Bolas e balizas desinfetadas, silêncio nas bancadas, beijos e abraços. Assim foi o regresso do futebol

Portimonense e Gil Vicente deram o pontapé de saída no regresso da I Liga. Jogo da 25.ª jornada com um triunfo algarvio (1-0), mas o resultado foi o menos impactante, num jogo à porta fechada.
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Ver um funcionário do Portimonense subir a uma cadeira de borrifador e pano na mão junto para desinfetar uma baliza é uma imagem estranha e poderosa, que exemplifica os tempos de pandemia que marcam o regresso do futebol aos relvados. As bolas também não escaparam à borrifadela antes de começarem a rolar, após 82 dias de paragem, no Portimonense-Gil Vicente.

Sem o apoio vindo das bancadas o jogo desta tarde começou com um minuto de silêncio pelas vítimas mortais (1447 até esta quarta-feira). O encontro da retoma foi num Portimão Estádio com adeptos virtuais e silenciosamente estampados nas lonas gigantes que cobriam as bancadas. Um silêncio de tal forma ensurdecedor que o apito do árbitro Hugo Miguel a dar início ao jogo ecoou pelo recinto. Durante o jogo até deu para ouvir as indicações dos treinadores e as mensagens trocadas entre jogadores.

Em campo uma equipa aflita, o Portimonense, no penúltimo lugar, e um tranquilo Gil Vicente no nono posto. E só a aflição (e a alegria pelo golo) dos algarvios justifica os festejos eufóricos após o golo de Lucas Fernandes já no segundo tempo, que valeria os três pontos à equipa de Paulo Sérgio. Um golaço que fez os atletas esquecer que não se podiam beijar, tocar, abraçar. E houve um pouco de tudo isso a fazer lembrar o velho futebol de há três meses. O código de Conduta da Direção Geral da Saúde recomendava distanciamento social, mas logo no primeiro jogo da retoma ficou evidente como é difícil aos jogadores conter as emoções durante o jogo.

Parece incrível, mas estes dois emblemas nunca coincidiram no primeiro escalão do futebol português até esta época. Os dois clubes encontraram-se pela primeira vez na I Liga a 26 de outubro de 2019, na jornada 8 do campeonato. Na altura a equipa de António Folha (entretanto deu lugar a Paulo Sérgio) foi a Barcelos empatar (1-1) com a turma de Vítor Oliveira. Agora o jogo pendeu para o Portimonense, que nos 21 embates com os gilistas venceu oito, perdeu cinco e empatou 8 em 86 anos de convivência.

O clube que nasceu num sapateiro em 1914 (Portimonense) e o que nasceu em 1914 e deve o nome a um dramaturgo (Gil Vicente) ficaram assim na história do futebol português, naquele que foi o primeiro duelo da I Liga após paragem forçada devido a uma pandemia que fez o mundo refém.

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