Quem é a gestora que marca o regresso das mulheres portuguesas ao Dakar?
O todo-o-terreno “é um escape” para Maria Luís Gameiro, que se confessa “uma mulher que gosta de desafios” e por isso decidiu participar no Rali Dakar, que hoje começa na Arábia Saudita. Natural de Vila de Rei (Castelo Branco) e residente em Cascais, a gestora de empresas tem tantos anos de vida como a mítica prova todo-o-terreno (46), que não tinha uma mulher portuguesa inscrita desde o adeus de Elisabete Jacinto (2009).
Confessando que “o objetivo é chegar ao final”, a piloto terá como navegador José Marques, que também navegou para Elisabete Jacinto, e espera “ter um desempenho bom o suficiente para poder regressar no próximo ano na categoria T1+ [a principal]”.
Sem tradição familiar no desporto automóvel, a primeira vez que teve contacto com esse meio foi quando tirou a carta de condução. O pai “detestava conduzir” e entregou-lhe a tarefa de guiar o carro da família, um Opel Vectra, muito diferente do Mini All4Racing, da X-Raid, que irá pilotar nas dunas sauditas.
Foi a assistir a corridas do marido, José Gameiro, que aos 76 anos é o mais velho piloto a competir no todo-o-terreno a nível mundial, que ela percebeu o quanto gostava da adrenalina do desporto motorizado. Ainda foi navegadora, mas enjoava no lugar do passageiro e passou para o volante. Em 2009, ano da última participação de Elisabete Jacinto no Dakar , na categoria camiões, participou na Baja de Portalegre, mas parou passado dois anos devido à falta de verbas.
Maria Luís compete no Campeonato de Portugal de Todo-o-Terreno desde 2022 e no campeonato espanhol desde 2023. Não demorou a mostrar que era mais do que uma mulher a tentar vingar num Mundo de homens. Venceu a Taça das Senhoras em Portugal e Espanha em 2023 e 2024, ano em que terminou o campeonato espanhol na terceira posição da geral. E podia ter feito melhor, mas preferiu “ir ao Rali de Marrocos para ter um primeiro contacto com as dunas, já a pensar no Dakar”.
Maria Luís fartou-se de ouvir que podia participar no Dakar... e começou a reunir patrocínios. Precisava de 300 mil euros e ainda teve de investir algum dinheiro do seu próprio bolso para se inscrever. “Havia muitas pilotos que me diziam para participar no Dakar. Em Portugal, não temos apoios para este tipo de corridas, mas puseram-me o bichinho. Uma equipa internacional fez-me um convite já em janeiro de 2024, mas apenas para um carro com duas rodas motrizes. Sempre corri com quatro rodas motrizes e para uma primeira vez seria complicado. Só que fiquei com o bichinho. A equipa começou a mexer-se junto de alguns patrocinadores e nós prescindimos de algumas corridas para conseguir amealhar para este projeto”, explicou à Lusa.
Licenciada em Economia e empreendedora por natureza - criou, em Cascais, o primeiro centro hiperbárico privado de Portugal (terapia que recorre à inalação de oxigénio puro) -, a empresária será o rosto do regresso das mulheres portuguesas à mais mediática prova de todo-o-terreno.
Teresa Cupertino de Miranda foi pioneira em 1992, sendo depois seguida por Joana Lemos, nas motas (1995 a 2005) e nos carros (2006, com Margarida Pinto Correia como navegadora). E ainda por Céu Pires de Lima, nos automóveis (de 1997 a 2006) e Elisabete Jacinto, nos camiões (1998 a 2009). Este ano é a vez de Maria Luís Gameiro, que irá competir ao volante de um Mini All4Racing, da X-Raid, um veículo ligeiro (SSV), pintado de cor-de-rosa choque para chamar a atenção para a prevenção do cancro da mama. Por isso vai doar à Liga Portuguesa Contra o Cancro um euro por cada quilómetro percorrido na prova. O Dakar 2025 disputa-se por inteiro na Arábia Saudita e termina a 17 de janeiro.