Numa longa entrevista à TVI e CNN Portugal, Rui Costa admitiu que "as contas de Luís Filipe Vieira eram melhores" e explicou o que levou à saída de Bruno Lage.Sobre as contas, justificou-se com "indicadores muito claros". "Tomei posse saídos do covid-19, o Benfica não cortou salários apesar de não ter receitas e a subida da dívida está relacionada com isso; e no ano seguinte ao título [de 2022-23] investimos no futebol, de forma controlada, e continuamos com capitais próprios superiores aos capitais sociais", afirmou, garantindo que os encarnados têm "cumprido, na íntegra, com toda a gente"."Benfica nunca falhou com um compromisso. No último empréstimo obrigacionista, teve 140% de procura", salientou, frisando que, quando entrou para a presidência, "tinha 60 jogadores na falha salarial, 13 dos quais acima dos 30 anos", e que hoje só há 26 atletas na folha salarial."Benfica não voltou a ter problemas com a justiça"O antigo futebolista reconheceu que "estava impreparado" no dia em que tomou posse interinamente, mas que aceitou o cargo "porque sentia que tinha capacidades para o fazer". Nunca mais falou com Luís Filipe Vieira e, questionado sobre as críticas que o antigo presidente lhe fez, recusou "lavar roupa suja"."Tenho a consciência tranquila. Um dos pilares do meu mandato foi devolver a credibilidade do Benfica. O Benfica não voltou a ter problemas com a justiça", acrescentou Rui Costa, que garantiu que Mourinho não é um trunfo eleitoral. "Não tinha contratado Mourinho antes"Acerca do momento da equipa principal de futebol, explicou que o Mundial de Clubes retirou a "possibilidade de dar férias aos jogadores e fazer pré-época", pelo que já sabia, de "antemão", que iriam surgir dificuldades."Mourinho entrou há uma semana, ainda não teve tempo para trabalhar a equipa. O problema da equipa é físico e emocional. Temos de dar a volta, a época é longa", prosseguiu, justificando a saída de Bruno Lage com o "desgaste" que se foi criando entre treinador e estrutura, mas rejeita a ideia de que o diretor geral Mário Branco "fez a cama" ao técnico."Falar de Bruno Lage é uma dificuldade para mim, pela relação que tenho com ele. Eu não tinha contratado Mourinho antes. Não tive nenhum indício de uma relação inquinada entre o diretor geral [Mário Branco] e o treinador [Bruno Lage]. A minha relação com Bruno Lage é excelente", afirmou, explicando que "Bruno Lage abdicou do contrato que tinha até final da época, querendo receber até ao último dia em que esteve à frente da equipa do Benfica". "Tem uma grande qualidade humana e um grande benfiquismo. Somos dois amigos que tivemos de separar as águas", acrescentou..Benfica garante que Bruno Lage sempre contou com apoio e solidariedade das estruturas do clube. "Foi-se criando um desgaste e creio que Bruno Lage o percebeu. A derrota com o Qarabag é muito pesada, vindo de um empate com o Santa Clara... tenho muita pena. Custa, doeu-me, mas tive de pensar no Benfica", continuou, referindo-se ao episódio entre o treinador e Kokçu no Mundial de Clubes como uma "situação pontual". Sobre a relação entre Lage e os atletas, assegurou não ter "jogadores maldosos que querem mandar o treinador embora".Sem querer entrar em detalhes sobre o salário de José Mourinho, adiantou que "não está acima do de Roger Schmidt" e, questionado diretamente se se tratam de três milhões de euros limpos na primeira temporada e quatro milhões limpos na segunda, reconheceu que "anda à volta disso". Rui Costa frisou que "um treinador desta envergadura paga-se", mas que é "o salário mais baixo que José Mourinho tem desde que saiu de Portugal". "A vontade que teve em vir para o Benfica faz-me pensar que é o treinador ideal. Respeitou o momento atual do Benfica", vincou, admitindo que, com o special one, tem o sonho de atingir pelo menos as meias-finais da Liga dos Campeões..José Mourinho promete “viver para o Benfica” até 2027. "Não foi com o Rui Costa que o Benfica deixou de ganhar"Alargando o quadro do desempenho da equipa aos quatro anos do seu mandato, nos quais só foi conquistado um título nacional, o presidente das águias lembrou que "o Benfica vinha de três anos em que só tinha ganhado uma Supertaça, não foi com o Rui Costa que deixou de ganhar". Porém, assumiu a responsabilidade: "A responsabilidade é sempre minha, é sempre do presidente do Benfica. Não há poções mágicas, há muito trabalho a fazer""Nunca deixámos de ser competitivos. No ano passado estivemos nas decisões todas até ao fim e no meu mandato fizemos se calhar o melhor ciclo europeu de sempre", prosseguiu, referindo-se ao atual plantel como "equilibrado". "O próprio Bruno Lage disse que tinha construído o plantel com a estrutura e estava satisfeito", aditou."Um dos perfis que procurámos este ano foi ter um meio-campo mais compacto e musculado. Estamos a falar de um internacional colombiano e outro que vai ser chamado agora à seleção argentina. Procuramos escolher um jogador universal que dê para campeonato e Liga dos Campeões", explanou. Rui Costa falou ainda sobre a não contratação de João Félix, explicando que "é impossível concorrer com clubes árabes", e a transferência de João Neves para o Paris Saint-Germain há um ano: "O Benfica necessita todos os anos de fazer vendas. Todos os clubes portugueses precisam. Quem disser o contrário é falso. O Benfica fez tudo para ficar com o João Neves até ser incomportável. Já vai em 66 milhões de euros e estou convencido que vai chegar aos 70.""Excelente" chefe de gabinete "não é um presidente sombra"Rui Costa garantiu ser um "presidente líder", e não "um dono", e rejeitou a ideia de que é o seu chefe de gabinete, Nuno Costa, quem dita leis no Benfica. "O meu chefe de gabinete faz um trabalho excelente enquanto chefe de gabinete do Benfica. Não é um presidente sombra. Na administração do Benfica, o único que se mantém do passado sou eu", vincou, explicando que as demissões nos órgãos sociais foram por motivos diferentes: "As demissões que houve no Benfica não foram pelas mesmas razões. Noronha Lopes, quando esteve no Benfica, esteve 58 dias."O antigo internacional português referiu-se ainda ao presidente da Federação Portuguesa de Futebol, explicando que o "Benfica não apoiou a pessoa Pedro Proença, mas sim o projeto de Pedro Proença", que considerava ter "o melhor projeto para o futebol português, entre as várias candidaturas".Acerca dos direitos televisivos, diz tratar-se de "uma questão relevante para o país inteiro e para o mundo do futebol". "Consideramos que uma melhoria dos direitos televisivos seria benéfica para toda a gente, mas as promessas iniciais de que todos os clubes iriam lucrar estão longe da verdade. Já temos duas propostas e o Benfica não vai abdicar em nada daquilo que são os seus direitos, até porque consideramos que sozinhos conseguimos mais do que no seu conjunto", concluiu.As eleições dos órgãos sociais do Benfica para o quadriénio 2025-2029 estão marcadas para 25 de outubro, sendo já conhecidos sete candidatos, que terão de oficializar as respetivas listas até 10 de outubro.Rui Costa, atual presidente, Luís Filipe Vieira, que presidiu o clube entre outubro de 2003 e junho de 2021, João Noronha Lopes, João Diogo Manteigas, Cristóvão Carvalho, Martim Mayer e Paulo Parreira são os candidatos à liderança do clube lisboeta.No escrutínio de há quatro anos, Rui Costa foi eleito presidente do Benfica com 84,48% dos votos, contra os 12,24% de Francisco Benítez, no ato eleitoral mais concorrido da história do clube benfiquista, com 40.085 votantes..Eleições do Benfica terão 80 mesas de voto no continente, três nas regiões autónomas e 25 no estrangeiro