Há falta de campos relvados em Lisboa? Já é um problema?Sim, não há relvados naturais suficientes para tantos jogadores e tantas equipas. Estamos a crescer de forma exponencial. A Associação de Futebol de Lisboa (AFL) tem seis clubes na I Liga, há 73 anos que não acontecia. Os clubes estão a trabalhar bem, mas depois acabam por se deparar com dificuldades, também ao nível das infraestruturas. O 1º de Dezembro, de Sintra, que joga na Liga 3, chegou a ir jogar a Ponte de Sôr, no campo do Eléctrico Futebol Clube, quase a 150 quilómetros... E é um problema da região de Lisboa ou do futebol nacional? Nas reuniões com a Federação Portuguesa de Futebol (FPF), sentimos que é um problema transversal às 22 associações nacionais. Há cada vez mais procura de campos relvados, mesmo sem as dimensões regulamentares. Na AFL temos 254 clubes filiados, alguns com oito escalões de formação, mais sub-23, equipa B e principal. Alguns clubes fazem autênticos milagres a acolher tantos miúdos e diminuir a prática do futebol não é solução.A que se deve a falta de campos? Ou porque se agravou?Há uns anos os municípios, para ajudar as equipas, seguiram uma diretiva da UEFA e investiram em campos para relva sintética, mas, agora, há uma nova diretiva europeia, que obrigada a elite a jogar e treinar em relva natural, porque a releva sintética não é saudável nem ecológica. Os municípios andaram a fazer um esforço tremendo para ter sintéticos que não podem receber jogos até ao 4.º escalão, o Campeonato de Portugal. E vai piorar...Porquê?Porque se pretende que haja um aumento do futebol feminino. Na AFL já incentivamos as equipas a terem mais raparigas a jogar, mais equipas a competir e muitas vezes até facultamos as inscrições e têm logo uma redução de custos, mas uma equipa que suba à Liga BPI deixa de poder competir no seu campo e precisa de opções... agravando o problema. Então, o crescimento do número de praticantes não está a ser sustentado ao nível das infraestruturas?Não está a acompanhar e, como disse antes, diminuir a prática desportiva não é solução. O desporto ajuda os miúdos a saírem ou a desviarem-se de comportamentos desviantes e até aditivos, mas o futebol evoluiu. Agora temos Traquinas, Petizes e Benjamins antes da formação, que começa nos Iniciados, e têm juvenis e juniores. Tenho andado a visitar clubes e vejo que têm quatro equipas a treinar ao mesmo tempo. Dividem o campo em quatro para poderem ter os miúdos todos a fazer exercício e só uma vez por semana é que utilizam meio campo e jogam no campo inteiro. E como se resolve o problema?Em conjunto com a Federação e a Liga Portugal porque é um problema que afeta até os clubes que têm academias com 9/10 campos. No ano passado, houve um apoio do Fundo Crescer 2024, dado pela Federação. No caso da AFL, foi de cerca de um milhão de euros, para que os clubes pudessem melhorar, não só os campos relvados, como também as suas infraestruturas, porque muitas vezes, temos uma relva bonita, mas depois o posto médico e os balneários acabam por não ter condições. O apoio devia ser reforçado?Sim, e envolver o Estado. Em termos populacionais, Portugal é um exemplo, um país pequeno, que tem dos melhores jogadores e treinadores do mundo e precisamos que o Estado dê condições para que se continue a trabalhar nesse sentido. E não só no futebol, também no futsal, os pavilhões já estão superlotados. Sem os pavilhões municipais e os pavilhões das escolas, que são cedidos aos clubes, para poderem fazer a sua prática desportiva, não era possível organizar provas. Precisamos de campos e precisamos de pavilhões para que os miúdos possam jogar. A Vila do Futebol é solução?Esperamos que sim. Neste momento também alugamos instalações. Precisamos de ter um espaço para os treinos e para as competições das seleções distritais e regionais. A AFL celebrou um contrato com a Câmara Municipal de Mafra, que disponibilizou 10 hectares para a construção da Vila do Futebol, um complexo com cinco relvados, dois de relva natural. Apesar do projeto estar numa fase muito adiantada ainda não temos uma data para o início das obras, que se esperam terminadas em 2029, ainda a tempo da Vila do Futebol poder servir as seleções do Mundial2030..Falta de campos em Portugal. Clubes pagam até 900 euros por treino em relvado alheio