histórico, pois é a primeira vez que uma equipa do interior se sagra campeã em 105 anos de competição, deixando para trás os "grandes" Sport Recife, Náutico e Santa Cruz.

O Salgueiro é a terceira equipa treinada por Daniel Neri desde a chegada ao Brasil, em 2013. Passou ainda pelo Flamengo, não o carioca, mas o modesto Flamengo de Arcoverde, também no estado nordestino. Curiosamente, ao contrário do patrício famoso, o "Jesus do Sertão" já comandou o Porto, só que o de Caruaru, outro município pernambucano.

Diferente dos rivais, acostumados a frequentarem a Série A, o Salgueiro está na quarta divisão, o que valoriza ainda mais a conquista da última quarta-feira (5), quando os comandados de Neri bateram o Santa Cruz, na decisão por penalidades. O feito provocou um furor na cidade que empresta o nome ao clube, a cerca de 500 quilômetros da capital Recife, encravada no Sertão, região árida, quente e de paisagens desérticas. "Desculpe-me se embaralhar as palavras, porém ainda não tive tempo de dormir", revelou o treinador campeão, 24 horas depois da conquista.



Apesar da noite em claro, com direito a desfile pelas ruas de Salgueiro, Daniel Neri já faz planos para a "dobradinha" na época, agora pela Série D, com início em setembro. "Essa conquista representa uma melhora considerável da receita", comemora. O título pernambucano já rendeu cerca de 150 mil euros ao Salgueiro, o suficiente para cobrir aproximadamente cinco meses do modesto orçamento do clube. Uma situação financeira que deve ficar ainda melhor.

O título pernambucano dá acesso à Copa Nordeste 2021, que reúne as melhores equipas dos nove estados nordestinos. A participação na fase de grupos já garantiu ao Salgueiro 300 mil euros e a conquista do título pode pagar até três vezes mais. Não à toa, a competição ganhou a alcunha de "Lampions League", uma referência à milionária Champions e ainda uma homenagem a Lampião, o mítico anti-herói do início do século passado e que, no comando dos "cangaceiros", aterrorizou o Sertão.

A conquista também promete unir os nomes fortes do clube, como o do ex-presidente Clebel Cordeiro. Atualmente afastado para cumprir o mandato de presidente da Câmara, foi Clebel quem transformou a equipa amadora fundada em 1972 num emblema profissional, em 2005, pagando os salários dos jogadores e comissão técnica com dinheiro proveniente de sua rede de casas funerárias.

Antes da Série D, Daniel Neri vai tirar umas curtas férias em Portugal, para matar saudade dos familiares que estão em Amarante, onde passou o período de confinamento pelo covid-19, entre março e abril. Valorizado pelo título, há perigo de não voltar ao Brasil?ng> "Já tive propostas, mas só ficaria se fosse para treinar na I Liga e não tenho as licenças da UEFA. Não porque não queira, mas pelo desrespeito da Federação Portuguesa com os profissionais, ao abrir poucas vagas para as centenas de interessados", diz.



Apesar de evitar comparações, o campeão de Pernambuco Daniel Neri avalia o seu trabalho tão bom como o do também campeão estadual, no Rio de Janeiro, Jorge Jesus. "Não é melhor, nem pior. O dele tem apenas maior dimensão, pois o Flamengo é mais conhecido do que o Salgueiro." ong>

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